MI(NI)STÉRIO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Este problema, como muitos outros, está em que os “macacos” estão em galhos trocados. Por exemplo, em Agosto de 2018 foi anunciado que o Ministério da Comunicação Social iria “coordenar a acção da criação de um núcleo, de aproximadamente 150 activistas, para efectuar visitas casa a casa, para sensibilizar as famílias residentes nos arredores da lagoa da Kilunda, no âmbito do programa de prevenção e combate à cólera”.
Como qualquer cego viu, esta era mesmo uma missão para a equipa de João Melo e companhia, de “Nuno Carnaval” e companha, de Manuel Homem e companhia. O Ministério da Comunicação Social sempre teve muito pouco para fazer na sua área. Um dia destes vamos ver o Ministério da Saúde “a coordenar a acção da criação de um núcleo” para tratar da saúde à ERCA e ensinar alguns escribas a contarem até 12 sem terem de se descalçar, ou o Ministério da Educação a diagnosticar que os dirigentes governativos têm o cérebro não no intestino grosso mas no… delgado.
A informação foi, afirmou na altura a Angop, passada pelo secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, no final de uma visita interministerial realizada à lagoa da Kilunda, comuna da Funda, no Cacuaco, para avaliar as condições de saneamento e meios existentes naquela região, depois de um teste positivo da água com vibrião colérico. Na verdade, reconhecemos, as sucessivas equipas dirigentes da Comunicação Social estão no seu meio natural – o saneamento. Por outras palavras, na falta dele. Aliás, tudo quanto tenha a ver com a falta de higiene ( sobretudo moral) é o ambiente propício ao desenvolvimento da… comunicação social do Estado/ MPLA.
O que seria do país sem este Mi( ni) stério da Comunicação Social? Depois de termos esperado que “Nuno Carnaval” não desfizesse o patriótico Entrudo que tão relevante é para os histriónicos criadores do MPLA, mantemos a mesma esperança com Manuel Homem. Um jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontologia profissional, é também o que o Ministério da Comunicação Social pretende para Angola. A tese ( adaptada do tempo de partido único para a era de único partido) é transversal ao MPLA. Convenhamos, desde logo, que só a própria existência de um ministério da Comunicação Social é reveladora da enormíssima distância a que estamos das democracias e dos Estados de Direito. Quem um ministro ( chame- se João Melo, “Nuno Carnaval” o Manuel Homem) ou o próprio Titular do Poder Executivo para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontologia profissional”?
Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespectadores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotismo” dos jornalistas, ou a sua ética e deontologia? Ou ( permitam- nos a candura da nossa ingenuidade) com outros protagonistas e roupagens diferentes, estamos a voltar ( se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotismo, ética e deontologia eram sinónimos exclusivos de MPLA? Para alcançar tal desiderato, o Ministério da Comunicação Social irá prestar uma atenção especial na formação e qualificação dos jornalistas, para que estes estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo.
Como se vê o gato escondeu o rabo mas deixou o corpo todo de fora. Então vamos qualificar os jornalistas para que eles, atente- se, “estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalistas mas meros propagandistas ao serviço do Governo, não defraudando as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular. O MPLA não se esquece de recordar que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicação Social e aos jornalistas, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologia, verdade e patriotismo. E faz bem em lembrar. É que ministros e secretários de Estado também recebem “ordens superiores” e, por isso, não se podem esquecer das louvaminhas que o Presidente exige.
Aos servidores públicos, o Chefe de Estado recomendou para estarem abertos e preparados para a crítica veiculada pelos órgãos de Comunicação Social, estabelecendo, deste modo, um novo paradigma sobre a forma de fazer jornalismo em Angola.
As teses do MPLA ( seja qual for o ministro), que ao fim e ao cabo pouco diferem das anteriores, a não ser na embalagem, e os servidores públicos podem estar descansados que não haverá lugar a críticas da Comunicação Social. Nós por cá vamos continuar a ( tentar) dar voz a quem a não tem. Para nós a verdade é a melhor forma de patriotismo. E a verdade não está sujeita às “leis” do MPLA/ Estado.
Vamos, em síntese, estar apenas preocupados com as pessoas a quem devemos prestar conta: os leitores. Se calhar, parafraseando Celso Malavoloneke, não seremos tão patrióticos como o Governo deseja. Para nós, se o Jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala é um criminoso. Daí a nossa oposição total aos imbecis e criminosos. E, é claro, não temos culpa de a maioria dos imbecis e criminosos estar no MPLA.