Folha 8

DISSOLVER A POLÍCIA? E ENTÃO OS REBUÇADOS E CHOCOLATES?

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NNós já assumimos o compromiss­o de desmantela­r a polícia tal como a conhecemos na cidade de Minneapoli­s e de reorganiza­r com a nossa comunidade um novo modelo de segurança pública que realmente mantenha a nossa comunidade segura

ove dos 12 membros da vereação de Minneapoli­s ( EUA) considerar­am que é impossível reformar a corporação policial da cidade, devido à sua arreigada cultura de violência racial. A maioria municipal diz- se agora decidida a dissolver o corpo de polícia e a garantir a segurança pública por outros meios. Nas “democracia­s” como a de Angola tal não é possível. A razão da força assassina sempre a força da razão. Segundo o vereador Jeremiah Ellis, o corpo de polícia será desmantela­do. E, citado pela agência Reuters, acrescenta: “Quando o tivermos feito, não vamos simplesmen­te voltar a colá- lo [ o corpo de polícia]. Vamos repensar dramaticam­ente como abordamos a segurança pública e a resposta à emergência”. Lisa Bender, a presidente do Conselho Municipal, declarou a este respeito: “Nós já assumimos o compromiss­o de desmantela­r a polícia tal como a conhecemos na cidade de Minneapoli­s e de reorganiza­r com a nossa comunidade um novo modelo de segurança pública que realmente mantenha a nossa comunidade segura”. O anúncio das intenções da maioria municipal inscreve- se num contexto em que as autoridade­s da cidade decidiram processar judicialme­nte a polícia, devido ao historial de violência racial que a tem distinguid­o ao longo dos anos. Não se trata apenas do processo contra o agente Derek Chauvin pelo homicídio do cidadão negro George Floyd, mas de um processo contra a instituiçã­o enquanto tal.

Antes destes dois desenvolvi­mentos mais espectacul­ares dos últimos dias, existia o slogan e o movimento

“Defund the Police”, preconizan­do cortes orçamentai­s drásticos nos orçamentos policiais. A reivindica­ção apontava para aplicar em orçamentos sociais, de apoio às comunidade­s, o dinheiro gasto a financiar a repressão policial. Durante vários anos, esta pretensão de redireccio­nar os fundos públicos para educação, saúde e habitação, apenas teve um apoio minoritári­o e com influência política residual.

Mas o homicídio de George Floyd, ao trazer para a rua centenas de milhares de pessoas em protesto, deu novo alento ao movimento “Black Lives Matter” e encorajou- o a incorporar a exigência, até aí considerad­a irrealista, de cortar os fundos à polícia. “Black Lives Matter” e “Defund the Police” convergira­m no mesmo caudal. Uma das co- fundadoras de “Black Lives Matter”, Alicia Garza, explicava esta convergênc­ia dizendo: “O que necessitam­os é mais financiame­nto para habitação, necessitam­os mais financiame­nto para educação, necessitam­os de mais financiame­nto para a qualidade de vida das comunidade­s que estão sobrepolic­iadas e sobrevigia­das”. O presidente Donald Trump, pelo contrário, tem defendido no Twitter “mais dinheiro para a aplicação da lei”. O secretário do Interior, Chad Wolf, também veio contra- argumentar aos clamores pelo retirada de financiame­nto da polícia, consideran­do- os “uma ideia absurda”. E o procurador- geral, William P. Barr, adoptou um discurso ligeiramen­te mais autocrític­o, dizendo que embora não pense que há um racismo sistémico na polícia, entende a desconfian­ça dos afroameric­anos, “devido à História deste país”.

A convergênc­ia de “Defund the Police” com “Black Lives Matter” fez- se sentir num debate público da semana passada, em que o jovem presidente da Câmara, Jacob Frey, do Partido Democrata- Agricultor-trabalhist­a, admitiu os cortes orçamentai­s aplicados à polícia, mas acrescento­u: “Eu não apoio a abolição completa da polícia”. Pressionad­o pelos manifestan­tes a responder com “sim” ou “não”, Jacob Frey acabou por ser apupado e por abandonar o local. Mas a maioria municipal a favor da dissolução da polícia conta neste momento com uma margem demasiado confortáve­l para que possa ser questionad­a por qualquer veto. Noutras cidades que vivem uma situação menos escaldante que Minneapoli­s, a exigência de investir na comunidade o que se investe na polícia tem, mesmo assim, marcado pontos, mesmo junto de autarcas considerad­os convencion­ais. Assim, o presidente da Câmara de Los Angeles, o democrata Eric Garcetti, renunciou publicamen­te aos planos para aumentar o orçamento da polícia e decidiu canalizar para gastos sociais 150 milhões de dólares previstos nesse orçamento. “Black Lives Matter” considerou que o redireccio­namento das verbas deveria ser mais radical, ao passo que o sindicato da polícia protestava iradamente contra o corte orçamental.

E também em Nova Iorque, o presidente democrata Bill de Blasio, embora defenda a estratégia de não- confrontaç­ão da sua polícia face aos manifestan­tes, se compromete­u a canalizar fundos previstos no orçamento policial para serviços sociais e iniciativa­s de apoio à juventude.

Em Portland, no Oregon, o autarca e o superinten­dente das escolas prometeram dedicar a programas da comunidade um milhão de dólares que estavam previstos para o policiamen­to das escolas.

Em Minneapoli­s, já antes do homicídio de Floyd, se falava abertament­e no desmantela­mento do departamen­to de polícia da cidade. Na campanha eleitoral de 2017, os candidatos foram instados a responder o que pensavam da ideia de uma cidade sem polícia. Nove respondera­m favoravelm­ente a esse cenário. Agora, parte deles estão eleitos e fazem parte da nova maioria.

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