GOVERNO NÃO FAZ NEM DEIXA FAZER
Os problemas de Angola em 2020 são tão desastrosos que nenhuma das soluções [financeiras] será suficiente individualmente
Na altura da terceira tranche de apoio do FMI, o fantasma do incumprimento financeiro devido ao elevado nível de pagamentos de dívida e à forte dependência das receitas petrolíferas, estacionou com armas e bagagens em Luanda. Depois de Angola não ter conseguido cumprir vários das metas do Programa de Financiamento Ampliado ( PFI) do Fundo Monetário Internacional, o FMI concordou com novos objectivos. O calendário foi alterado e novas metas foram definidas, destinadas a apoiar a consolidação e a transparência, e para apoiar a reestruturação do sector financeiro.
O nível de dívida pública estava na altura nos 90,1% do PIB, quando foi de 35% em 2013, e o serviço da dívida representava 56,8% da despesa total prevista no Orçamento para 2020. Chegaram então diversos avisos ao governo: “Uma gestão cuidadosa deste portefólio e dos futuros financiamentos da dívida serão críticos se Angola quiser evitar um nível ainda mais oneroso de dívida ou o risco de incumprimento financeiro”. No princípio de Dezembro de 2019, o FMI alertou que “a dívida de Angola permanece sustentável, mas o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto aumentou substancialmente, e os já de si elevados riscos subiram ainda mais”, estimando um rácio de 111% face ao PIB, que deveria descer para cerca de 70% até final do programa de ajustamento, em 2024. A dívida angolana continua altamente vulnerável a choques macroeconómicos e orçamentais, com os principais riscos para a sustentabilidade da dívida a virem de uma depreciação da taxa de câmbio mais rápida que o previsto, mais declínios nos preços ou na produção petrolífera, deterioração no acesso aos mercados financeiros e materialização de riscos vários, incluindo de dívida garantida pelo Estado.
Até chegar ao Poder, João Lourenço ( como todo o MPLA) tinha um inimigo que lhe tirava o sono, mesmo não passando de um fantasma: Jonas Savimbi. No entanto, descobriu que – pelo sim e pelo não – era urgente encontrar um ( ou mais) bode expiatório vivo para os sucessivos fracassos, para a descoberta de muitos dos seus telhados de vidro, para justificar junto do Povo, mas sobretudo da comunidade internacional que lhe empresta milhões, a razão pela qual a montanha só pare ratos.
E então quem melhor do que a família Dos Santos ( que ele próprio reverenciava num paradigmático culto canino) para “desempenhar” esse papel? Sendo o patriarca já um ancião, João Lourenço elegeu os seus filhos, dando especial relevo a Isabel dos Santos que, mais a nível internacional, tem demonstrado que o rei vai nu e que quem nasce lussengue nunca chegará a ser jacaré… por muitos esteróides anabolizantes que lhe injectem.
João Lourenço passou a contar com novos aliados na sua suposta senda de justiceiro. Todos ( ou quase) os que criticaram ( desculpem a imodéstia, mas nesta matéria de críticas o Folha 8 está no pódio e mantém- se onde sempre esteve) José Eduardo dos Santos por décadas de actividades cleptocráticas estão agora rendidos a João Lourenço. Para estes, quem roubou uma vez é ladrão para sempre, e quem ficou a proteger o ladrão é um herói. E no rol de crimes figuram todos os roubos, mesmo os que não cometeu, mesmo os que o não foram por estarem respaldados na lei.
Isabel ( dos Santos) passou a ser sinónimo de crime pela mão do “juiz” João Lourenço. “Juiz” que antes foi vice- presidente do MPLA, ministro de Dos Santos, propagandista da capacidade do “arquitecto da paz” e do “escolhido de Deus”. Por fim, eis que uma pandemia internacional ( Covid- 19) veio mostrar que João Lourenço e a sua equipa ainda não perceberam que o Governo está em cima de um tapete rolante que anda para trás. Assim, continua a caminhar e propagandear os seus progressos governativos. Mas como o tapete anda para trás, afinal não saíram do mesmo sítio.