Folha 8

SINSE VAI PÔR O MILHO A CRESCER?

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O Presidente angolano autorizou um crédito adicional de 2.677 milhões de kwanzas ( 3,4 milhões de euros) para o pagamento de despesas do Sinse ( Serviço de Informação e Segurança do Estado), refere um diploma do 01.12 publicado no Diário da República. É compreensí­vel. Se a pandemia do Covid- 19 e a crise petrolífer­a não afectam a distribuiç­ão financeira do Governo, os 20 milhões de pobres… também não. O documento acrescento­u que o crédito “deve ser atribuído faseadamen­te, em função das necessidad­es de pagamento e após esgotadas todas as verbas atribuídas inicialmen­te”. Ou seja, às prestações. Tal como fazem, todos os dias, os milhões de pobres: só comem hoje o que encontrara­m nos caixotes do lixo há três ou quatro dias. Num outro diploma com a mesma data, 26 de Novembro, o Presidente João Lourenço, aprovou a implementa­ção da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida ( DSSI), lançada pelo G20, e autorizou a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, a negociar, aprovar e assinar os termos e condições específica­s de qualquer documentaç­ão relacionad­a com esta iniciativa.

Por outras palavras, tudo quanto seja para conseguir mais fiado ou, se possível, não pagar o fiado já conseguido deve ser assinado sem demoras nem hesitações. Aliás é visível a coerência e consistênc­ia da política financeira e económica do Governo: milhões para a “Secreta” mesmo ao lado da mendicidad­e dos autóctones. Na semana passada, a ministra participou num evento ‘ online’ “Investir em África”, realizado pela agência Bloomberg, indicando estarem ainda a ser negociados os termos do acordo do pagamento da dívida aos principais credores.

“Em relação aos credores na China, beneficiám­os da iniciativa DSSI com um dos credores nas mesmas condições que os outros bancos que fazem parte da iniciativa. Ao mesmo tempo estamos, também, a negociar com outros dois credores com quem temos parcerias comerciais. Uma negociação que nos dê um alívio fiscal e que nos permita gastar com outras despesas, muito necessária­s como a saúde”, referiu. Nada de mais coerente. Se os Serviço de Informação e Segurança do Estado precisavam de mais unas largos milhões para garantir a sua “saúde”, eles aí estão. E é deste tipo de “saúde” que fala o governo de João Lourenço e não daquela que, quando falha, mata as pessoas e que não preocupa quem quando tem necessidad­e voa para Inglaterra, EUA ou Espanha para se tratar. De acordo com Vera Daves de Sousa, o desejável seria um alívio fiscal para os próximos três anos, começando a contar em 2020, estimando que desse negociação resultaria um alívio de poupança de quase 6 mil milhões de dólares ( cinco mil milhões de euros) resultante­s da negociação, o que se traduziria numa grande ajuda para alavancar a economia e financiar os inúmeros “Sinses” que ajudam a manter a ditadura. Recorde- se que a ministra da hipocrisia, Vera Daves, disse num encontro do Fundo Monetário Internacio­nal que as principais prioridade­s a curto prazo são impedir um colapso do sistema de saúde e garantir a sustentabi­lidade da dívida. E assim se vai, uns cantando e rindo, outros morrendo quando estavam quase a saber viver sem comer. “A primeira prioridade é sobreviver, preservar a vida tanto quanto possível e assegurar que o sistema de saúde não colapsa, e depois manter a sustentabi­lidade da dívida, que são os nossos principais pilares da estratégia a curto prazo”, respondeu Vera Daves, quando questionad­a sobre as prioridade­s do Governo angolano para os próximos meses… caso do Sinse.

O FMI prevê que Angola enfrente uma recessão de 4% este ano, marcando o quinto ano consecutiv­o com um cresciment­o negativo, e que a dívida pública suba para os 120,3% do PIB.

A ministra falava num encontro virtual organizado pelo FMI, no âmbito dos Encontros Anuais, com o título “Pós- Covid- 19: Recuperaçã­o e Resiliênci­a”, que contou com a participaç­ão da directora executiva do FMI, Kristalina Georgieva.

“Temos de olhar para as expectativ­as da nossa população e para a necessidad­e de garantir um cresciment­o inclusivo, precisamos de crescer mais de 3%, que é o ritmo a que a nossa população cresce, para assegurar as condições para terem acesso a empregos e serviços públicos de qualidade”, apontou a ministra das Finanças. Ministra da Hipocrisia, num governo de hipócritas, é uma boa designação. Na conversa que manteve com a jornalista da Bloomberg Francine Lacqua, e na qual participar­am também o director- geral da Blackrock e o enviado especial das Nações Unidas para a Acção e Financiame­nto sobre o Clima, Vera Daves admitiu que é difícil gerir as necessidad­es financeira­s de curto prazo e, ao mesmo tempo, definir estratégia­s mais longas. Sendo, contudo, certo de que a longo prazo uma guerra, uma purga, um pandemia ajudam a diminuir o número de pobres, solidifica­ndo a tese de que os angolanos devem viver sem comer e morrer sem ficarem doentes.

“Precisamos de tratar dos assuntos de curto prazo, a saúde, a dívida, mas também precisamos de ter condições adequadas para crescer e atrair investimen­to e tornar real o enorme potencial que Angola tem”, defendeu a governante, certamente a pensar ( entre outros investimen­tos estratégic­os e potenciado­res da nossa economia) no Serviço de Informação e Segurança do Estado. Durante a sessão, Vera Daves voltou a pedir uma extensão da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida ( DSSI) e argumentou que o “espaço para respirar” dado por esta iniciativa é importante, mas precisa de ser complement­ado com novos financiame­ntos. Ou seja, mais fiado, mais tempo para pagar o fiado.

“Precisamos de combinar estas iniciativa­s de suspender ou adiar o serviço da dívida com uma iniciativa que permita financiame­nto fresco para garantir que podemos recuperar a economia e as empresas que lutam para ter acesso a esses fundos, já que o Estado, por si próprio, não consegue apoiar todas as Pequenas e Médias Empresas ( PME) que lutam para ficar abertas e não despedir pessoas”, argumentou Vera Daves. Tal como acontece com o Sinse ( Serviço de Informação e Segurança do Estado). As reformas “só são possíveis com coragem e optimismo”, acrescento­u, concluindo que “as pessoas têm de acreditar que hoje podem sofrer, mas amanhã terão os benefícios do sofrimento trazido por todas estas reformas”. Vejam o exemplo do Sinse ( Serviço de Informação e Segurança do Estado).

O FMI prevê que Angola enfrente uma recessão de 4% este ano, marcando o quinto ano consecutiv­o com um cresciment­o negativo, e que a dívida pública suba para os 120,3% do PIB. Mas o Sinse ( Serviço de Informação e Segurança do Estado) vai tratar do assunto.

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MINISTRA DAS FINANÇAS , VERA DAVES

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