SORAIA TCHITIKU MENDES EM “O SORRISO DA UÍKI”
Nesta última edição do mês de Junho, trouxemos para este espaço uma encantadora narrativa infantil proveniente das cascatas da Huíla. A autora prima pela pedagogia, valorização dos hábitos e costumes locais por meio de uma linguagem pueril que torna o enredo encantador.
So r a i a Tchitiku Mendes é uma promissora escritora de contos infantis e usa a sua interferência como professora para construção de conteúdos educativos, patrióticos e culturais nas suas obras. O livro “O sorriso da Uíki” emerge dessa preocupação simbólica da autora em dialogar, orientar, preservar e divulgar os costumes, a história e as malambas do dia- a- dia das famílias angolanas. A obra em referência descreve as vivências, medos e dúvidas da menina Uíki. Desde o medo do escuro, as dores de dente, a agonia de dormir sozinha, o candeeiro acesso, o aconchego e os conselhos da dona Kuyela. Parece intemporal mas é de todo acertado, a chamada de atenção da Dona Kuyela “passas o tempo todo a comer caramelos, estica, rebuçados e para lavar os dentes … suku yangue! É toda a hora a falar …” nestre trecho observamos algo muito comum nas crianças: a ligação aos doces. E neste frenesim ainda tinha a falta de energia e o calor do candeeiro, que instantes depois se restabeleceu para alegria dos petizes. Outro aspecto particularmente identitário na obra surge na página dezanove quando o senhor rato pergunta a menina Uíki o significado do seu nome. O nome tem significado na língua umbundu “mel”. “… Todos os meninos deviam saber os significados dos seus nomes, porque eles, às vezes, influenciam naquilo que fazemos e que somos” ( página 19). Nestes tempos modernos em que existe pouco destaque as línguas angolanas, é de todo importante passar essa mensagem por meio da literatura infantil.
Tal como a observação a higiene bucal das crianças, igualmente destacada na página vinte e um “já sei que a Uíki não gosta de lavar os dentes e isto tem de acabar, porque, de hoje em diante, terás de lavar os dentes três vezes ao dia e diminuir os caramelos, a estica e os rebuçados. Ou se comeres lavar os dentinhos, seguidamente, está bem?”
E termina com o seguinte conselho na página vinte e três: “ouçam todos: não basta saber, é preciso cumprir. E se a Uíki cumprir bem esta receita, terá primeiro os dentinhos branquinhos e segundo o sorriso mais bonito e doce como mel”. E de modo dócil e respeitoso surge a resposta da menina Uíki: “Prometo, esta receita é muito fácil. Vou diminuir os doces e vou lavar os meus dentinhos três vezes ao dia, e mais: vou passar também esta receita aos meus amigos e colegas”.
Em síntese, pode- se destacar que o livro “O sorriso da Uíki” constitui uma agradável surpresa literária infantil no universo angolano preenchida por um enredo repleto de humor, pedagogia, encruzilhada e conselhos.