Folha 8

BRUCE LEE VAI INVESTIGAR

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Aempresári­a Isabel dos Santos negou na semana passada que as autoridade­s angolanas desconheça­m o seu paradeiro ou que não a consigam contactar, afirmando que “está e sempre esteve disponível a colaborar com a justiça e prestar todos os esclarecim­entos”. De facto, a Procurador­iaGeral de Angola, ou o Bureau Político do MPLA, ou até mesmo a ERCA ou a Fundação Agostinho Neto poderiam, se tivessem dúvidas, pedir ajuda a… Bruce Lee. Em comunicado, Isabel dos Santos ( re) afirma que as informaçõe­s de que esteja em parte incerta “são falsas” referindo que, desde Janeiro de 2020, constituiu advogados mandatados em Angola e Portugal, “com procuraçõe­s forenses apresentad­as e aceites pela justiça” de ambos os países. A empresária esquece- se que a PGR angolana ainda está desde essa altura à espera da tradução do conteúdo dessas procuraçõe­s de português para… ( o seu) português. É claro que se “haver” necessidad­e, o General Pitta Grós pode fazer valer o “compromíss­io” assinado com a sua congénere portuguesa.

A empresária angolana, filha do ex- Presidente Emérito de Angola, José Eduardo dos Santos, sublinha também que “se fez presente em todos os autos e processos de cuja existência teve conhecimen­to, por diligência” própria, tanto na justiça de Portugal como na de Angola. O Procurador- Geral da República ( PGR) angolano assumiu, na sexta- feira passada, dificuldad­es em notificar a empresária Isabel dos Santos, em Angola e noutros países, admitindo que a possibilid­ade de emitir um mandado de captura “está em aberto”. “Em Luanda já foi notificada nos locais possíveis onde poderia ser contactada e não houve nenhuma resposta”, adiantou o General Hélder Pitta Grós, numa conferênci­a de imprensa em Luanda. “Neste momento não sabemos onde será o seu domicílio, nem profission­al, nem onde vive e isso tem dificultad­o a sua notificaçã­o”, frisou. O PGR disse que foram feitas também tentativas junto das suas empresas e que o mesmo foi solicitado a Portugal, sem sucesso, pelo que a emissão de um mandado “é uma hipótese que está em aberto”. Se, parafrasea­ndo o Presidente do MPLA, “haver” necessidad­e. Em resposta, Isabel dos Santos disse que os advogados que a representa­m “encontram-se mandatados conforme manda a lei, têm praticado vários actos sucessivam­ente nos processos e estão em contacto com a PGR angolana, com o Tribunal de Luanda e com a justiça portuguesa”.

A empresária esqueceuse de informar os seus advogados que deveriam, igualmente, informar outros órgãos que colegialme­nte são a dita justiça angolana, casos – entre outros – do Bureau Político do MPLA, da ERCA e da Fundação Agostinho Neto.

“Pelo que desminto a afirmação de que não é conhecido o meu paradeiro ou que eu não esteja contactáve­l. É falsa a afirmação de que a Justiça angolana desconhece o meu paradeiro e que não me possa contactar”, adianta no comunicado.

Para sustentar a sua

afirmação, Isabel dos Santos, explica que em 30 de Maio e 6 de Junho de 2020 foi notificada pelo Tribunal de Luanda, recebeu “despachoss­entença, tendo apresentad­o recursos”. A empresária angolana, visada, em Angola, em processos criminais e cíveis em que o Estado angolano reclama mais de cinco mil milhões de dólares ( 4,4 mil milhões de euros), sublinha igualmente que “participa regularmen­te” em actos societário­s e em reuniões diversas “como aconteceu recentemen­te na Assembleia- Geral do Eurobic”. Segundo Isabel dos Santos, “é um sofisma inaceitáve­l” a afirmação do PGR angolano. É claro, cada vez mais claro, que o General PGR não sabe o que diz ( é para isso que ele lá está) mas, reconheça- se, sabe dizer o que lhe mandam dizer. O seu propósito, sustenta, “é quer desejar criar um quadro artificial de justificaç­ão para emissão de um mandado internacio­nal de detenção para ver se agora me calam”. “De facto, a minha liberdade de expressão parece estar a incomodar politicame­nte e por isso desejam calar- me política e socialment­e a todo o custo”, lê- se no comunicado.

O processo- crime partiu de uma denúncia do seu sucessor à frente da petrolífer­a estatal Sonangol, Carlos

Saturnino ( que pouco depois passou também de bestial a besta), relativa a transferên­cias monetárias alegadamen­te irregulare­s durante a gestão de 18 meses de Isabel dos Santos. Isabel dos Santos, que reafirma, no comunicado, ser vítima de “injustiça e perseguiçã­o política”, adianta que a descoberta e reposição da verdade neste processo é do seu maior interesse. Mas como não é do interesse dos que ontem estavam caninament­e solidários com ela e com o seu pai, a corda continua a esticar. A empresária diz ainda que pretender ver resolvido o “mais rapidament­e possível” esses “ataques à sua reputação e bom nome”, como empresária e empreended­ora africana. Por isso, “estou disponível, como sempre estive, a colaborar com a justiça e a prestar todos os esclarecim­entos necessário­s para que prevaleça a verdade”, concluiu. Isabel dos Santos comete o erro, muito comum, de pensar que em Angola (e também, embora noutra dimensão, em Portugal) existe separação de poderes e que a PGR não é uma mera sucursal do MPLA.

Além da filha do antigo Presidente, são também arguidos Sarju Raikundali­a, exadminist­rador financeiro da Sonangol, Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos, e presidente do Conselho de Administra­ção do BFA, Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administra­dora da NOS, e Nuno Ribeiro da Cunha, gestor de conta de Isabel dos Santos no Eurobic, que morreu em Janeiro. A empresária viu também as suas contas bancárias e participaç­ões sociais serem arrestadas em Portugal e em Angola. Em Janeiro, com a monumental ajuda do MPLA, o Consórcio Internacio­nal de Jornalismo compilou e divulgou mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de ‘ Luanda Leaks’, que detalham alegados esquemas financeiro­s de Isabel dos Santos e do marido, que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais. Embora num outro contexto, o advogado Sérgio Raimundo foi quem melhor definiu tudo isto a quem chamamos país ( é mais um local mal frequentad­o) e a suposta justiça que nele se pratica: “Se o Ministério Público é mesmo sério, então deve requerer a extinção do MPLA”.

Neste momento não sabemos onde será o seu domicílio, nem profission­al, nem onde vive e isso tem dificultad­o a sua notificaçã­o

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EMPRESÁRIA ISABEL DOS SANTOS
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