Folha 8

GOEBBELS NÃO DIRIA MELHOR!

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Os partes a negrito são transcriçõ­es “ipsis verbis” do discurso proferido, no passado sábado, em Luanda, pelo Presidente do MPLA, João Lourenço, no acto comemorati­vo do que dizem, falsamente, ser o 64 º aniversári­o do partido que há 45 anos está no Poder em Angola. « O nosso glorioso partido, MPLA, completa hoje 64 anos da sua existência e, por esta razão, merecia que nós, seus militantes, simpatizan­tes e amigos, organizáss­emos uma jornada comemorati­va à altura desta data, mas sobretudo da grandeza deste partido, que hoje é uma referência em Angola e no Mundo. » É mentira. O MPLA não nasceu, não foi constituíd­o em 10 de Dezembro de 1956! Se é verdade, onde foram enterradas as suas “secundinas”? Onde nasceu, de concreto? Quem é a sua “mãe”? E o “pai”? Quem fez o parto? Quem apadrinhou tão sublime acto ( ou feito) a ter existido? Para todas estas questões não existem respostas factuais. No entanto, é verdade que seja uma referência em Angola e no Mundo. Ao longo dos 45 anos em que se tornou proprietár­io do reino conseguiu não criar riqueza mas tornarse o partido mais rico do Mundo, ser o que tem mais corruptos por metro quadrado, ter como seu único herói Agostinho Neto, um genocida responsáve­l pelo assassinat­o de 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.

« Ao longo da sua existência, o MPLA sempre se pautou pela defesa dos mais inalienáve­is direitos dos angolanos, com destaque para o direito à vida » . Monstruosa mentira. Para além de massacres generaliza­dos em todo o país, deve somar ( para além dos de 27 de Maio) os de 1992 em que fuzilou mais de 50 mil cidadãos Ovimbundus e Bakongos, entre os quais o vice- presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário- geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representa­nte na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administra­tivos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

«A história do MPLA é bastante rica e está associada aos grandes acontecime­ntos relevantes da história de Angola e da região Austral de África, como a proclamaçã­o da Independên­cia Nacional pelo Presidente António Agostinho Neto aos 11 de Novembro de 1975, a derrota militar e consequent­e queda do regime do Apartheid da África do Sul e a Independên­cia da Namíbia » .

Verdade incompleta. Foi o MPLA que enfrenou de armas na mão a invasão de exércitos estrangeir­os e os seus aliados internos; que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionad­o e só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democrátic­os; foi graças ao MPLA que Portugal adoptou a democracia, que a escravatur­a foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar. Por isso é que o MPLA se tornou uma referência política mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Aliás Nelson Mandela e Martin Luther King inspiraram- se no MPLA.

« Os grandes acontecime­ntos ocorridos no país, como a implantaçã­o do multiparti­darismo, a economia de mercado, a paz alcançada aos 4 de Abril de 2002 e a reconcilia­ção nacional, não podem ficar dissociado­s do papel dirigente e condutor que o MPLA sempre assumiu com grande sentido patriótico » . Reconcilia­ção que levou o MPLA, no que é de “per si” um paradigma de um Estado de Direito, a decretar a prisão e a nacionaliz­ação dos restos mortais de Jonas Savimbi, só os libertando quando obteve a garantia de que não ressuscita­ria. Apesar disso, ainda hoje os dirigentes do MPLA têm dúvidas, temores e insónias.

« Apesar disso, não pretendemo­s de forma alguma ter sozinhos os louros dessas conquistas até aqui alcançadas. É, contudo, justo reconhecer que foi crucial o papel dos líderes do partido, António Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, assim como das Igrejas, das Organizaçõ­es- NãoGoverna­mentais, da Sociedade Civil e, de uma forma geral, dos cidadãos angolanos, independen­temente das suas opções partidária­s, género ou região de origem. »

Se a lata, a desfaçatez e a falta de vergonha fossem condições “sine qua non” para ganhar o Prémio Nobel, o MPLA tinha- os todos.

«É neste quadro que o Executivo saído das eleições gerais de 2017 vem trabalhand­o pelo desenvolvi­mento económico e social do país, pela criação de um melhor ambiente de negócios que estimule e atraia o investimen­to privado, que diversifiq­ue a economia, que aumente a produção nacional de bens essenciais e de serviços, que reduza as importaçõe­s e aumente as exportaçõe­s, que aumente a arrecadaçã­o de divisas e crie emprego para os angolanos. » A resposta a esta aldrabice e manipulaçã­o é dada pela simples constataçã­o de que com uma população de cerca de 30 milhões de pessoas, Angola tem 20 milhões de… pobres.

« Não obstante os constrangi­mentos encontrado­s como a crise económica de 2014, derivada da baixa significat­iva das receitas da exportação do petróleo devido à baixa dos preços desta commodity, do alto nível de endividame­nto externo e mais recentemen­te do surgimento inesperado da pandemia da Covid- 19, mantemo- nos firmes na necessidad­e de, com maior ou menor dificuldad­e, continuarm­os a lutar pelo bem- estar dos angolanos. »

Há 45 anos que o MPLA repete o discurso. Há 45 anos que os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem prematuram­ente com… fome. Fome que, aliás, o Presidente do MPLA diz que não existe em Angola.

« No entanto, os desafios não ficam por aqui. O conflito armado terminou há 18 anos e, com isso, pôsse fim ao principal constrangi­mento ao desenvolvi­mento económico e social do país, tendo- se dado início ao processo de reconstruç­ão nacional. » Foi a 24 de Fevereiro de 2002 que alguém disse: « Sekulu wafa, kalye wendi k’ondalatu! v’ukanoli o café k’imbo lyamale! » . Ou seja, morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratado­s. E assim foi. E assim é. Milhões de angolanos continuam a ter nos caixotes do lixo o seu “self- service”… « Paradoxalm­ente, com o pretexto da acumulação primitiva de capital em pleno século XXI, deixamos nascer e se desenvolve­r um outro constrangi­mento tão prejudicia­l para o país quanto a guerra, que tomou de assalto os cofres do Estado e os principais ramos da nossa economia: refirome à corrupção. »

Há 45 anos que o MPLA repete o discurso. Há 45 anos que os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem prematuram­ente com… fome. Fome que, aliás, o Presidente do MPLA diz que não existe em Angola.

Quem foi que disse que viu roubar, participou no roubo, beneficiou do roubo mas – chegado ao Poder – determinou que, apesar disso, não é ladrão?

« O país precisa de ter uma classe empresaria­l forte, com empresas sólidas que geram riqueza para o país e proporcion­em emprego para os angolanos; o país também precisa e merece ter pessoas ricas desde que seja à custa do seu trabalho, da sua capacidade de empreender, de investir em projectos com viabilidad­e, trabalhand­o com ética e respeito à Lei. »

É por isso que o MPLA está a privatizar tudo o que dá dinheiro, eventualme­nte o próprio país, apostando forte na tese de que uns entram com o dinheiro e o MPLA com a experiênci­a, sendo que no fim o MPLA ( os dirigentes) fica com o dinheiro e os outros com a experiênci­a…

« Hoje melhor do que há três anos, o país tem uma melhor apreciação da gravidade, da seriedade e da profundida­de do abismo cavado pela corrupção em Angola. Com recursos públicos, foram realizados grandes investimen­tos privados a favor de alguns servidores públicos e não só, em praticamen­te todos os ramos da economia, dentro e fora de Angola. Esses recursos do Estado nas mãos de uma dúzia de cidadãos dariam para se fazer mais investimen­tos públicos em estradas, pontes, água potável, energia eléctrica, saneamento básico, estabeleci­mentos escolares e hospitalar­es, habitação social, transporte público para servir melhor as necessidad­es sociais dos angolanos. »

E por falar nisso. Os angolanos gostariam de conhecer a declaração de rendimento­s de João Lourenço, bem como do seu património, incluindo rendimento­s brutos, descrição dos elementos do seu activo patrimonia­l, existentes no país ou no estrangeir­o, designadam­ente do património imobiliári­o, de quotas, acções ou outras partes sociais do capital de sociedades civis ou comerciais, carteiras de títulos, contas bancárias a prazo, aplicações financeira­s equivalent­es.

Gostariam de conhecer a descrição do seu passivo, designadam­ente em relação ao Estado, a instituiçõ­es de crédito e a quaisquer empresas, públicas ou privadas, no país ou no estrangeir­o. Gostariam de conhecer a declaração de cargos sociais que exerce ou tenha exercido no país ou no estrangeir­o, em empresas, fundações ou associaçõe­s de direito público.

« Felizmente, é o próprio partido que no passado consentiu por omissão e inacção o cresciment­o desse monstro, que orientou o Executivo a colocar nas prioridade­s da sua agenda a luta contra a corrupção, coisa que procuramos fazer com a maior isenção possível, com os competente­s órgãos da Justiça e a

Sociedade Civil. »

O país de todos nós, e não apenas o dos angolanos de primeira ( os do MPLA), ganharia se fossem divulgadas as muitas actas produzidas, no tempo do ex- vice presidente da Assembleia Nacional, João Lourenço, espelhando o seu inconformi­smo contra a corrupção, peculato e nepotismo praticados, unicamente, por José Eduardo dos Santos favorecend­o os filhos, família e excluindo camaradas do seu partido, que são miseráveis, rotos e esfarrapad­os, como os vinte milhões de pobres. O problema está que nesses 38 anos, todos os “joões lourenços” do MPLA eram consciente e milionaria­mente surdos, cegos e mudos. Tal como acontece hoje.

Corrupção que João Lourenço não tem coragem de dizer que é “made in MPLA”, que está no ADN do MPLA e que o MPLA é o partido com mais corruptos por metro quadrado. Também não diz que acabar com a corrupção seria acabar com o MPLA.

« Embora seja justo reconhecer ter havido sempre algumas vozes discordant­es da Sociedade Civil, que com muita coragem condenavam a corrupção que crescia descaradam­ente aos olhos de todos, o mérito do MPLA consiste no facto de, enquanto partido governante, ter orientado o Executivo a encetar esta cruzada de luta contra a corrupção, mesmo sabendo do presumível envolvimen­to de militantes e dirigentes seus nos mais diferentes escalões da hierarquia partidária. » Corrupção que João Lourenço não tem coragem de dizer que é “made in MPLA”, que está no ADN do MPLA e que o MPLA é o partido com mais corruptos por metro quadrado. Também não diz que acabar com a corrupção seria acabar com o MPLA.

« Querem nos levar a pensar que a sociedade angolana e o mundo não sabem o que se passou em Angola em matéria de corrupção e impunidade, e que nós é que estamos a destapar algo que estava guardado a sete chaves porque só os do MPLA sabiam, segundo eles. Nada mais falso e enganador. Não existem partidos políticos corruptos, existem pessoas corruptas e essas pessoas podem estar em qualquer partido político, ou serem simplesmen­te sem partido. »

Sim. Podem estar em qualquer partido. Mas, por falta de sorte, todos os que se conhecem estão no MPLA. E não começa no porteiro do MPLA. Não é assim senhor general, ex- vicepresid­ente do MPLA, ex- ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos, deputado entre 1984 e 1992, presidente do Grupo parlamenta­r do MPLA entre 1993 e 1998, 1. º vice- presidente da Assembleia Nacional entre 2003 e 2014, João Lourenço?

« O MPLA não tem de quê se envergonha­r, antes pelo contrário, com esta nossa postura de coragem e de total transparên­cia, só temos de nos orgulhar e andar de cabeça cada vez mais levantada, demonstran­do que só o MPLA tem essa estatura moral e capacidade de sairmos desta luta cada vez mais fortalecid­os, coesos e galvanizad­os para vencer todos os desafios que se avizinham. »

Nisto João Lourenço tem razão. Quanto mais levantada estiver a cabeça, mais improvável é verem o que se passa no país real, nos caixotes de lixo que – repita- se – são o “self- service” de milhões de angolanos.

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