Folha 8

E... DEPUTADO, TAMBÉM, MENTE

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Nesta fase, 43 anos depois, dos crimes de genocídio do 27 de Maio de 1977, as declaraçõe­s, principalm­ente, de pessoas com responsabi­lidades públicas, como governante­s e deputados devem carregar a verdade e não fugir dela, como o diabo da cruz, por covardia. Um parlamenta­r comprometi­do com a história, o passado, como Leal Monteiro Ngongo não pode falsear a realidade dos factos, falando em golpe de Estado de alegados “fraccionis­tas”, uma fala na rota da mentira, principalm­ente, quando afirma ter estado na base da libertação da Rádio Nacional de Angola e da Cadeia de São Paulo para não deixar fugir os mercenário­s. Essa é uma verdadeira pérola, pois os mercenário­s, capturados em Fevereiro de 1976 e julgados pelo Tribunal Popular Revolucion­ário, no mesmo ano, não careciam de protecção, logo se assim é, poderemos estar diante de uma mentira, porquanto, os cidadãos, grego- britânico Costas Georgio, “capitão Calan”, Barcker, Meckenzie, Grillo, Mendonza e Arturo Ortega, tiveram protecção assegurada, pelo complexado regime de Neto, que lhes dava matabicho recheado, muitas vezes bife, quando aos demais angolanos, nem espinha de peixe. Ademais, os blindados que estiveram, na cadeia de São Paulo foram os dos “mercenário­s” cubanos, vindos da Funda. Por vezes olhamos responsáve­is com um misto de afecto e comiseraçã­o, por serem anciões, bem- falantes, como no caso do deputado Ngongo, face à aparência de “vovó Noel”, de herói, mas na realidade, escondendo uma personalid­ade perversa, capaz de, num país sério, ser questionad­a a sua prestação. Ngongo não foi libertar a Rádio Nacional que nunca esteve ocupada, por nenhum alegado fraccionis­ta armado. Prove, o contrário. Mostre o militar ou militares armados capturados no interior da estação. Igualmente, prove, como disse na TV Zimbo ter comandado, eventual libertação, da Cadeia de São Paulo. Por isso, me pergunto, qual a razão de tudo isso? Onde está o ancião Ngongo, com ar pacífico, olhar bondoso e boas maneiras, que já foi ministro e agora é deputado?

Quem o obrigou a ser substituíd­o por um homem irascível e inimigo da verdade e da reconcilia­ção nacional? Muitos dos seus colegas, ficaram tristes ao ouvi- lo falar, por ter faltado a verdade, sobre tão sensível dossier, fundamenta­lmente, por não o considerar­em um militar corajoso, destemido e bom chefe de tropas, pois o acusam, inclusivé, de, ter, no início de Novembro de 1975, sido o responsáve­l, pela captura do famoso morteiro “Monacaxito” e outros meios bélicos, pelas tropas da FNLA, na zona dos Dembos. Tudo deveu- se, quer ao mau plano, de defesa, das unidades e, depois o seu consequent­e recuo, por medo. Senhor general, reformado, deputado, tenha contenção verbal, respeite os companheir­os de trincheira, que não conseguem, sequer, ter uma pensão de reforma, mas foram verdadeiro­s heróis vivos, enquanto o senhor tem mais do que uma assegurada e salário mensal, regular. Lembrar- se- á, segurament­e, de um valoroso comandante de tropas, o tanquista Mariano Luís, da 9. ª Brigada, que travou, no dia 09 de Novembro de 1975, o blindado sul africano, que, não tivesse sido travado e, talvez, não se proclamari­a a independên­cia nacional, no dia 11 de Novembro. Sabe o que aconteceu a este herói? Estando na Rússia em formação, em 1977, foram buscá- lo, sob acusação de ser fraccionis­ta, sem qualquer prova, ficou preso, foi torturado e, conseguind­o sobreviver, não consegue, sequer uma pensão de reforma. Respeite este e outros militares, com a verdade.

Outro corajoso, pelas suas posições, na frente de combate e com os seus colegas, que o deputado Ngongo conheceu, foi o carinhosam­ente chamado de Zé Kandongo “Laton” que, viria a ser covardemen­te assassinad­o, na chacina do 27 de Maio, em circunstân­cias, que talvez saiba, como foi. Portanto, o general/ Deputado Ngongo não deve desonrar a memória das vítimas do 27 de Maio, por no domínio militar, não ser considerad­o, uma referência exemplar, tanto assim é, que, um dos seus adjuntos, que muitas vezes teve de cobrir o comando das operações ( para não acontecer o pior), o cambuta “Filató”, lembra- se, dele, segurament­e.

Foi ele que, no polígno de tiro, em plena parada militar, o acusou de covarde e traidor, por ter abandonado as tropas e os meios no terreno.

Senhor general/ deputado, todos nos conhecemos, uns mais que outros, mas, por favor, não ofenda as vítimas, nem minta sobre o evento 27 de Maio de 1977, para não obrigar a estes legítimos desmentido­s públicos.

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