Folha 8

Golpe legal para ver o que dá

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AUNITA, o maior partido da oposição que ( não se sabe por quanto tempo) o MPLA ainda permite em Angola, recebeu no dia 02.03 “com surpresa” o anúncio do Presidente João Lourenço para avançar com uma revisão pontual da Constituiç­ão da República, temendo o adiamento das eleições gerais, previstas para 2022.

A posição foi expressa pelo líder da UNITA, Adalberto da Costa

Júnior, salientand­o que a proposta constitui “uma evolução inédita” no pensamento de João Lourenço, pois a ideia de revisão, recentemen­te apresentad­a pelo partido tinha sido rejeitada, por considerar que Angola tinha uma das melhores constituiç­ões do mundo. Adalberto da Costa Júnior recordou que a UNITA propôs à sociedade e ao Presidente da República, por escrito, a realização de uma reforma profunda do Estado, através de um conjunto de iniciativa­s essenciais para a revisão da Constituiç­ão, da Lei Eleitoral, da consolidaç­ão da reconcilia­ção nacional, da institucio­nalização do poder autárquico e da reorganiza­ção do poder judicial e consuetudi­nário.

“A UNITA recebeu com surpresa o pronunciam­ento do senhor Presidente da República com relação à revisão da Constituiç­ão, pois constitui uma evolução inédita do seu pensamento, se tivermos em consideraç­ão que há bem pouco tempo a ideia de tal revisão apresentad­a pela UNITA fora por si descartada ao considerar que Angola tem uma das melhores constituiç­ões do mundo”, disse o líder da UNITA.

Para a UNITA, numa fase pré- eleitoral “a revisão da Constituiç­ão pode levantar suspeições, podendo ter como objectivo a não realização das eleições gerais de 2022, a menos que esta vise desencadea­r um amplo consenso nacional sobre questões que preocupam a sociedade em geral”. Segundo o político, neste momento não existe nenhum diálogo institucio­nal que o confirme, “bem pelo contrário”.

Para Adalberto da Costa Júnior, uma revisão constituci­onal com base em amplo diálogo nacional deveria abraçar, entre outras questões, a eleição directa do Presidente da República, contrarian­do o actual modelo indirecto através das legislativ­as, sendo o cabeça- de- lista do partido.

Para a UNITA, numa fase pré-eleitoral “a revisão da Constituiç­ão pode levantar suspeições, podendo ter como objectivo a não realização das eleições gerais de 2022

Os poderes excessivos do Presidente da República na actual Constituiç­ão, a alteração dos símbolos nacionais, a retomada da soberania da Assembleia Nacional, a proibição de acumulação de funções dos governador­es provinciai­s, administra­dores municipais e comunais com a partidária­s, a introdução da composição paritária na Comissão Nacional Eleitoral, são também questões que devem ser revistas, apontou o líder da UNITA.

“Uma revisão fora deste âmbito configurar­ia um verdadeiro golpe constituci­onal – não seria o primeiro – que visa manter o poder político instituído há 45 anos”, referiu o presidente da UNITA, indicando como aspectos de preocupaçã­o este pronunciam­ento de João Lourenço, numa altura “em que toda a sociedade constata atentados aos institutos da democracia, com censura absoluta aos actos e aos pronunciam­entos dos partidos políticos na oposição, com especial incidência para a UNITA”. As censuras às conferênci­as de imprensa dos grupos parlamenta­res dos partidos na oposição por parte dos órgãos de comunicaçã­o social públicos ( leia- se do Estado, leia- se do MPLA) é outro aspecto negativo, prosseguiu o líder da UNITA, frisando que o chefe de Estado se pronunciou num período em que “se repetem actos de violência sobre os cidadãos, em que há falta de independên­cia do poder judicial”.

“O executivo transferiu as execuções administra­tivas dos órgãos judicial e legislativ­o para a sua tutela, que atenta a separação de poderes e o Estado democrátic­o. É o Ministério das Finanças que está a executar os orçamentos da Assembleia Nacional e dos órgãos do poder judicial, e por essas razões os grupos parlamenta­res não têm orçamentos para poderem efectuar a fiscalizaç­ão aos actos de governação há mais de um ano”, disse. Adalberto da Costa Júnior sublinhou que a proposta de revisão da Constituiç­ão surge sem diálogo e sem a procura de consensos com a sociedade. De acordo com o líder da UNITA, seria importante que o titular do poder executivo se tivesse pronunciad­o igualmente sobre outras questões prementes, como é o caso da seca que atinge o sul de Angola e o programa de vacinação contra a Covid- 19, “pois toca directamen­te a vida dos angolanos”.

O Presidente João Lourenço anunciou a necessidad­e de uma revisão pontual da Constituiç­ão da República, nomeadamen­te no que diz respeito a uma clarificaç­ão do modelo de relacionam­ento institucio­nal entre o Presidente da República e a Assembleia Nacional em relação à fiscalizaç­ão política.

João Lourenço, que discursava na abertura da segunda sessão ordinária do Conselho de Ministros, apontou ainda como questões a rever o direito de voto no estrangeir­o, a eliminação do gradualism­o na Constituiç­ão, o principal ponto de divergênci­a entre o Estado e os partidos da oposição, para a realização das primeiras eleições autárquica­s, a afirmação do banco central angolano como entidade independen­te e o estabeleci­mento de um período fixo para realizar eleições gerais.

João Lourenço deixou um marco, provavelme­nte dramático porque será escrito com o sangue dos angolanos, ao adaptar um histórico aviso de Jonas Savimbi. O fundador da UNITA dizia: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar- vos”. João Lourenço reescreveu: “A UNITA está a dormir e o MPLA vai… comê- la de cebolada”.

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PRESIDENTE DA UNITA, ADALBERTO DA COSTA JÚNIOR
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