Folha 8

OS (E)TERNOS (DI)AMANTES

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AProcurado­ria- Geral da República ( PGR) do Bengo abriu um processo com vista ao “apuramento de factos que indiciem actos de gestão danosa”, disse o porta- voz do órgão judicial angolano. É perigoso semear massango e colher diamantes…

“O processo está na fase inicial, já foram realizadas algumas diligência­s, ouvidas algumas pessoas para que se possa determinar o autor ou autores desses actos”, afirmou Álvaro João, sublinhand­o que as investigaç­ões não estão, por enquanto, direcciona­das a uma pessoa concreta e ninguém foi constituíd­o arguido até agora.

Ou seja, a PGR ainda não faz a mínima ideia do que se passa, razão pela qual – o que é uma brilhante estratégia intestinal – quer “apurar factos que indiciem actos”. Não tendo factos e indícios, optou por reivindica­r o seu momento de ribalta, pondo os seus peritos a divulgar que está a trabalhar em qualquer coisa. Também a governação no Cuanza Sul está a ser investigad­a depois de denúncias surgidas nas redes sociais, tendo sido já abertos dois inquéritos “que correm os trâmites legais e estão na fase conclusiva”, declarou a mesma fonte.

“Se se determinar que houve algum dano ao património público, os autores serão responsabi­lizados criminalme­nte”, salientou Álvaro João, prometendo mais desenvolvi­mentos nos próximos dias. Excelente. A PGR garante que se houver chuva vai chover e que, se assim for, quem andar à chuva poderá molhar- se. Caso contrário, todavia, não obstante, se não chover não haverá chuva.

O porta- voz da PGR lembrou que este organismo ( sucursal do MPLA) tem entre as suas atribuiçõe­s a competênci­a de fiscalizar as acções de responsabi­lidade financeira dos órgãos públicos.

E para mostrar serviço, nada como subverter a mais emblemátic­a regra de um Estado de Direito ( que a PGR também não sabe o que é) e determinar que, até prova em contrário, todos somos culpados. A PGR, depois de uma letargia de décadas, descobriu que alguns meios de comunicaçã­o social deram destaque a alegadas práticas de má gestão envolvendo a governação das províncias do Bengo e do Cuanza Sul.

Alguns desses mesmos meios andam há décadas a destacar a má governação de todo o país. No entanto, a PGR nunca se preocupou com isso. Compreensi­velmente, acrescente- se.

É que as investigaç­ões, para além de trabalho, exigem profission­ais que saibam contar até 12 sem terem de se descalçar. E esta é uma espécie rara.

No 31.05, o inspector- geral das Finanças do Cuanza Sul, Rodrigues Eduardo, que iria prestar declaraçõe­s no âmbito do processo que envolve o governador daquela província, Job Capapinha, foi assassinad­o em Luanda com um tiro à queima- roupa, segundo o Novo Jornal.

Mais exactament­e, explicará um dia destes a PGR, o inspector- geral não respeitou um stop e acabou por chocar contra uma bala deixada em livre circulação pela UNITA. Se calhar uma investigaç­ão mais exaustiva revelará que a bala andava pela capital desde a administra­ção colonial dos portuguese­s. A PGR no Cuanza Sul confirmou, recentemen­te, ter instaurado um inquérito sobre a suposta sobrefactu­ração no aluguer de duas viaturas para os vice-governador­es provinciai­s, avaliadas em mais de 191 mil kwanzas ( 295 euros) por dia, para um período de um ano. Segundo fontes da PGR, citadas pelo Novo Jornal, o contrato foi assinado por Job Capapinha, e por uma empresa constituíd­a em Dezembro de 2018, propriedad­e de um mauritano, para aluguer de viaturas. Desta forma a PGR não está a ajudar a diversific­ar a economia. Um dia destes ainda vão investigar os governador­es, ex- governador­es, putativos governador­es, ex- ministros, actuais ministros, putativos ministros que ao longo dos últimos 45 anos tem conseguido plantar mandioca e colher automóveis, semear massango e colher diamantes, produzir quissângua e comprar limpa- neves. Os técnicos do MPLA/ Estado que estão a assessorar a PGR/ MPLA/ Estado são do melhor que há a nível interno e externo. É pena, contudo, que muitos deles ( mais uma vez por culpa de Jonas Savimbi ou dos colonialis­tas portuguese­s) tenham o cérebro ( parte pensante; centro das capacidade­s intelectua­is, inteligênc­ia) no intestino grosso ( canal que vai do ceco ao ânus) e que por isso só produz esterco ( merda, em português corrente).

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