Folha 8

AGOSTINHO NETO DE HERÓI AVILÃO

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Ahistória, este irreversív­el movimento do tempo, não mente, dados, factos, feitos e defeitos, ainda que, por vezes, regimes, ditadores e fascistas a tentem adulterar. Em todas as épocas assiste- se ao percurso de homens com carisma, retórica ou capacidade de liderança, na mobilizaçã­o dos povos, para a libertação do jugo colonial ou da tirania fascista, que, chegados ao poder, uns, se transforma­m, pela negativa. Alguns, até ousam, deixar obras faraónicas, outros carimbos de sangue, como marcas do consulado.

O MPLA, partido que sem eleições deveriam realizar- se ao abrigo dos Acordos de Alvor, entre os três movimentos de libertação nacional ( FNLA, MPLA, UNITA), assumiu, segundo a realidade histórica, pela força das armas, o poder aos 11 de Novembro de 1975, tem no seu líder, António Agostinho Neto, aquele que proclamou a independên­cia, “libertando os angolanos do jugo colonial português”... Verdade ou mentira, pouco importa, salvo a de continuar calcinado no poleiro e de teimar em não realizar eleições insuspeita­s, livres e justas, mesmo depois da morte de Neto, aos 10 de Setembro de 1979, em Moscovo, capital da Rússia.

O ex- líder do MPLA, no início da sua caminhada estudantil e de consciênci­a libertária, conseguiu ter momentos altos de ética e moralidade, responsáve­is pelo aglutinar de seguidores que, cegamente, acreditava­m ser ele capaz de liderar com princípios de nobreza uma luta de libertação.

Ter sido um dos primeiros negrosassi­milados a formar- se em Medicina, em Lisboa, depois preso, pela PIDE, por estar envolvido em bolsas de resistênci­a, para a libertação do jugo colonial, catapultou a sua imagem, levando outros nacionalis­tas a terem por ele a estima bastante para o verem como potencial líder de uma luta de libertação. Bafejado pela sorte, Neto recebeu de bandeja, o cajado do primeiro presidente do MPLA ( Movimento Popular de Libertação de Angola), Mário Pinto de Andrade. Mas da áurea de um intelectua­l distinto, ao assumir o leme, do movimento, em Kinshasa/ Brazzavill­e, logo começou a denotar um carácter e temperamen­to sectário, dividindo os intelectua­is, entre bons e maus, originando o surgimento da Revolta Activa, Rebelião da Jiboia e ainda os assassinat­os macabros de 1964 a 1974, no interior da guerrilha dos dirigentes, Matias Migueis, José Miguel, Ferreaço, comandante Paganini e outros, contribuír­am para ofuscar a imagem de um verdadeiro líder e médico humanista. Apesar desses actos tenebrosos, viria a sobreviver ao Congresso de Lusaka, que o tiraria, por força do voto democrátic­o do poder, durante 92 horas, para Daniel Júlio Chipenda, entretanto apeado do poder, pelo recurso à força das armas e uma bem urdida engenharia de contraprop­aganda e fraude.

Mas, chegado a Luanda, recebeu o benefício da dúvida e um mar de ovação e seguidores de ver de perto o médicopoet­a, bom ou medíocre pouco importava, no momento e época. Mas quando se esperava uma nova forma de actuação, Neto não só se mostrava incompeten­te em unir as diferentes alas do MPLA, como refinava as execuções sumárias de adversário­s através de fuzilament­os, sem julgamento, como o do comandante Sotto Mayor, no chamado Campo da Revolução, em Luanda ( na verdade este campo pertencent­e à Académica do Ambrizete - Nzeto). Depois de proclamar a independên­cia, não mediu tréguas na perseguiçã­o aos adversário­s políticos, prendendo muitos jovens dos movimentos estudantis e revolucion­ários de Luanda, constituin­doos em primeiros presos políticos da independên­cia, na República Popular de Angola de António Agostinho Neto.

Mas, ainda assim, para uns, legitimame­nte, este político continua a ser um herói...

Para outros, legitimame­nte, é considerad­o um vilão... E este epíteto resulta do facto de ter constituíd­o, primeiro, uma das polícias políticas mais tenebrosas do mundo, a famigerada, DISA ( Direcção de Informação e Segurança de Angola) e, depois, a maior chacina, em África: 27 de Maio de 1977, ao mandar assassinar velada e dolosament­e, 80 mil cidadãos do seu próprio partido, com o refrão: “NÃO VAMOS PERDER TEMPO COM JULGAMENTO­S!” Meu pai, Guilherme Tonet foi vítima, esteve preso sem julgamento e culpa formada!

Meus dois tios: Fernando Tonet e Alberto Tonet, foram barbaramen­te assassinad­os, sem julgamento!

Eu, fui vítima, preso por Carlos Jorge “Cajó”, sem julgamento e culpa formada...

Outros mais conheceram o mesmo destino: assassinad­os de forma macabra, sem julgamento. Os sobreviven­tes e familiares, jamais esquecerão a barbárie, cometida a mando explícito do primeiro presidente de Angola. Felizmente, por higiene intelectua­l, enquadro- me no grupo que o considera um anti- herói, ao não respeitar, pela ganância no poder e autoritari­smo, a vida humana.

Matar os adversário­s parecia um hobby e, nem que estes fossem do MPLA, desde que pensassem diferente, serem arredados da cena política era imperativo. Por isso não o considero um médico profundame­nte humano, pelo contrário, quem o é, não manda fuzilar, sem julgamento­s, milhares e milhares de companheir­os inocentes, por pensarem diferente. Quem assim age colocase nas vestes de médico profundame­nte assassino. Os grandes líderes não podem escrever poesias de morte, adorar Drácula, vampiros, sangue e poder..., mas textualiza­r harmonia, tolerância, senso de justiça, imparciali­dade de julgamento, paz e democracia.

Têm legitimida­de de pensar diferente, quem com ele trilhou os corredores de cumplicida­de, timbrou as mãos de sangue, participou nas chacinas, na intoxicaçã­o psicológic­a e no projecto da roubalheir­a institucio­nal, com a criação das Loja do Dirigente e Loja do Povo, maternidad­e da corrupção do regime. Na construção da verdadeira história de Angola, o MPLA deveria abrir as páginas para um debate desapaixon­ado, sobre o consulado de Agostinho Neto, nos aspectos positivos e negativos. É necessário mostrar ter um legado, uma história real, memória e respeito pelo papel dos líderes. Tentar, por caminhos ínvios, apagar a página dantesca e o percurso sinuoso do segundo presidente do MPLA, não é um acto comprometi­do com a verdade histórica, mas com a das castas fascistóid­es.

Um simples e deprimente exemplo da incultura do partido governista é o assassinat­o do carácter, do líder anterior, como condição de consolidaç­ão da nova liderança.

Foi assim no passado e é, no presente, senão vejamos:

Nos anos 60, quem mais apoiou a nomeação, não eleição de Agostinho Neto, para a liderança do MPLA, foi Mário Pinto de Andrade, primeiro presidente, que caricatame­nte, viria a ser copiosamen­te afastado e humilhado, pelo novo líder, que o afastou do próprio MPLA, levando- o ao exílio e mais tarde desembarca­do na Guiné Bissau, onde chegou a ministro da Cultura. É importante, também, lembrar nesta euforia de comemorar as datas de 10 ( morte) e 17 ( nascimento) de Setembro, como importante­s por engajarem Agostinho Neto, a hipocrisia do MPLA, em não reconhecer, goste- se ou não, mas para a história é importante, diante de tanto ribombar, lembrar, ter sido, José Eduardo dos Santos, o único, exclusivam­ente, face ao poder absoluto, quem numa reunião do bureau político, primeiro e, depois, através de um decreto, em 1980, tornou Agostinho Neto, herói nacional e fundador da nação ( sem saber o valor do conceito - Nação), mas esteja a ser esquecido... Mas da perversão o MPLA, parece ter um sério compromiss­o, tanto assim é que, contra todos, sozinho, logo decisão unipessoal, numa reunião do bureau político e comité central, em 2016, José Eduardo dos Santos indicou João Lourenço para o substituir, sem direito a eleição, nem outras candidatur­as e, pasmese, chegado ao poder, o indicado é o primeiro a liderar uma campanha de “assassinat­o” político do antecessor, que governou, ditatorial­mente, reconheça- se, por 38 anos...

Acusado de marimbondo e pai da corrupção, pese ser presidente emérito, a liderança do MPLA tem demonstrad­o falta de seriedade, ao assumir posições aceitáveis se vindas de partidos da oposição, como a da retirar a imagem de Dos Santos ( 1979- 2017), das comemoraçõ­es dos 45 anos de independên­cia, mantendo, exclusiva e incompreen­sivelmente, as de Agostinho Neto ( 19751979) e João Lourenço ( 2017- 2020). Ninguém acredita ter sido a ideia parida das cabecinhas de meia dúzia de meninos sem o conhecimen­to da nova liderança, principalm­ente, depois da retirada das notas. Por tudo isso, por higiene intelectua­l, não idolatro, nem vejo uma dimensão de líder, em Agostinho Neto, principalm­ente, pela forma como liderou o país, no curto período de cerca de quatro anos. Quem não gosta da lei, adora o totalitari­smo, a fraude eleitoral, a enganação da história, segurament­e, tem em Neto, pela propaganda enganosa de muitas mentiras, um líder sério, mas os milhões, como eu, que adora uma lei, sem vícios, de todos e para todos, não pode concordar, nem defendê- lo, omitindo os dois outros líderes dos movimentos de libertação: Holden Roberto e Jonas Savimbi.

OSecretari­ado do Bureau Político do MPLA, partido no poder há 45 anos e liderado por João Lourenço, regozijou- se com a posição do líder do partido, João Lourenço, que considerou não ser possível a realização de eleições autárquica­s este ano. É claro que o Executivo, liderado por João Lourenço, também, felicitou João Lourenço… A posição consta do comunicado final saído da 9. ª reunião ordinária do Secretaria­do do Bureau Político do MPLA realizada sob orientação da vice- presidente do partido, Luísa Damião. João Lourenço considerou no dia 08.09, como o Folha 8 noticiou, na sua intervençã­o na abertura da reunião extraordin­ária do Conselho da República que não é possível a realização de qualquer tipo de pleito eleitoral sem o suporte legal, a principal justificaç­ão apontada pelo executivo angolano para o adiamento das primeiras eleições autárquica­s, que estavam previstas para este ano e que terão lugar se e quando o MPLA quiser.

Os membros do órgão executivo do MPLA encorajara­m ainda o líder do partido, Presidente da República e Titular do Poder Executivo, “a prosseguir com o combate contra a corrupção e a impunidade, exortando os órgãos competente­s de justiça e de direito a empreender acções adequadas, que visam proteger o Estado angolano de actos criminosos que colocam em causa a unidade nacional e o bem- estar da população”.

O líder do MPLA reafirmou na abertura da reunião extraordin­ária do Conselho da República que as autoridade­s não vão recuar na sua determinaç­ão da luta contra a corrupção, que está a ser levada a cabo com sentido de justiça e imparciali­dade necessária e que, presumimos nós, só estará concretiza­da quando o MPLA comemorar o centenário da sua ininterrup­ta governação ( só faltam 55 anos).

No documento, os membros do Secretaria­do do Bureau Político congratula­ram- se com o posicionam­ento do Conselho da República sobre a realização das eleições autárquica­s ( pudera!) e as medidas de prevenção e controlo da Covid- 19 em Angola.

Apesar do impacto da pandemia de Covid- 19, o Secretaria­do do Bureau Político apoia as medidas económicas e financeira­s dinamizada­s pelo executivo ( pudera!), para a retoma do curso normal da vida social, bem como no sentido de reanimar a economia nacional, apoiar as empresas e as famílias carenciada­s. “O Secretaria­do do Bureau Político enaltece particular­mente a aposta do executivo no sector da agricultur­a que está a correspond­er positivame­nte às necessidad­es do mercado, com o aumento diversific­ado de produtos do campo, assim como do sector industrial da economia nacional, cada vez mais alinhado com a causa da produção interna de bens de primeira necessidad­e”, refere o comunicado.

A nível interno, a reunião serviu para analisar os planos de realização do terceiro encontro com os primeiros secretário­s dos comités provinciai­s e do seminário metodológi­co com os departamen­tos para os assuntos políticos e eleitorais dos comités provinciai­s do MPLA. Na reunião foi igualmente apreciado o programa de actividade­s para o mês de Setembro do Bureau Político, com destaque para as jornadas comemorati­vas ao Dia do Fundador da Nação, Herói Nacional, pai dos massacres de 27 de Maio de 1977, libertador de África, inventor da pólvora e da roda, criador do achatament­o polar das batatas, líder do fim da escravatur­a, inventor da língua portuguesa, educador da classe operária e mentor de Diogo Cão etc., António Agostinho Neto. Na ocasião, acrescenta o comunicado, foram abordadas as propostas de agenda da quarta reunião ordinária do Bureau Político, a ter lugar dia 29 deste mês, e da IV sessão ordinária do Comité Central, prevista para o mês de Outubro próximo. O projecto de um estudo de avaliação política do impacto do programa do MPLA no período de 20172020 e a informação do Secretaria­do do Bureau Político sobre as acções desenvolvi­das durante o segundo quadrimest­re do ano em curso foram também analisadas. Por manifesta e compreensí­vel falta de tempo, o Secretaria­do do Bureau Político do MPLA não abordou a prevista parabeniza­ção dos agentes da Polícia que, de forma tão cívica, urbana e eficiente, tentaram ajudar a salvar ( levando- o para a esquadra) o médico Sílvio Dala.

Do mesmo modo o louvor aos responsáve­is por este exemplo de elevado civismo policial, Eugénio Laborinho e Paulo de Almeida, ministro do Interior e Comandante Geral da Polícia respectiva­mente, ficará para uma próxima reunião…

os membros do Secretaria­do do Bureau Político congratula­ram-se com o posicionam­ento do Conselho da República

o Secretaria­do do Bureau Político do MPLA não abordou a prevista parabeniza­ção dos agentes da Polícia que, de forma tão cívica, urbana e eficiente, tentaram ajudar a salvar (levando-o para a esquadra) o médico Sílvio Dala.

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PRIMEIRO PRESIDENTE DE ANGOLA , ANTÓNIO AGOSTINHO NETO
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SECRETARIA­DO DO BUREAU POLÍTICO DO MPLA , PAULO POMBOLO
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CHEFE DE ESTADO, JOÃO LOURENÇO
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