O ESTRANHO CASO DE “TANDA” – UMA VIAGEM A OBRA DE ADRIANO MIXINGE
“TANDA” é uma narrativa do prosador angolano Adriano Mixinge na qual uma mulher narra a sua vida, a da sua família e mostra as suas visões sobre Angola e as artes. Em “TANDA”, a prosa mescla-se com a poesia, e a substância do tema fulcral não é conhecida
Aobra é composta por três partes que, em vez de capítulos, como habitualmente são chamados, o prosador de “Tanda”, Adriano Mixinge, as designa por Primeiro Ano, Segundo Ano, Terceiro Ano e, ainda, por cinco poemários: Azulejo Escarlate, Folhas Ébrias, Epitáfios para uma tecelã, Veus Embalsamados e Epitáfios para uma hilandra.
Nos dizeres de Carmen Secco, a posfaciadora da obra, os poemas em Tanda, funcionam como dobradiças especulares que refletem não só a cartografia caleidoscópica da vida de Tanda expressa pelas memórias da infância, da adolescência e da itinerância por vários espaços e cidades, mas também o percurso da personagem por entre as Artes e a história de Angola. No primeiro ano, como bem afirma Secco, a protagonista faz seu exercício de memória interior, recordando episódios marcantes de sua história pessoal e social. Questionase sobre os limites que existem entre a arte e a tragédia humana, recorda a guerra colonial, a sua ida a cuba. No Segundo Ano, a personagem central explora as reflexões sobre a literatura e as artes. Aqui, a personagem, juntando o presente e pretérito de Angola, manifesta- se contra a exploração dos roboteiros, homens que carregam mercadorias nos mercados de Luanda, e contra o trabalho infantil…
No Terceiro Ano, a personagem- narradora mostra, profundamente, o seu descontentamento para com o modo como andam as pessoas e as coisas na cidade de Luanda, ela aborda sobre o saneamento, o lixo, as kitandeiras, as politiquices, a corrupção, a miséria e a homossexualidade. Ora, depois de lermos cautelosamente a obra, compreendemos que Tanda, a personagemnarradora, é metáfora de Angola, dos múltiplos assuntos que têm ocorrido na sociedade angolana e, se se excluir o género feminino e a homossexualidade de Tanda, quase se pode dizer que a obra é uma biografia do próprio autor (?). Para sabermos realmente quem seja Tanda, apreciemos o que a personagem- narradora diz: “Eu sou Tanda, a mulher- água, essa que em Kikongu pode significar várias coisas, em dependência da frase ou das circunstâncias.”
Para se estabelecer uma classificação tipológica de romance, segundo Kayser como referido em Borregana ( 2003, p. 305) há que atender aos elementos fundamentais da narrativa, isto é, ao evento ( acção ou acções), à personagem e ao espaço Assim, cabenos classificar “Tanda” como um Romance de Personagem, caracterizado, segundo os autores acima, por uma personagem central, na qual o narrador presta maior atenção, desenhando- a demoradamente. Desenvolvendo este romance à volta desta personagem, é natural que assuma um tom confessional, carregado de subjectivismo lírico. Geralmente, o título destes romances é o nome da personagem central. Desta feita, “Tanda” figura no grupo de obras como “Weather”, de Goethe e “A Queda de um Anjo”, de Camilo. À guisa de conclusão, podemos dizer que “Tanda”, um romance de personagem, é uma obra que demais se parece com um museu imaginário ( lugar mental, espaço imaginário sem fronteiras que nos habita, segundo Malraux, 2012), é uma obra que retrata a vida de uma mulher, da sociedade angolana e propõem uma nova configuração da ficção na instituição Literatura Angolana.