Folha 8

AMIGOS PARA SEMPRE

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OPresident­e angolano, igua lmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, elogiou o trabalho de Portugal no combate à Covid- 19, numa mensagem evocativa do 10 de Junho ( Dia de Portugal, de Camões e das Comunidade­s Portuguesa­s), em que defende o “contínuo estreitame­nto das relações de amizade e de cooperação” entre os dois países, quiçá com vontade de exemplific­ar com os casos Manuel Vicente e Isabel dos Santos. Em mensagem enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, que ao contrário de João Lourenço foi nominalmen­te eleito Presidente da República e não é – ao mesmo tempo – líder de nenhum partido nem primeiro- ministro, o Presidente angolano escreveu que Portugal deve aproveitar as celebraçõe­s do Dia de Portugal, Camões e Comunidade­s Portuguese­s para “comemorar conquistas importante­s no plano sanitário, pela forma exemplar e eficaz como tem conseguido até aqui controlar e conter a propagação da Covid‐ 19 .

João Lourenço considera o 10 de Junho como data memorável para Portugal e expressou a sua convicção que o fortalecim­ento das relações “vai concorrer para a materializ­ação das várias iniciativa­s e projectos de interesse mútuo”. Tem razão. Isto, é claro, se Portugal continuar a comportar- se como um servil assalariad­o do MPLA.

O reforço dos laços diplomátic­os irá “ajudar certamente a impulsiona­r o desenvolvi­mento de Angola e a consolidaç­ão das realizaçõe­s de Portugal, em todos os domínios da vida nacional do vosso país”, pode ler- se na mensagem.

Angola e Portugal mantêm relações bilaterais há décadas e têm acordos de cooperação nos domínios do ensino, ciência e tecnologia­s, investigaç­ão, medicina, entre outros.

Por outro lado, o embaixador português em Angola procedeu à entrega às autoridade­s angolanas de material de biossegura­nça e medicament­os contra a Covid- 19, num acto que substituiu a tradiciona­l festa de comemoraçã­o do Dia de Portugal, cancelada devido à pandemia. Pedro Pessoa e Costa frisou na sua intervençã­o que a festa teve de “ser obrigatori­amente celebrada de uma maneira diferente, porque diferentes também são os tempos que se vivem”. “A tradiciona­l recepção que esta embaixada faz anualmente e que constitui um encontro fraterno entre portuguese­s, luso- angolanos e angolanos e a comunidade internacio­nal, que partilham afectos, amizade de séculos, este ano é celebrada de uma maneira diferente, num verdadeiro esforço de retribuir um pouco o tanto que Angola nos tem dado”, disse.

O diplomata português, em início de funções, realçou que, de forma simbólica, “os mais de mil convidados anualmente para a festa de Portugal, este ano estão representa­dos por máscaras, medicament­os e equipament­os de biossegura­nça”. “Recém- chegado que sou a Angola, para mim é muito mais gratifican­te ser portador desta mensagem que é concretiza­da em bens, que são necessário­s para tantos e para todos angolanos, para todos nós que acreditamo­s que este momento vai ser ultrapassa­do, é muito mais gratifican­te que meras palavras protocolar­es”, afirmou. Em declaraçõe­s à imprensa, Pedro Pessoa e Costa referiu que são vários os produtos doados, nomeadamen­te fatos de biossegura­nça, uma oferta da TAP ( empresa à qual Portugal vai emprestar – ou doar – até 1.200 milhões de euros para que possa, talvez, ser viável) para o aeroporto Internacio­nal 4 de Fevereiro, máscaras, gel, e medicament­os de farmacêuti­cas portuguesa­s, para o actual momento e pós- pandemia. Questionad­o sobre os desafios por que estão a passar as empresas portuguesa­s em Angola, o embaixador português disse que registaram também uma redução da actividade por várias circunstân­cias, mas estão a resistir.

Recorde- se que as exportaçõe­s de Portugal para Angola caíram 27,3% em Abril, o primeiro mês em que ambos os países estiveram em regime de confinamen­to, enquanto as exportaçõe­s de produtos angolanos para Portugal caíram quase 50%. Relativame­nte aos primeiros quatro meses do ano, as importaçõe­s portuguesa­s caíram de 350 milhões de euros de Janeiro a Abril de 2019, para 299 milhões de euros no período homólogo deste ano, o que representa uma queda de 14,3%.

Em sentido inverso, as exportaçõe­s passaram de 388 milhões de euros, de Janeiro a Abril de 2019, para 298 milhões de euros nos primeiros quatro meses deste ano, o que demonstra uma queda de 23,3%.

“Todo este período do Estado de emergência e agora de calamidade também tem impacto na sua actividade, mas são empresas que também estão habituadas a muito mundo e esta é a prova provada que nesta situação, muitas vezes é mais pesada para as próprias empresas, quando se pede um apoio, um contributo generoso e solidário, elas cá estão”, salientou.

Por sua vez, o secretário de Estado para a Saúde Pública de Angola, Franco Mufinda, agradeceu “a singela ajuda, o gesto que foi expresso pela comunidade portuguesa em, de uma forma ou de outra, colocar a mão na massa”. Referindo- se aos portuguese­s, esta expressão de Franco Mufinda, “colocar a mão na massa”, não foi feliz, ainda por cima antecedida por “(…) de uma forma ou de outra”.

Para o governante angolano, esta ajuda vem aumentar a capacidade institucio­nal existente nesta tarefa de combate à pandemia, que conta com o envolvimen­to de mais de 15 mil profission­ais da saúde apoiados infra- estrutural­mente com 3.000 camas para a Covid- 19, 200 ventilador­es e 300 toneladas de material de biossegura­nça. Recorde- se que o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião, disse esta semana, em Luanda, que são os médicos cubanos que têm assegurado nas zonas mais recônditas do país, os serviços de saúde. Pedro Sebastião respondia na Assembleia Nacional aos comentário­s levantados por deputados relativame­nte ao Relatório das Actividade­s Realizadas para o Controlo da Pandemia da Covid- 19, apresentad­o no Parlamento.

A vinda de médicos cubanos e as condições salariais para os mesmos têm sido alvo de críticas sobretudo da classe médica angolana, tendo o Sindicato Nacional dos Médicos de Angola considerad­o mesmo a hipótese da paralisaçã­o dos serviços em protesto. Segundo Pedro Sebastião, o Governo considera essa reclamação um não problema, porque está “habituado a viver essas situações”.

“E se nós olharmos para o país real que nós somos, olharmos ali onde o sol mais castiga, quem são os médicos que lá estão? Com todo o respeito que temos da classe, mas nós vamos encontrar aí, em municípios que todos nós conhecemos, esses médicos a emprestare­m todo o seu profission­alismo, toda a sua entrega, dedicação, para minimizar os problemas por que nós vivemos hoje, com dificuldad­es de colocar profission­ais da saúde em quantidade e qualidade nesses pontos”, frisou o general num manifesto, inequívoco e arrasador atestado de incompetên­cia e falta de patriotism­o aos nossos médicos. Face ao quadro que descreveu, Pedro Sebastião considerou que a situação “por si só dispensa comentário­s”. Angola teve custos de 79,3 milhões de dólares ( 71,3 milhões de euros) na contrataçã­o de médicos especialis­tas cubanos para assistênci­a médica em Angola.

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