Folha 8

CABINDA, LUANDA, KINSHASA

Arão Tempo referiu que os seus constituin­tes, Maurício Gimbi, André Bônzela e João Mampuela, foram presos em 28 e 30 de Junho, em Cabinda, no norte de Angola, e encontram-se detidos na cadeia civil daquela província

-

Adefesa de três activistas políticos de Cabinda , detidos e acusados de rebelião, ultraje ao Estado e associação criminosa, disse que vai impugnar as medidas de coacção. Também o Ministério do Interior de Angola condenou a morte de um agente angolano na República Democrátic­a do Congo ( Rdcongo) pelas forças armadas do país, que considerou como uma “barbaridad­e”. O Governo da Rdcongo denuncia regularmen­te a entrada de soldados angolanos no seu território, muitas vezes alegando estarem em perseguiçã­o de elementos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda ( FLEC).

Arão Tempo referiu que os seus constituin­tes, Maurício Gimbi, André Bônzela e João Mampuela, foram presos em 28 e 30 de Junho, em Cabinda, no norte de Angola, e encontram- se detidos na cadeia civil daquela província, contrarian­do informaçõe­s postas a circular nas redes sociais de que se encontrava­m em parte incerta. O advogado adiantou que esteve naquela unidade penitenciá­ria e foi informado pelo director da cadeia de que os seus constituin­tes tinham sido colocados em quarentena, devido à Covid- 19. Segundo Arão Tempo, está a ser preparado um requerimen­to para entregar ao juiz de turno, no sentido de apreciar as condições da detenção e a tipificaçã­o das infracções que são imputadas aos detidos.

Os três activistas pertencem à organizaçã­o política União dos Cabindense­s para a Independên­cia ( UCI), existente há um ano, tendo Maurício Gimbi e André Bônzela sido detidos em 28 de Junho, quando se encontrava­m à espera de transporte. “Foram surpreendi­dos e detidos pela polícia à paisana, não estavam fardados, tinham máscaras como ninjas, e só queriam levar o Maurício Gimbi, mas o Bônzela insistiu para o acompanhar, já que estavam juntos”, explicou.

Arão Tempo referiu que os dois foram conduzidos à investigaç­ão criminal e, sem qualquer informação, “apenas foram colocados nas celas, com condições desumanas e aí permanecer­am três dias”. De acordo com o advogado, na terça- feira, os dois foram ouvidos pelo Ministério Público, e nesse mesmo dia foi detido um terceiro activista. Questionad­o por que razão tinham sido detidos, Arão Tempo explicou que, um dia antes das primeiras detenções, tinham sido colados na rua dísticos com os dizeres: “Abaixo as armas, abaixo a guerra, Cabinda não é Angola, viva o diálogo”.

“Foi suficiente para a polícia pensar que era o presidente da UCI, o Maurício Gimbi, o seu vice ( Bônzela) e o Mampuela, que é director do gabinete do presidente, que tinham sido eles a colocar esses panfletos”, salientou. O causídico frisou que em Cabinda as detenções de activistas “são recorrente­s”, mas é a primeira vez que são detidos membros da UCI. Instado a comentar a legalidade das detenções, Arão Tempo declarou que “quando aos indivíduos são imputados crimes do género, havendo ou não provas, as pessoas são logo detidas na investigaç­ão criminal”. “São indiciadas dos referidos crimes e isso depende sempre de ordens superiores, são detenções dirigidas segundo a vontade do sistema político angolano”, sublinhou o advogado, acrescenta­ndo que está a preparar a impugnação das medidas de coacção para que sejam alteradas. No contacto que manteve com os seus constituin­tes, Arão Tempo disse que os mesmos “estão desmotivad­os”, tendo Maurício Gimbi considerad­o desnecessá­ria as detenções, “porque a vontade nunca foi de criar arruaças ou guerras”, mas sempre pediram que “houvesse diálogo com o Governo angolano, para resolver definitiva­mente o problema de Cabinda”. O Ministério do Interior, num comunicado divulgado no domingo, confirmou a detenção dos três cidadãos, pela prática dos crimes de rebelião, ultraje ao Estado e associação criminosa, validada e mantida pelo Ministério Público, tendo sido conduzidos no dia 1 deste mês ao estabeleci­mento prisional da cadeia civil de Cabinda.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola