Folha 8

“A ÚLTIMA OUVINTE”

- TEXTO DE JOÃO FERNANDO ANDRÉ*

o conto que dá título ao livro, neste conto o narrador pinta a história de dois jovens, um radialista e uma jovem que de longe mostrava uma beleza extraordin­ária, doce voz com que falava sempre que ligasse para a rádio, no programa do locutor Caçule. E, de acordo com o narrador, “em rádio, o som é cheiro, luz, a cor, a forma” “pela grossura ou magreza da voz concebe- se a imagem do locutor ( também, nesse diapasão, digamos a de quem liga\ ouvinte).” Caçule apaixonou- se pela Esperança da Graça que, na verdade, era Marta Domingas, uma mulher que carregava uma paralisia que não lhe ajudava a fazer muita coisa que gostaria de fazer, mas passava o seu tempo num quarto, lendo uma pilha de livros. Caçule fez tudo que era possível para localizar a mesma e, por fim, encontro- a. O conto tem um final meio triste, porque a amada Marta ou Esperança morre e o radialista Caçule fica maluco ( podemos dizer que eis a razão do título “A Última Ouvinte”). Portanto, este conto nos mostra que nem tudo que parece é.

Neste, é possível ver o peso da cultura, Kutala, uma adolescent­e que vivera sob os cuidados de missionári­as, educada com rigor, amiga- se com o jovem Mbocoio e tornase na segunda pessoa mais influente da sanzala. O soba orientava muitas regras que causavam ciúmes ao Mbocoio, porque aos poucos ele sentia que estava a perder a sua mulher. Mbocoio, cansado com as regras, foi a casa do soba e deulhe uma porrada até que um dente se partiu ao meio, os conselheir­os do soba, para não fazerem com que o soba perdesse o respeito que a população tinha por ele, decidiram castigar o Mbocoio ( como tocador de sino) e manter Kutala no seu referido cargo.

O dente do soba foi o motivo secreto do novo ritual e\ ou moda da sanzala de Tchiaia, o dito Omeyeko. Portanto, com este conto entendemos o seguinte: “as leis e modas, às vezes, surgem de acontecime­ntos tristes.

Um conto onde se pode ver como algumas pessoas usam o mal para terem êxitos, como os bons profission­ais amam os seus trabalhos ( até esquecem a reforma), é o caso de dona Judith. Deste conto se pode perceber que o mal volta sempre para nós, tudo de mal que fazemos aos outros, cedo ou tarde, acontecerá connosco!

“Os três ( não sabemos se é a editora ou o autor que escreve “tres” no lugar de “três”) braços do rio”. Este conto mostra um pai preocupado com os seus filhos, ensina os filhos a serem bons como o rio. O filho caçula amiga- se com uma bela moça, mas o pai da mesma não lhe dá o seu devido respeito. Deste jeito, o jovem, descobrind­o o ídolo do sogro ( Mobutu), vai à caça de um leopardo, mas acaba morto, ele e a sua presa. Sabendo disso, a comunidade fica triste, porque era um bom caçador. Organiza- se um evento em honra ao defunto caçador e a pele do leopardo é entregue ao sogro. O sogro passa então a reconhecer a bravura do seu genro.

Este conto espelha a vida das zonas urbanas. Conta o amor dos netos para com as suas avós e o desejo dos netos de querer estar sempre com as avós, mas pinta também a vontade das avós que gostam de estar nas zonas rurais, sentir a calma e estar fora dos engarrafam­entos e problemas das cidades.

Neste conto, podemos perceber o modo como os albinos têm sido tratados, estereotip­ados como bruxos e outros adjectivos não salutares.

Uma jovem albina é morta por um jovem que tinha problemas no seu relacionam­ento. “O Homem- Da- Viola” Neste conto, temos a história de um jovem talentoso que viaja e encontra a sua alma gémea, mas a família coloca alguns preceitos para ambos estarem juntos, visto que a jovem era viúva... ( trata- se duma narrativa aberta).

MARCAS DA ANGOLANIDA­DE Depois da nossa melíflua leitura, cabe dizer que “A Última Ouvinte” marca a Literatura angolana pelo modo como seu autor desenrola os contos e as marcas de angolanida­de que nela podemos encontrar. Outrossim, ficamos admirado com o modo como o autor, que parece um excelente falador do Umbundu, escreve algumas palavras de línguas bantu com a grafia e fonologia do Português ( ex. Caçula, caçule, quimone ... E outras) e o uso da escrita em Português de acordo com o novo Acordo Ortográfic­o ( que alguns Portuguese­s chamam de “* Acordêz”). Agora pergunto: Será que o uso do “Acordêz” nesta bela obra foi feito pelo autor, ou foi feito pelo editor e\ ou editora?! E onde estava a UEA quando publicou a obra, visto que ainda não assinámos ( Angola) o dito Novo Acordo Ortográfic­o?!

*PROFESSOR DE LINGUÍSTIC­A

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