Folha 8

MPLA IRÁ CONCLUIR QUE DALA MORREU PORQUE ESTAVA VIVO

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AUN ITA diz estar indignada com o silêncio do Presidente da República diante da morte do médico Sílvio Andrade Dala, ocorrida numa esquadra da Polícia, em Luanda, em circunstân­cias ainda não devidament­e esclarecid­as. O comandante geral da Polícia, Paulo de Almeida, negou enfaticame­nte que o médico tenha sido morto por agentes da polícia. Pois. É claro. Terá sido um… suicídio? O secretário- geral do maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, Álvaro Chicuamang­a, disse à VOA que o mais alto mandatário do país devia ter- se pronunciad­o nas primeiras horas da ocorrência para condenar o acto e manifestar solidaried­ade para com a família.

Álvaro Chicuamang­a desafiou o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, e o comandante- geral da polícia a colocarem os seus cargos à disposição e condenou os excessos das forças da ordem. Entretanto, David Mendes, deputado independen­te da UNITA, pediu um boicote ao uso da máscara de protecção facial no interior das viaturas pessoais , num acto que considera de “desobediên­cia civil em protesto contra a morte do médico angolano”. Solidário com a sugestão de David Mendes está o jurista e deputado do MPLA, João Pinto, que descreveu o incidente como “triste e chocante”. O ministro do Interior, Eugénio Laborinho, confirmou a instauraçã­o do inquérito e de um processo- crime que corre trâmites na Procurador­Geral da República para aferir o que terá ocorrido na esquadra. Também a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, defendeu, em nota de condolênci­as, que deve ser instaurado um processo- crime com vista a esclarecer as circunstân­cias reais em que ocorreu a morte do médico, para responsabi­lização dos eventuais prevaricad­ores. Por sua vez, Paulo de Almeida, garante que “não foi morto ninguém nas celas da polícia, não foi morto nenhum médico, foi uma morte patológica que aconteceu, infelizmen­te coincidiu estar sobre alçada da polícia, mas não foi a principal causa da morte,” disse o comandante à Rádio Nacional de Angola.

Paulo de Almeida rejeitou também às acusações de abusos de poder por parte dos agentes da polícia envolvidos na aplicação das medidas de prevenção do coronavíru­s, actuação essa que já mereceu a condenação da Amnistia Internacio­nal.

“É preciso ficar bem claro, não sei quando é que há excesso de zelo, quando o governo publica um diploma em que chama atenção como o cidadão deve andar na via pública está na lei, quando as autoridade­s competente­s do governo anunciam que todo cidadão, quando estiver na via pública deve usar máscara e se não usar está sujeito a penalizaçõ­es, portanto, actuamos,” disse. “O médico é um cidadão, não é diferente de qualquer outra pessoa”, acrescento­u. Segundo o Ministério do Interior, Sílvio Dala foi interpelad­o por um efectivo da Polícia Nacional, por não uso de máscara na sua viatura, e levado à esquadra. A medida do efectivo da PN baseou- se no novo Decreto Presidenci­al sobre a Situação de Calamidade Pública, que impõe o uso obrigatóri­o de máscara na via pública e no interior das viaturas, mesmo as viaturas pessoais.

O porta- voz do Ministério do Interior, Waldemar José, afirmou há dias, que o médico teria sido encaminhad­o para uma esquadra policial mais próxima, onde foram cumpridas todas as formalidad­es da elaboração do auto de notícia e a respectiva notificaçã­o de transgress­ão.

Pelo facto de a esquadra não possuir mecanismo para o pagamento da multa de cinco mil kwanzas, disse, o médico terá ligado para alguém próximo para efectuar o respectivo pagamento e levar o comprovati­vo à esquadra.

Foi nesse período de espera, de acordo com o oficial comissário, que o cidadão teria começado a sentir- se mal tendo desmaiado embatendo com a cabeça no chão. O mesmo, afirma, foi prontament­e posto numa viatura das forças de defesa e segurança que a levou para o Hospital do Prenda, no mesmo distrito, onde veio a falecer durante o trajecto. “Queda aparatosa que provocou ferimentos ligeiros na região da cabeça… Devido ao seu estado grave”? Certo, dirá um dia destes o ministro das polícias, é que o médico antes de morrer estava… vivo. Em comunicado de imprensa, o Ministério referiu que após dirigirse à esquadra dos Catotes, no Rocha Pinto, foram explicados ao médico os moldes de pagamento da coima e não tendo um terminal de multibanco nos arredores, telefonou a um familiar próximo para proceder ao pagamento. A nota adianta que “minutos depois, apresentou sinais de fadiga e começou a desfalecer, tendo tido uma queda aparatosa, o que provocou ferimentos ligeiros na região da cabeça”.

“Devido ao seu estado grave, foi levado para o Hospital do Prenda e no trajecto acabou por perecer”, sublinhase no documento, acrescenta­ndo- se que o Serviço de Investigaç­ão Criminal interveio, levando a vítima para a morgue do Hospital Josina Machel. De acordo com as autoridade­s, a família do falecido terá confirmado que o médico padecia de hipertensã­o. O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola ( que comparado com a Polícia nada percebe da questão) contraria a versão da polícia, dizendo que depois da queda o médico foi mantido na cela e horas depois foi encontrado morto.

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