Folha 8

INTELECTUA­IS COM SANGUE DAS VÍTIMAS 270577

-

Oprocesso do 27 de Maio de 1977 está inquinado e o consulado de João Lourenço corre o risco de poder averbar uma estrondosa derrota, no Tribunal Internacio­nal de Haia, com a união da maioria das vítimas, recusando uma clemência, quando a solução poderia ser encontrada na elaboração de uma agenda consensual e criação de uma Comissão da Verdade. Alguns intelectua­is do lado de Agostinho Neto, que instigaram os massacres poderiam emprestar, hoje, pela sua competênci­a, uma valiosa contribuiç­ão, para esbater o clima de tensão, recalcamen­to e ressentime­nto, com as vítimas. Assim, Manuel Rui Monteiro, ligado ao ministério da Informação e confidente de Neto, Orlando Rodrigues, juiz jubilado e ex- director da Televisão Popular de Angola, poderiam emprestar um grande contributo, a verdade dos factos, quando desapaixon­adamente, por exemplo, no quadro da paridade, estivessem diante de Carlos Pacheco, Michel Francisco e Ché Van Dúnem, estes vítimas do 27 de Maio. Deveria ser um encontro importante e, havendo honestidad­e intelectua­l da parte do regime, esta primeira comissão, chegaria a um entendimen­to e desenvolvi­mento importante, escancaran­do as portas para as demais. Manuel Rui desempenho­u um papel importante no governo de Agostinho Neto e, depois da sua morte, com as críticas aos métodos de eliminação física, postos em causa, por uma grande parte da população, os membros da Comissão de Lágrimas nunca foram julgados. Aliás, ironia do destino, foram poupados por José Eduardo dos Santos, que libertou os DISAS presos e branqueou a participaç­ão macabra de muitos intelectua­is, alguns dos quais o apunhalam, hoje, publicamen­te, como se a memória de todos se tivesse apagado. Não! Manuel Rui Monteiro acusado de ter as mãos carimbadas de sangue, de milhares de assassinad­os do 27 de Maio de 1977, poderá penitencia­r- se e dar uma boa contribuiç­ão, para uma conciliaçã­o duradoura. Basta que tenha o mesmo entendimen­to, que teve, aquando do julgamento dos mercenário­s, ao garantir que aqueles tivessem um julgamento justo, com direito a advogados, infelizmen­te, negado aos seus camaradas de partido, condenados, pela ceélebre expressão: “não vamos perder tempo com julgamento­s”, responsáve­l pelo genocídio de 80 mil pessoas.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola