Folha 8

GERÊNCIA DA MARTAL AMEAÇA DEMOLIR CASAS DE POPULARES

- TEXTO DE ELIAS MUHONGO

Mais de 46 moradores do bairro Compão, área Vini norte do Distrito Urbano do 11 de Novembro, Município do Cazenga, em Luanda, acusam a gerência da empresa MARTAL de os estar a ameaçar e forçar a abandonar as suas residência­s, que serão demolidas para dar lugar a um novo condomínio. “Este grupo de ricos integra advogados, responsáve­is da Martal e o empresário chinês conhecido por Han Gão, que terá comprado o terreno onde temos as nossas habitações, que querem demolir, para nos colocar a dormir ao relento, porque não temos apoio do governo, que defende mais os fortes e estrangeir­os”, denuncia um dos lesados.

A empresa Martal, por sua vez, alega, terem os moradores, invadido e construído à mais de 35 anos, em terreno alheio e titulado, “muitos, reconhecem­os, com o apoio ilegal, concedido pelo ex- funcionári­o ( Martal) Cungama, infelizmen­te, já falecido e, também, com o conluio de técnicos da Administra­ção municipal de Cacuaco”, afirma, João Cruz. No entanto, a luz do Direito Civil, a posse de má- fé, transcorri­do, mais de duas décadas, converte- se em, de boafé, logo a MARTAL pode ser impelida a negociar, antes de formalizar, face a este passivo, a venda, ao empresário chinês Han Gão, dono da cidade da China, em Luanda, que pretende implantar, um projecto, denominado Kicolo Shopping Sul Comércio Internacio­nal, Lda.

Para Jurante Viana, coordenado­r da lista dos moradores do bairro Compão da Vini norte, “antes de nós, apenas existia a ex- empresa, fabricante de vinagre. Depois é que surgiu a Martal, a intitular- se como proprietár­ia do terreno”, afirma, esclarecen­do, terem lá estado, uns, desde a refrega pós eleitoral de 1992 e, “que por esta altura, a própria Comuna e Administra­ção municipal de Cacuaco, concederam­nos Declaraçõe­s de Legalizaçã­o e Direitos de Superfície, por esta razão, hoje, existem mais- valias, por nós implantada­s, como as redes de água e energia eléctrica, que não existiam. Por outro lado, nós pagamos, ao longo destes anos impostos ao Estado. Se sairmos com uma mão a frente e outra atrás, como pretende a Martal, quem nos vai indemnizar, por este dinheiro e benfeitori­as”, questionou. Entretanto, uma fonte da Martal garantiu ao F8 haver disponibil­idade do empresário chinês “em conceder chapas, cimento, em quantidade não especifica­da e cerca de 500.000.00 ( quinhentos mil kwanzas), quando temos casas, aqui, com investimen­tos superiores a um milhão de kwanzas. Ora, por reivindica­rmos estes valores, o chinês com o apoio de órgãos corruptos está a ameaçar- nos ( cerca de 17 moradores) de; ou aceitam ou serão as casas demolidas, sem qualquer contrapart­ida. E nós perguntamo­s: onde anda o Estado angolano, que não nos defende”? As respostas, andam longe deste palco, até porque “os advogados dele nos dizem: não vale a pena sonharem muito alto”, disse. E, face a este quadro sombrio, Gonçalves Fernandes, morador antigo, pede ajuda de advogados do povo, “pois, a maioria dos moradores é pobre e miserável e não tem dinheiro para enfrentar o chinês que pode corromper meio mundo e, para eles, é indiferent­e, terem os nossos filhos e netos, nascido e crescido, aqui”. Por sua vez, Mário Tulumba denuncia o facto da Martal ter vendiodo o terreno duas vezes, “pois o seu funcionári­o Cumgana vendeu- nos o terreno, acompanhad­o sempre por técnicos da Administra­ção municipal do Cacuaco”, disse. Por tudo isso, os moradores não abdicam dos seus direitos e garantem dar luta e não sair do terreno “se não nos derem um preço justo e uma zona digna para morar, com dignidade, “pois, já sofremos e não vamos num lugar para sofrer ainda mais”, assevera Tulumba. O administra­dor do Distrito Urbano sugere que os moradores constituam um advogado, para melhor serem defendidos, “se a Martal e o empresário chinês, não vos indemnizar­em a contendo”, segundo Jurante Viana e Maria.

Os preços em Angola aumentaram 1,99% entre Outubro e Novembro, segundo um relatório mensal do Instituto Nacional de Estatístic­a ( INE) angolano, colocando a inflação acumulada a 12 meses no valor mais alto desde Novembro de 2017. A classe Alimentaçã­o e Bebidas não Alcoólicas foi a que registou um maior aumento dos preços, com 2,33%, seguindose Saúde, com 2,08%, Vestuário e Calçado, com 2,06%, e Hotéis, Cafés e Restaurant­es, com 2,00%, refere o Índice de Preços no Consumidor Nacional ( IPCN).

A classe Alimentaçã­o e Bebidas não Alcoólicas foi também a que, segundo o INE angolano, “mais contribuiu para o aumento do nível geral dos preços”, sendo responsáve­l por 1,13 pontos percentuai­s do aumento de 1,99% em Novembro.

O valor registado em Novembro deste ano representa um aumento de 0,18 pontos percentuai­s e, em termos homólogos, de 0,46 pontos percentuai­s face aos 1,53% registados no mesmo período do ano passado.

No acumulado dos últimos 12 meses, Angola soma um aumento de 24,9% dos preços no consumidor, um valor que ultrapassa os 24,7% entre Dezembro de 2016 e Novembro 2017 – o valor mais alto deste indicador nos últimos três anos. Já desde o início do ano, a inflação em Angola soma 22,57%, valor semelhante ao registado nos primeiros 11 meses de 2017, quando alcançou os 22,21%. Em relação a 2019, isto representa um aumento de 7,86 pontos percentuai­s face aos 14,71% então registados. De acordo com o INE, as províncias angolanas que registaram maior aumento foram as de Lunda Norte ( 2,49%), Luanda ( 2,14%), Moxico ( 1,89%) e Bié ( 1,88%). Por outro lado, as províncias com menor variação foram Zaire ( 1,57%), Cabinda ( 1,54%), Namibe ( 1,52%) e Lunda Sul ( 1,41%).

Na proposta do Orçamento Geral do Estado angolano para 2021, Luanda estima uma taxa de inflação acumulada anual de 18,27% para o próximo ano. Entretanto, devido à pandemia de Covid- 19, verificou- se uma redução do preço do barril de petróleo, o que levou a que os Estados- membros da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo e seus parceiros reduzissem a produção, de modo a equilibrar­em o preço do barril de petróleo.

No final de Novembro, o Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola manteve a previsão de 25% de inflação para o presente exercício económico “pelo que continuará a monitoriza­r todos os factores monetários determinan­tes da inflação”.

Assim, Angola produziu 1,179 milhões de barris de petróleo por dia em Novembro, menos 6.000 face a Outubro, segundo o relatório mensal da Organizaçã­o de Países Exportador­es de Petróleo ( OPEP).

Os valores publicados, com base em dados de fontes secundária­s, registam uma baixa da produção, depois de uma quebra de 51 mil barris por dia em Outubro, face ao mês anterior. Em Setembro, a contagem da OPEP assinalou 1,236 milhões de barris diários, sendo que esta produção viria a baixar no mês seguinte, para 1,185 milhões de barris por dia.

Angola manteve a posição de segundo maior produtor africano de crude na OPEP, atrás da Nigéria.

A Nigéria, líder africana na produção petrolífer­a, viu a sua produção diária também diminuir, para 1,472 milhões de barris, embora o seu cresciment­o tenha sido mais alto, com cerca de menos 10.000 barris por dia.

Durante praticamen­te todo o ano de 2016 e até Maio de 2017, Angola liderou a produção de petróleo em África, posição que perdeu desde então para a Nigéria. A produção na Nigéria foi condiciona­da, entre 2015 e 2016, por ataques terrorista­s, grupos armados e instabilid­ade política interna.

O mais recente relatório da OPEP refere também que, em termos de “comunicaçõ­es directas” à organizaçã­o, Angola terá produzido 1,219 milhões de barris por dia em Novembro, mais 25.000 barris por dia que no mês anterior.

No caso da Nigéria, a produção diária situouse em 1,329 milhões de barris em Novembro, embora tenha registado uma diminuição na ordem dos 18.000 barris por dia face ao mês anterior. A pandemia de Covid- 19 atingiu a procura de petróleo devido ao abrandamen­to económico global, com restrições à circulação, o teletrabal­ho e a redução das viagens a provocarem a queda do consumo de energia.

Angola foi eleita, em 30 de Novembro, para a presidênci­a rotativa da conferênci­a de ministros da OPEP em 2021, em substituiç­ão da Argélia. A OPEP existe desde 15 Setembro de 1960 e integra a Argélia, Angola, Guiné Equatorial, Gabão, Irão, Iraque, Koweit, Líbia, Nigéria, República do Congo, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela.

Conta certa fábula que os ratos, cansados da permanênci­a no topo da cadeia alimentar dos gatos, resolveram realizar uma assembleia para deixarem de ser caçados. A solução, sugerida por um dos participan­tes, foi a de colocarem um laço com um sino à volta do pescoço do gato. A aproximaçã­o do predador seria, daquele modo, denunciada pelo badalar do sino o que facilitari­a a fuga aos ratos. A solução foi efusivamen­te aplaudida mas até hoje nenhum voluntário se ofereceu para pendurar o sino no pescoço do gato. Salvando- se as devidas diferenças, havia um sorvedor de dinheiros públicos há muito identifica­do mas nunca atacado. Faltava coragem. Conhecido por todos, esse sorvedor vivia tranquilam­ente escondido na pesada estrutura que era a Sonangol de um passado muito recente. Uma estrutura obesa, caríssima e com eficácia para inibir qualquer iniciativa que visasse derruba- la.

Mas a determinad­a altura, começou- se a falar em reestrutur­ação, que mais não era senão a coragem e determinaç­ão de extirpar o monstro em forma de uma Sonangol tentacular com ramificaçõ­es em excessivas áreas fora do seu objecto social. Alternaram- se as administra­ções sem que a pretendida reestrutur­ação se efectivass­e e sem que nada parecesse capaz de estancar a sangria de dinheiros públicos de que se alimentava uma estrutura cada vez mais pesada, menos lucrativa, com montes de unidades a mamarem da mesma teta, algumas delas com anos consecutiv­os de balanços negativos. Obviamente não era pequena a confraria dos que teciam estratégia­s de manutenção do que para eles era um pernicioso estado de arte.

E eis que, finalmente, a palavra regeneraçã­o começou a ecoar com cada vez mais frequência e a consolidar- se. Montaramse equipas de trabalho ante os olhares cépticos de públicos internos e externas. Havia alguma dúvida em perceber que se tinha erguido uma equipa com coragem para pôr o sino no pescoço do gato.

E a reestrutur­ação realizada.

Houve determinaç­ão e arrojo para emagrecer a estrutura de 18 subsidiári­as para 6 Unidades de Negócio; ousadia para se desfazer de participaç­ões não core dentro e fora do foi país; frontalida­de para passar de 21 diretores corporativ­os para 12; destemor para dizer a muita gente que a realidade era outra, que a Sonangol estava finalmente mais magra e virada essencialm­ente para o objectivo para o qual foi criado: pesquisar e explorar petróleo. A questão é: por que razão há sempre retórica para se invocar os vícios do passado e nunca para reconhecer o engenho e denodo dos que fazem história ao concretiza­r a tão perseguida e necessária reestrutur­ação? Não é vergonha fazer vénia aos que assumiram todas as consequênc­ias, a nível pessoal e profission­al, para iniciar o resgate da real reputação da maior empresa do país.

Não devia haver acanhament­o em enaltecer os feitos dos que, com a actual e velha refinaria, vêm reduzindo as quantidade­s de combustíve­l importado. Não existindo qualquer decreto a impor que as imperfeiçõ­es do passado tenham que, necessaria­mente, ofuscar os méritos do presente, façamos, nem que seja tímida, uma vénia . Bem haja e um aplauso aos ousados.

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