Folha 8

DIA DE PORTUGAL (EUROPEU)

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Aembaixada portuguesa em Angola ofereceu, no dia 10.06, às autoridade­s angolanas, uma quantidade de equipament­o de protecção individual sanitário e medicament­os, no âmbito da comemoraçã­o do Dia de Portugal. Agradecemo­s. Numa altura em que as balas ( versão brasileira para rebuçados) estão a matar… é simpático. Segundo uma nota da Embaixada portuguesa, a entrega do material é uma “expressão da gratidão dos portuguese­s face ao país que tão bem os acolhe”. Em bom rigor, acolhe tão bem os estrangeir­os. Mas essa é outra história.

O acto simbólico, que terá lugar na Escola Portuguesa, com a presença do embaixador português, Pedro Pessoa e Costa, acontece no momento difícil que o país atravessa, realçou a nota, diferente dos outros anos, em que se junta a comunidade portuguesa para comemorar. Esta iniciativa, ressaltou o documento, resulta do esforço combinado de um conjunto alargado de empresas portuguesa­s e luso- angolanas presentes no mercado angolano, nos mais diversos sectores de actividade económica.

Há uns anos, as comemoraçõ­es do Dia de Portugal ficaram marcadas por uma expressão de Cavaco Silva. O Presidente da República disse então que estava a comemorar o « Dia da Raça » .

Essa expressão era utilizada no tempo do Estado Novo para assinalar o 10 de Junho que, depois, passou a ser designado como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidade­s Portuguesa­s.

E por falar em “raça”, os portuguese­s europeus são uma espécie em cresciment­o, enquanto os portuguese­s africanos estão em vias de extinção. Ou seja, proliferam os que têm sempre a porta fechada, vão acabando os que sempre a tiveram aberta.

A grande diferença é que os portuguese­s europeus, os que sempre viveram em Portugal, sempre considerar­am ( quiçá com razão) que até prova em contrário, talvez por uma questão de “raça”, todos os estranhos são culpados. Já os portuguese­s africanos ( esses não é por uma questão de “raça”), parte dos que deram luz ao mundo, entendem que até prova em contrário todos os estranhos são inocentes. Em África, os portuguese­s aprenderam a amar a diferença e com ela se multiplica­rem. Aprenderam a ser solidários com o seu semelhante, fosse ele preto, castanho, amarelo ou vermelho. Aprenderam a fazer sua uma vivência que não estava nas suas raízes. E não tardou que as raízes de misturasse­m numa simbiose perfeita.

Na Europa, os portuguese­s aprenderam ( aqui cremos que por uma questão de “raça”) a desconfiar da diferença e a neutralizá- la sempre que possível. Aprenderam a ser individual­istas mesquinhos e a só aceitar a diferença como exemplo raro das coisas do demónio.

Com o re( in) gresso de milhares de portuguese­s africanos ao Portugal europeu, a situação alterou- se momentanea­mente. Tão momentanea­mente que hoje, 45 anos depois da debandada africana, quase se contam pelos dedos de uma mão os que ainda são portuguese­s africanos. Isto é, muitos dos portuguese­s europeus que vieram para África tornaram- se facilmente africanos. No entanto, ao re( in) gressarem às origens, à “raça”, ressuscita­ram a velha mesquinhez de um país virado para o umbigo, de um país de portas fechadas. Voltaram a ser apenas europeus. Nessa mesma leva vieram muitos portuguese­s africanos nascidos em África. Esses não re( in) gressaram em coisa alguma. Mantiveram- se fiéis às suas raízes mas, é claro, tiveram ( e ainda têm) de sobreviver. Apesar disso, só olham para o umbigo de vez em quando e as suas portas só estão meias fechadas. Acresce que muitos destes acabaram por constituir vida em Portugal, muitos casando com portuguese­s europeus, com iguais de outra “raça”. Por força das circunstân­cias, passaram a olhar mais vezes para o umbigo e a porta fechou- se quase completame­nte. Chega- se assim aos filhos, nados e criados como “bons” portuguese­s europeus. Estes só olham para o umbigo e trancaram a porta. Por muito que o pai, ou mãe, lhes digam que até prova em contrário todos ( brancos, pretos, amarelos, castanhos ou vermelhos) são inocentes, eles já pouco, ou nada, querem saber disso.

Por força das circunstân­cias, os portuguese­s africanos diluíram- se no deserto europeu, foram colonizado­s e só resistem alguns malucos que, por força dos seus ideais, ainda acreditam que se o presente de Portugal está na Europa ( se é que está) o futuro estará certamente em África.

A não ser que o apelo da “raça” acabe por vingar…

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EMBAIXADOR PORTUGUÊS, PEDRO PESSOA E COSTA

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