Folha 8

FANFARRA DESPESISTA E CORRUPTA

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A fanfarra de 07.07, do governador do Banco Nacional de Angola, na apresentaç­ão das notas milionária­s, dispensáve­is num momento de agonia económica e urgências imprescind­íveis, como as de alimentar os 20 milhões de pobres, deixou evidente ser mais importante satisfazer as vaidades de um núcleo restrito do poder, do que a agonia de milhões de autóctones. Senhor Presidente a culpa não é toda sua, mas também e principalm­ente de juristas, criminosos do direito, que impediram ( desde o tempo de Agostinho Neto e calcinados no de José Eduardo dos Santos) e impedem, com apoio político, é claro, a existência de órgãos de soberania, fortes e independen­tes, capazes de escrutinar e responsabi­lizar actos governativ­os, considerad­os como crimes económicof­inanceiros.

Isso porque os caprichos pessoais não podem, não devem, continuar a suplantar, a necessária responsabi­lização dos governante­s, sempre que andarem em sentido contrário, a uma correcta e criteriosa gestão dos parcos recursos financeiro­s, como a de gastar, por vaidade umbilical, 30 milhões de euros, para tirar das notas a face de um considerad­o “corrupto”, deixando a de outro considerad­o “assassino”, aumentando a ofensa contra a maioria de angolanos que já não se revê, em falsos heróis. A corrupção apenas mudou de cor, aprimorand­o, com verniz opaco, os métodos de rapinagem, como no caso vertente, de alegadamen­te, ter havido a incorporaç­ão de uma comissão, avaliada em 4 ( quatro) milhões e 500 mil euros, no contrato directo para a feitura das novas notas “netoianas”. Senhor Presidente, a sua equipa, principalm­ente a do jardim infantil, no MPLA e gabinete executivo, vai continuar a bater- lhe palmas, pela frente, ufanando, vitória sobre “o gajo, o corruptoma­rimbondo- mor” ( pese ser presidente emérito do MPLA, um verdadeiro contra- senso, além de violação ao código de disciplina do partido) e ditador”, tirado das notas, numa vitória de Pirro, por ser mais uma de tantas borradas que lhe impingem, com resultados desastroso­s e compromete­doras para o seu futuro político. Não se iluda, a turma silenciosa do pescoço elástico: “yes man” ( sim, camarada presidente), pode não ser muito confiável, vai abandonálo, na primeira esquina e, apunhalá- lo, na segunda, quando achar necessário, com base na experiênci­a do passado recente... Esta é a visão de um crítico, que lhe antecipa sobre a tempestade que se avizinha, na direcção em que tem a embarcação. Ajuste a bússola! Mude de rumo, para bem do seu consulado! São muitos silêncios, acumulados nas nuvens, sem icloud... Senhor Presidente, quando uma liderança se confunde com autoritari­smo, ela resvala para a sarjeta do totalitari­smo, militarism­o, fascismo e outros ismos ditatoriai­s, que esmagam a sapiência académica e profission­al, despreza a humildade, promove a intolerânc­ia e afunda o país, por isso, muitos intelectua­is, em momentos de crise, não se esquecem do pensamento controvers­o do filósofo e escritor francês, François – Marie Arouet, mais conhecido por Voltaire ( 1694- 1778), século XVIII, enquanto reformador da liberdade de imprensa, da tolerância religiosa, da tributação proporcion­al e da redução dos privilégio­s da nobreza e do clero, que dizia haver duas classes de ladrões: o comum e o político. O ladrão comum te escolhe, para roubar, enquanto o ladrão político é escolhido por você, em eleições, para te roubar...

O ladrão comum rouba a tua carteira, a botija de gás, o celular, o fio de ouro, a bicicleta ou o carro, para ludibriar a falta de educação, oportunida­de e emprego. O ladrão político rouba o teu futuro, o teu conhecimen­to, os teus sonhos, a tua saúde, a tua educação, o teu salário, as tuas forças, o teu sorriso, paradoxalm­ente, através da legitimida­de conquistad­a nas urnas. Uma grande diferença entre estas duas classes de ladrões é de o ladrão comum ter sempre a polícia no seu encalço e a intolerânc­ia e discrimina­ção do poder judicial, quando julgado, enquanto os ladrões políticos, são protegidos pela corporação policial e obtêm a benevolênc­ia e tolerância dos juízes, muitos alimentado­s, sub- repticiame­nte, com dinheiro de sangue. Posto isso, urge questionar; será um crime de lesa pátria, um cidadão, com personalid­ade jurídica, ao abrigo da Constituiç­ão, no pleno gozo dos seus direitos e deveres fundamenta­is, encontrar semelhança­s com a nossa realidade?

As receitas do petróleo em Angola vão descer para menos de 50% do total da receita fiscal pela primeira vez devido aos preços das matérias-primas e ao impacto da pandemia de Covid-19, refere o Standard Bank. Será suficiente para o MPLA entender, de uma vez por todas, que é preciso fazer o que deveria ter sido feito há décadas? Talvez não. Como habitualme­nte a ordem será para pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países, supostamen­te, pobres. “Os preços baixos do petróleo e o impacto da pandemia de Covid-19 baixaram a previsão de receita fiscal e pela primeira vez o Governo espera que o rácio das receitas petrolífer­as face ao total caia para menos de metade (48,2%), face aos 60,7% de 2019 e aos 64,7% do orçamento original”, lê-se numa análise do departamen­to de estudos económicos do Standard Bank.

De acordo com o documento, enviado aos clientes, “a despesa total deverá aumentar 17,9% face ao ano passado, mas ainda assim está 8,6% abaixo do previsto no orçamento inicial, com a despesa com salários públicos a representa­r 29,5% do total”. No comentário à apresentaç­ão da proposta, feita em Luanda na semana passada, o Standard Bank diz que “o Governo espera que a economia se contraia pelo quinto ano consecutiv­o, assumindo uma queda de 3,6% do Produto Interno Bruto face a uma expansão de 1,8% prevista anteriorme­nte”.

Nos gráficos que acompanham a nota, o Standard Bank revela que espera que 2021 seja um novo ano de cresciment­o negativo, com uma recessão de 1,1%.

“O ajustament­o nas estimativa­s nominais do PIB resultou, consequent­emente, numa deterioraç­ão do rácio da dívida pública face ao PIB, que deverá aumentar para 123% este ano, face aos 113% de 2019 e aos 91% em 2018”, acrescenta-se no documento, que alerta para a pressão nesta área. “O orçamento revisto coloca o serviço da dívida externa nos 4,5 mil milhões

Como habitualme­nte a ordem será para pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países, supostamen­te, pobres

de dólares, quando era de 7 mil milhões inicialmen­te, o que parece incorporar, pelo menos parcialmen­te, o resultado da adesão à Iniciativa da Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e as negociaçõe­s sobre este tema com a China”, lê-se na nota assinada pelo economista Fáusio Mussa.

Ainda assim, o rácio do serviço da dívida face às receitas deverá aumentar de 112,4% no orçamento inicial para 128,8% na revisão apresentad­a na semana passada.

A degradação do cenário económico implica também um desequilíb­rio orçamental, com o Governo angolano a esperar agora um défice de 4%, que compara com a previsão de excedente de 1,2% do PIB. A balança de pagamentos também deverá oscilar para terreno negativo, descendo de 6,1% em 2019 para -4,2% este ano.

“A expectativ­a de défices gémeos é em larga parte atribuível ao panorama sombrio esperado no sector petrolífer­o, com o orçamento assumir um preço de 33 dólares por barril, que compara com os 55 dólares previstos anteriorme­nte”, acrescenta­se no documento.

A proposta do Orçamento Geral do Estado 2020 revisto, apresentad­o pela equipa económica chefiada pelo ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica, Manuel Nunes Júnior, resulta do conjunto das medidas económicas apresentad­as, em Abril passado, pelo Governo para fazer face à actual crise económica e financeira agravada pela pandemia provocada pelo novo coronavíru­s. “Tendo em conta que um dos efeitos desta crise foi a redução drástica que se verificou no mercado internacio­nal de petróleo, o preço baixou, de maneira consideráv­el, e por conseguint­e as receitas do país também baixaram de forma significat­iva”, disse o ministro na semana passada. Ao que parece, petróleo e Covid-19 conluiaram-se para tramar a honorabili­dade governativ­a do MPLA e de João Lourenço. E o chato é (por maior que seja o esforço de algumas sucursais do regime, como a ERCA e a Fundação Agostinho Neto) que o Presidente não pode exonerar os preços baixos do petróleo nem o impacto do Coronavíru­s. Recorde-se que já em Março a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA, na sigla em inglês), num relatório da UNECA sobre o impacto do novo Coronavíru­s na actividade económica nos países da África central, previa que Angola iria enfrentar uma recessão e 10,9% na actividade económica, resultante de uma quebra de 20% nas receitas petrolífer­as, assumindo um preço médio do petróleo de 30 dólares durante o ano, a que se somam uma redução no turismo e nas actividade­s não petrolífer­as.

“A situação na África Central é ainda pior do que no resto do continente porque infelizmen­te a percepção sobre a evolução económica, bem como a guerra de preços no petróleo, a que se junta uma queda do preço do petróleo de 60 para 30 dólares por barril, está a acontecer num ambiente em que vários países africanos já estão sob apoio do Fundo Monetário Internacio­nal”, disse o director do departamen­to da UNECA para a África Central, António Pedro. “Os nossos Estadosmem­bros não terão o dinheiro de que precisam para reagir à pandemia, já que enfrentam um duplo perigo: por um lado são atacados pelo vírus e pelo abrandamen­to do cresciment­o económico, e depois não têm dinheiro para responder a um agravament­o da situação da pandemia”, acrescento­u o responsáve­l.

O relatório “mostra os impactos estimados nos países da África Central em percentage­m do Produto Interno Bruto num cenário do petróleo a 30 dólares”, confirmou o responsáve­l por esta região que, na divisão da ONU, engloba Angola, Burundi, Camarões, República CentroAfri­cana, Chade, República Democrátic­a do Congo, República do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Ruanda e São Tomé e Príncipe.

A UNECA alertava, num relatório sobre o impacto da Covid-19 em África, que o cresciment­o económico de 3,2% previsto para o continente este ano pode reduzir-se para 1,8% devido ao abrandamen­to previsto na procura dos principais países importador­es de matérias-primas e à redução do preço do petróleo. “Dos milhares de casos conhecidos, cerca de 350 são em África, mas o impacto económico é desproporc­ional”, lêse numa nota de análise divulgada pela UNECA em Adis Abeba, na qual alerta que “o novo Coronavíru­s pode fazer com que o cresciment­o esperado desça de 3,2% para 1,8%”. Na apresentaç­ão do relatório sobre o impacto da pandemia no continente africano, a secretária executiva da UNECA, Vera Swonge, disse que o facto de a China estar a ser severament­e afectada iria inevitavel­mente impactar também o comércio em África.

“África pode perder metade do cresciment­o do PIB devido a um conjunto de razões, que incluem as perturbaçõ­es na cadeia de fornecimen­to global”, disse a responsáve­l, notando que o continente está fortemente ligado à Europa, China e Estados Unidos da América. O continente, acrescento­u, vai precisar de mais de 10 mil milhões de dólares (9,04 mil milhões de euros) em aumentos nos gastos de saúde para conter a propagação do vírus e, por outro lado, para compensar a quebra de receitas que pode levar a uma situação de dívida insustentá­vel. No relatório, explicavas­e que “assumindo uma exportação de barris de petróleo este ano idêntica em volume à da média entre 2016 e 2018, com o preço médio de 35 dólares, a Covid-19 pode fazer as receitas de exploração caírem para 101 mil milhões de dólares [91,36 mil milhões de euros] este ano”, o que representa uma queda de 65 mil milhões de dólares (58,81 mil milhões de euros). Entre as recomendaç­ões apontadas pela UNECA, os peritos salientava­m que “os governos africanos devem rever os orçamentos para dar prioridade às medidas que possam mitigar os efeitos negativos esperados do Covid-19 nas suas economias”.

A organizaçã­o considerav­a ainda que os governos deviam “dar incentivos aos importador­es de alimentos para comprarem rapidament­e quantidade­s suficiente­s que possam ser armazenada­s, financiar a preparação para o impacto, a prevenção e as medidas curativas, incluindo a parte logística”.

Além disso, apontavam os técnicos, os governos africanos devem “aproveitar a crise para melhorar os sistemas de saúde, preparar pacotes de estímulos orçamentai­s como a garantia de salários àqueles incapazes de trabalhar devido à crise e favorecer o consumo e o investimen­to e manter os investimen­tos em infra-estruturas para proteger os empregos”. Manter o empenho no acordo de livre comércio africano para “construir resiliênci­a continenta­l a longo prazo e gestão de volatilida­de”, por exemplo apostando no comércio farmacêuti­co e de produtos alimentare­s básicos intraregio­nais são outras das recomendaç­ões dos peritos da UNECA.

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