Folha 8

NEGÓCIO AUTOMÓVEL

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Um exemplo mais apurado do uso do poder do Estado, para benefício dos negócios particular­es do MPLA e das famílias reinantes, é o caso da linha de montagem de viaturas Volkswagen e Skoda em Angola. A 23 de Dezembro de 2004, o Conselho de Ministros aprovou a Resolução n° 39/ 04 autorizand­o a Agência Nacional de Investimen­tos Privados ( ANIP) a celebrar um contrato de investimen­tos com a empresa americana Ancar Worldwide Investment­s Holding, avaliado em 48 milhões de dólares. A 26 de Janeiro de 2005, a ANIP rubricou o contrato para a montagem de 160 viaturas por dia das referidas marcas, no Pólo Industrial de Viana, em Luanda.

Esse contrato foi assinado após a ANCAR se ter comprometi­do a ceder 49% das quotas da sua filial em Angola a cinco entidades saber:

Acapir Lda., empresa da filha do Presidente da República, Welwitchia dos Santos, vulgo Tchizé dos Santos. Mbakassi & Filhos, representa­nte oficial da Volkswagen em Angola; GEFI, empresa do MPLA; Suninvest, braço de investimen­tos da Fundação Eduardo dos Santos ( FESA), instituiçã­o privada do Presidente da República;

Tchany Perdigão Abrantes, prima de Tchizé dos Santos, filha do Presidente da República. Três dias após a assinatura do contrato, o presidente da FESA, Ismael Diogo, convocou, para uma reunião na sede da FESA, um representa­nte da Ancar, Carlos Garcia, o proprietár­io da Mbakassi & Filhos, António Mosquito, e, como testemunha, o então administra­dor da FESA e nacionais,

apresident­e da Suninvest, António Maurício. Ismael Diogo expediu a convocatór­ia, conforme a acta do encontro, “na qualidade de mandatário de Sua Excia, o Presidente da República Eng. José Eduardo dos Santos, para esclarecim­ento das circunstân­cias e veracidade de que a participaç­ão na sociedade ‘ Ancar – Automóveis de Angola’ da ACAPIR Lda. se devia ao facto de uma sócia ser filha do Chefe de Estado para a obtenção de favores deste para aprovação do projecto de investimen­to da Ancar Worldwide Investment­s Holding (…)”

A Mbakassy & Filhos sentiu- se lesada ao lhe ter sido retirados 16% da quota a si destinada para acomodação da filha do presidente, então nomeada vice- presidente do Conselho de Administra­ção da Ancar – Automóveis de Angola.

Segundo a acta “Em momento nenhum a Ancar Worldwide Investment­s Holding justificou a oferta de 16% a ACAPIR Lda. ao facto de dela ir beneficiar de favores de Sua Excia. o Presidente da República na aprovação do projecto”. A decisão final na aprovação do projecto da Ancar, em Conselho de Ministros, coube ao Presidente Dos Santos, como chefe do Governo.

A importânci­a da nota sobre a Ancar revestese no facto de ter havido uma disputa de interesses comerciais ao nível do regime e não sobre a legalidade e transparên­cia do negócio. José Eduardo dos Santos esteve enredado num acto de claro tráfico de influência a favor da sua fundação, da sua filha, e da GEFI, empresa do seu partido, a quem cabe 12% das quotas do projecto.

O caso, a interno, mereceu nível outra reunião para melhor redistribu­ição das quotas entre os interesses da família presidenci­al, a participaç­ão comercial do MPLA e do empresário Mosquito, um privilegia­do das políticas exclusivas de distribuiç­ão de riqueza do MPLA. Todavia, segundo informaçõe­s veiculadas pela imprensa alemã, em Julho de 2005, o presidente da Volkswagen, Bernd Pischetsri­eder, adiou os planos de instalação da linha de montagem de viaturas, em Angola, devido a alegações de corrupção de gestores seus ligados ao projecto. Na indústria auto, a GEFI foi beneficiár­ia da privatizaç­ão, por ajuste directo, da fábrica de pneus Mabor. Para o efeito, a GEFI ficou com 60% das quotas da empresa proprietár­ia da referida unidade fabril, de grande porte. A mesma encontra- se paralisada.

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