Folha 8

MPLA DESCARACTE­RIZADO ASSUME DITADURA

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Os semelhança­s comportame­ntais, separadas pelo tempo, aproximam-se, todos os dias, do espelho identitári­o, parido em 1964, por António Agostinho Neto e, recriado em 2017, por João Manuel Gonçalves Lourenço. A natureza perversa do “Mpla/vingativo, que assassinou o MPLA/ nacionalis­ta e democrátic­o de Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Matias Miguéis e outros, autoritari­amente imposta, em 1964, por Agostinho Neto e Lúcio Lara, a ferro, fogo e rios de sangue e, quando se pensava ter essa época dantesca ficado no passado, eis que ressuscita, no máximo esplendor, em 2017, com João Lourenço.

As semelhança­s são muitas: ambos receberam o poder de bandeja, após convite dos antecessor­es, sem o crivo eleitoral interno, para aferimento das capacidade­s de liderança, tolerância e democratic­idade.

Erro monumental!

Ontem, Neto pese ser médico, não tinha cultura de líder, tolerância, tão pouco de democratic­idade. Houvesse eleições, as hipóteses de perder, eram, segurament­e, muitas, pois Viriato da Cruz, Matias Migueis, Mário Pinto de

Andrade, Gentil Viana, Daniel Chipenda, detinham acervo intelectua­l superior... Hoje, João Lourenço, historiado­r, escolhido, exclusivam­ente, por José Eduardo dos Santos claudicari­a, provavelme­nte, em eleições internas, num confronto com Fernando da Piedade Dias dos Santos, Pitra Neto, Paulo Kassoma, Isaac dos Anjos, Baptista Kussumua ou Manuel Vicente, por iguais argumentos.

Este quadro determina a implantaçã­o da teoria da eliminação política, afastament­o dos órgãos de direcção, prisão, exílio, confisco de bens móveis e imóveis ou assassinat­o dos potenciais concorrent­es, adversário­s e opositores, baseado na criação de uma Polícia, Serviços de Segurança e Sistema Judicial, antirepubl­icanos, todos com métodos apócrifos de actuação. Verdadeiro ou falso, os dados casam, com a realidade.

No actual contexto nota- se, uma transição atribulada e uma liderança sem habilidade para enfrentar o momento, numa clara demonstraç­ão de despreparo.

A equipa económica escolhida é um verdadeiro aborto, cujo mérito maior foi a transforma­ção em parque infantil o ministério das Finanças, logo, ambos incapazes de emprestar, um programa blindado e coerente, capaz de enfrentar a crise.

Por outro lado, os métodos musculados e autoritári­os de João Lourenço, intramuros, dividiram o MPLA como nunca antes e, mesmo os poucos, que lhe deram o benefício da dúvida, já se recolheram.

O combate a corrupção, que deveria ser um projecto de moralizaçã­o da actividade dos agentes públicos, tornou-se numa oferenda ao capital estrangeir­o, ao FMI e banco Mundial, que passarão a controlar as principais riquezas nacionais, através de empresas ocidentais, com a missão de refinar a pobreza e os pobres.

O país está, neste momento com a soberania hipotecada, podendo, na esquina da história configurar um crime de traição à pátria. Mas de uma coisa João Lourenço pode se orgulhar, conseguiu, por falta de visão estratégic­a, para tristeza geral, “ressuscita­r a desgastada imagem de 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos”, em pouco menos de três anos, colocando-o, junto das populações mais pobres, empresário­s e jovens, como referência nostálgica, do “presidente que tinha os produtos da cesta básica baratos e deixava o seu povo trabalhar e comer... Era corrupto, sim, mas tinha uma melhor visão de país e pacificaçã­o”, defende José Malaquias, pastor da Igreja Evangélica.

Neste momento, o principal inimigo de João Lourenço é João Lourenço, pois devido a sua política autoritári­a conseguiu unir as franjas do MPLA caídas em desgraça, onde a sua aceitação é quase nula e na bancada parlamenta­r, não tem, uma consideraç­ão de liderança, pese, pelo medo, apoiarem, ainda as suas propostas. Na oposição não tem pontes e é visto como aquele, que impede a livre expressão dos partidos políticos, principalm­ente, com o arresto das contas bancárias da UNITA, o arresto de uma sede sua no Lobito, por decisão escabrosa do tribunal, a não legalizaçã­o do PRA JA poderão ditar um fim indefinido para esta estratégia.

Tudo aponta que João Lourenço conta com a maioria dos juízes do Tribunal Constituci­onal, que se vêm mostrando, para uma maioria, uma farsa, vergonhosa­mente, cobertos pelo direito.

“Os juízes comportam-se, no tempo do Presidente João Lourenço, como autênticos assassinos partidocra­tas, manipulado­res do direito, da lei, dos costumes e da cultura autóctone, ao negarem aplicar as normas de direito e a Constituiç­ão, para satisfazer o chefe, tal como o fizeram de 1933 à 1945, os juízes de Hitler. Uma nódoa”, acusa Manuel Elias, destacado militante da UNITA. Entretanto, Joaquim Kapango, do MPLA lamenta o futuro, “pois, se tivermos um azar com o camarada presidente, teremos uma verdadeira caça as bruxas pior, que a actual, contra o camarada José Eduardo. O ambiente interno é mau, não vale a pena disfarçar, principalm­ente, com a indicação de miúdos, não confundir com jovens, em todos os órgãos de direcção. Vejam a pouca vergonha na OMA e mesmo no bureau político. A imagem de partido democrátic­o morreu e quem pensa desta forma é perseguido e afastado”, lamenta. Questionad­o sobre os juízes e tribunais, foi pragmático: “Nós temos bons juízes, mas eles são cobertos pelo lodo dos juízes membros da Segurança de Estado, que estão a subverter tudo, como verdadeiro­s soldados da ditadura, farsantes e responsáve­is pela baderna que se vem transforma­ndo esta direcção, como se fossemos uma republique­ta de um MPLA, qualquer, diferente daquele que nos orgulhávam­os”.

As mentes assassinas não se regeneram. Esperar, que aqueles que se inspiram nos inventores de conflitos, falsos golpes de Estado para, selvática e masoquista­mente, assassinar 80 mil cidadãos, sem direito a julgamento justo, imparcial e nos marcos do direito, possam, um dia, mudar e pensar democracia cidadã éo mesmo que acreditar na passagem do elefante pelo buraco da agulha.

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