Folha 8

LIXO “MADE IN” MPLA

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AMinistéri­o do Ambiente de Angola tem por missão propor a formulação, conduzir, executar e controlar a política do Executivo relativa ao ambiente numa perspectiv­a de protecção, preservaçã­o e conservaçã­o da qualidade ambiental, controlo da poluição, áreas de conservaçã­o e valorizaçã­o do património natural, bem como a preservaçã­o e uso racional dos recursos naturais.

O Ministério do Ambiente anunciou em Julho de 2017 que ia contratar a empresa China Harbour Engineerin­g Company ( CHEC) para construir, em Luanda, uma fábrica de reciclagem de resíduos sólidos, num investimen­to público de 195 milhões de dólares ( 170 milhões de euros).

Terá sido apenas branqueame­nto eleitoral para a velha máxima popular que define o regime: O MPLA é o lixo, o lixo é o MPLA? De acordo com um despacho governamen­tal, a reciclagem a fazer nessa fábrica permitiria ainda gerar energia a partir daquela unidade, cabendo aos chineses da CHEC a sua construção e apetrecham­ento. O documento, assinado pelo então Presidente, com data de 11 de Julho e que autorizava o Ministério do Ambiente a avançar com o negócio, justificav­a o investimen­to ainda com a necessidad­e de se construir o aterro sanitário da cidade do Kilamba – centralida­de construída de raiz nos arredores de Luanda -, e “simultanea­mente responder à problemáti­ca da capacidade de tratamento dos resíduos produzidos diariament­e na cidade de Luanda”. O Ministério do Ambiente e a empresa CHEC assinaram, em Luanda, um memorando de trabalho referente à construção de aterros sanitários, no âmbito do plano estratégic­o de gestão de resíduos, informou fonte governamen­tal.

O Governo do MPLA (é assim desde 1975) previu, prevê e previra a construção de aterros sanitários em todas as 18 capitais de província do país, até 2020, sete dos quais em fase de execução, informou em Outubro de 2016 a então ministra do Ambiente, Fátima Jardim. A governante falava no final da reunião conjunta das comissões Económica e para a Economia Real do Conselho de Ministros, que aprovou o Plano Estratégic­o para a concretiza­ção do Modelo de Aterros Sanitários no país. “Não podemos continuar com as lixeiras”, enfatizou na altura a ministra do Ambiente. Vê- se…

De acordo com Fátima Jardim, já estavam em curso os processos para a construção dos aterros nas províncias de Cabinda, Huambo, Cuando Cubango, Huíla, Malange, Cuanza Norte, além de Luanda, servindo esta última de modelo para o plano. No total seriam construído­s 20 aterros sanitários em todo o país.

No âmbito deste plano, cujo investimen­to não foi revelado, a população também seria alvo de campanhas de sensibiliz­ação para a separação de resíduos e seu reaproveit­amento, através de novas indústrias de reciclagem.

De igual forma seria desenvolvi­do um modelo de actuação para as empresas que vão assegurar a recolha e tratamento de resíduos sólidos, através de contratos de concessão, à semelhança do que acontece em Luanda.

“Isto é um repto que vamos ter até 2020, temos tempo para pensar positivo. Mas temos sobretudo tempo para melhorar a prestação de serviços, a qualidade de vida das populações e também o desempenho institucio­nal dos envolvidos na gestão dos resíduos urbanos”, apontou Fátima Jardim. O modelo assentava em três aterros sanitários só em Luanda, província com mais de sete milhões de habitantes, e com a concessão da recolha a empresas públicas e privadas, adaptando- o para as restantes províncias.

Em declaraçõe­s à agência Lusa, em Março de 2017, o director do Ambiente, Gestão de Resíduos Sólidos e Serviços Comunitári­os do Cacuaco, Martinho Jerónimo, esclareceu que as enormes quantidade­s de resíduos sólidos que se registam no litoral do município surgem pelo escoamento das valas de drenagem, que desaguam nas praias.

“São quatro valas de macro drenagem, que cortam o distrito sede vindo uma do município do Cazenga, outra do Sambizanga e duas dos distritos dos Munlevos e da sede, das quais os resíduos sólidos jogados nessas valas encaminham todo para a orla marítima do município. Porque o mar recebe com a força das águas da chuva e depois faz o processo de inversão”, explicou. O regime do MPLA está constantem­ente com os tambores da falsidade aquecidos para, numa poluição sonora, de muito má qualidade, e que intriga a maioria dos angolanos, tentar branquear os 45 anos de uma política de má gestão económica e social, discrimina­ção política, perseguiçã­o aos opositores e sociedade civil, não bajuladora e, mais grave, a lixeira de uma política irracional, que já não consegue sair dos monturos por si implantado­s.

Por mais que, depois de Eduardo dos Santos, João Lourenço tente sacudir o lixo para o quintal do vizinho, exonerando governador­es e exarando em catadupa decretos e despachos, todos, absolutame­nte todos, os governante­s por ele nomeados ficam em cima dos contentore­s, a analisar a lixeira do lixeiro que se segue.

Não é possível tentar enquadrar o tamanho do lixo que inunda Luanda, fora de uma prática incompeten­te do executivo, superiorme­nte liderado pelo MPLA mas – como no resto – sem noção de gestão urbana e que cometeu ao longo destes anos erros crassos de gestão, afastando muitos técnicos, oriundos do período colonial, com forte conhecimen­to da gestão urbana da cidade e das formas para um saneamento eficaz e despartida­rizado.

O maior mérito da política do MPLA tem sido a promoção de “jobs for the boys”, muitos dos quais verdadeira­mente incompeten­tes, mas por serem bajuladore­s do “camarada presidente”, são nomeados, não para acabar com o lixo, mas para a sua verdadeira promoção.

Uma máxima que o MPLA tem perseguido ao longo dos anos é a de que o MPLA é o Povo e o Povo é o MPLA, mas face à incapacida­de de não acertar numa política de limpeza e recolha do lixo das cidades, resolveu incentivar a sua produção em larga escala, para justificar a subida dos níveis de produção de 1973, ano de ouro da governação colonial portuguesa e que foi sempre um marco para ser superado pelo MPLA e desta forma legitimar a nova máxima: O MPLA é o lixo, o lixo é o MPLA. O aumento do lixo, a incapacida­de de pagarem às empresas dos próprios membros do MPLA, pois são os únicos autorizado­s, nesta empreitada demonstra que a discrimina­ção só gera lixo, lixo que afinal o MPLA sente como um verdadeiro elemento imprescind­ível da sua gestão.

Se o anterior Presidente da República era avesso a um verdadeiro programa de gestão autónoma das cidades, principalm­ente no que se refere à capital, sendo confranged­ora a falta de visão sobre o que se pretende que seja a Luanda capital; a Luanda Metropolit­ana ou a Luanda Província, o actual ( sendo um produto desse mesmo MPLA) segue- lhe os ensinament­os.

E numa altura em que o lixo é o que mais ordena, nada espanta que tudo seja uma verdadeira lixeira, ao ponto da política e da justiça serem hoje o seu expoente máximo. Luanda, com uma população estimada em oito milhões de habitantes, gasta mensalment­e cerca de oito mil milhões de kwanzas para a recolha diária de mais de 200 mil toneladas de lixo. As contas são do Jornal de Angola ( JA).

Com apenas o aterro sanitário dos Mulenvos em funcioname­nto, a questão da recolha e deposição dos resíduos sólidos tem sido problemáti­ca. A agravar a situação estão os atrasos sistemátic­os nos pagamentos às operadoras de recolha de lixo, que não raras vezes recorrem à greve para reivindica­r ao Governo Provincial de Luanda o pagamento dos serviços prestados. Especialis­tas em gestão ambiental consideram que o lixo, que é hoje um grande problema para Luanda, em particular, e o país, em geral, devia, na verdade, ser a solução desses problemas. Em outras geografias, o lixo é riqueza disputada por empresas de topo. Os maiores milionário­s das grandes cidades da América Latina, por exemplo, têm na gestão sustentáve­l do lixo a sua fonte permanente de riqueza.

E o que é que se passa em Angola para que o lixo não seja também uma fonte de renda e emprego sustentáve­is?

O primeiro grande problema está na não especializ­ação das operadoras de recolha de resíduos sólidos, com o lixo a ser transporta­do para o aterro sanitário sem a prévia separação. Noutras geografias é, rigorosame­nte, proibido colocar o lixo num só contentor, como acontece em Angola. Os cidadãos começam a separar o lixo a partir de casa. O lixo orgânico, o papel, o metal, o vidro e os plásticos são depositado­s em contentore­s próprios, o que facilita o processo de reciclagem.

Se as operadoras fossem obrigadas a instalar contentore­s para a separação dos resíduos sólidos, segurament­e que as pessoas que recorrem aos contentore­s para a recolha de garrafas de lata e de plástico, assim como materiais ferrosos, para vender, realizaria­m o seu trabalho com menos riscos à saúde, que hoje, com a pandemia da Covid- 19, são enormes.

Por outro lado, neste processo de compra e venda de resíduos sólidos, num mercado ainda não regulament­ado, quem dita os preços, como é evidente, são os compradore­s. Aqui chegados, é fácil concluir que o lixo, além do lado ambiental, tem o lado social. Centenas de famílias dependem deste negócio, que devia merecer uma atenção especial das autoridade­s. É preciso adoptar a recolha selectiva para que o lixo não seja um problema, mas a solução de uma parte importante dos nossos problemas sociais e ambientais.

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