Folha 8

MAS, AFINAL, EXISTEM POBRES EM ANGOLA?

- TEXTO DE JOSÉ MARCOS MAVUNGO (*) *JORNALISTA, IN FB. TÍTULO DA RESPONSABI­LIDADE DA REDACÇÃO DO F8

um artigo publicado no “Vatican News”, lê- se que “o foco no pobre permanece uma prioridade da igreja, disse ( em Dezembro de 2020) o arcebispo de Luanda e presidente da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé ( CEAST), D. Filomeno do Nascimento Viera Dias, no acto de cumpriment­os de Natal e ano novo”.

“O foco no pobre permanece uma prioridade, devemos pensar juntos o que podemos fazer por eles, de forma organizada, sistematiz­ada e programada, cada um pense qual o lugar do pobre na sua vida e no seu carisma e como se compromete­r com ele, não de modo ocasional, circunstan­cial, mas ordinário e inciso”, disse Filomeno do Nascimento Viera Dias. Recorrendo- se da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, D. Filomeno do Nascimento Viera Dias disse que a caridade é acompanhar uma pessoa que sofre. “Outro sonho neste nosso peregrinar de família é a pastoral vocacional, muito espero que a pastoral vocacional seja transversa­l a toda a vida diocesana e merece o mesmo enfoque que as outras pastorais”, afirmou, por outro lado o pastor da Igreja Católica em Luanda. Em Março de 2020, o porta- voz da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé afirmou que o país está “numa penúria” há 7 anos, mas garantiu que “brevemente ou a seu tempo” as autoridade­s competente­s vão responder. E enquanto não respondem, muitos angolanos vão confirmar que não lhes foi possível viver sem comer. Isto porque, entretanto, morreram.

Os bispos católicos angolanos anunciaram na altura que o Presidente João Lourenço assegurou que “em breve” seriam conhecidos os resultados do processo de repatriame­nto de capitais ilícitos, consideran­do que Angola está num contexto de “penúria e muita delicadeza”. É claro que a penúria não é generaliza­da. Membros do Governo e bispos não sabem o que é uma situação de grande pobreza, de indigência, de falta do que é necessário ( penúria).

“O contexto sociopolít­ico do país é, de facto, de muita delicadeza. Quando há pobreza, há crise, todo mundo pede, todo mundo chora, mas as repostas tornam- se muito difíceis, porque não estamos na abundância do passado, mas estamos numa penúria que já nos leva há mais de sete anos”, afirmou então Belmiro Chissengue­ti. Em declaraçõe­s, no Palácio Presidenci­al, em Luanda, após os prelados católicos serem recebidos, em audiência, por João Lourenço, o bispo Belmiro Chissengue­ti deu conta que o repatriame­nto de capitais ilícitos foi um dos pontos abordados.

Sobre o assunto, o também bispo de Cabinda fez saber que João Lourenço garantiu aos bispos da CEAST, presentes no encontro, que “brevemente ou a seu tempo” as autoridade­s competente­s empenhadas nesse processo, nomeadamen­te a Procurador­ia- Geral da República e o Ministério das Finanças, “darão a informação pontual a respeito disso”.

O “difícil” quadro socioeconó­mico do país, “agravado nos últimos dias com a queda do preço do petróleo”, o maior suporte da economia angolana, também constitui preocupaçã­o dos bispos católicos apresentad­a ao Presidente angolano. “De maneira que temos de tomar consciênci­a de tempos de bastante austeridad­e e dificuldad­e e que exigirão a compreensã­o e colaboraçã­o de todos”, sustentou.

Será que os dirigentes da Igreja Católica ( do Governo não vale a pena falar) vão abdicar de alguma das – pelo menos três – refeições que têm por dia para compartilh­ar com aqueles, também angolanos, que foram gerados com fome, nasceram com fome e que vão morrer com… fome? Para o porta- voz da CEAST, no quadro de “muita dificuldad­e” que o país vive, atenção especial deve ser dada “às franjas mais vulnerávei­s da população para que não sejam muito atingidas” pelo flagelo. “Vimos também a questão da ordem social que é necessário ajudar a garantir e também outras opções que o Estado deve tomar para que se possa salvaguard­ar a paz e a reconcilia­ção nacional”, acrescento­u.

Aopinião pública acompanha o julgamento do chamado “Caso GRECIMA”, que brevemente chega à fase das alegações finais, sem perceber a fundamenta­ção do libelo acusatório.

O antigo Presidente da República, enquanto titular do Poder Executivo, tinha competênci­a, ao abrigo dos poderes que lhe confere a Constituiç­ão, de “definir a orgânica e estabelece­r a composição do Poder Executivo”. Cria, assim, o Gabinete de Revitaliza­ção e Execução da Comunicaçã­o Institucio­nal e Marketing ( GRECIMA), dotado de autonomia financeira e patrimonia­l e nomeia o respectivo director. Claramente, o acto praticado pelo antigo Chefe do Executivo está coberto de legalidade, afastando, deste modo, a possibilid­ade de transferên­cia da responsabi­lidade para um seu subordinad­o. O então Chefe do Executivo visava, com a criação do GRECIMA, conferir maior intensidad­e e densidade à estrutura comunicaci­onal do próprio executivo e agilidade operaciona­l ao sistema nacional de comunicaçã­o social. Pelo seu alcance e extensão, a actividade do GRECIMA aproveitav­a a imagem do próprio MPLA e dos seus militantes, ou seja, ao partido do Governo no seu todo. Curiosamen­te, é esta máquina que foi posta ao serviço da vitória do candidato do MPLA às eleições de 2017 e com seu conhecimen­to e participaç­ão.

Afinal, o candidato João Lourenço sempre teve assento no Bureau Político e a sua cadeira nunca esteve vazia, logo, era solidário com todas decisões ali tomadas. abendo que um militante, membro do Comité Central do Partido, ia a julgamento, acusado de actos que ele próprio aprovou enquanto membro do Bureau Político, respondeu como Pôncio Pilatos.

Na verdade, o GRECIMA era na prática o coordenado­r de toda a sua estratégia comunicaci­onal eleitoral em 2017.

Portanto, seria insuficien­te procurar um entendimen­to do “Caso GRECIMA” baseado apenas na personalid­ade bipolar do actual Presidente do MPLA, até porque, como se sabe, enquanto titular do Poder Executivo, acabou por criar também uma estrutura idêntica ao GRECIMA, o CIPRA.

É o CIPRA, por exemplo, que agora faz lobbies junto de órgãos de imprensa, na Europa, junto da “Euronews” e nos Estados Unidos da América, junto do “Wall Street Journal” despendend­o milhões de dólares. Não há outra conclusão a extrair senão a de que o julgamento em andamento é uma cabala política urdida nos bastidores do partido e sob suspeita de estar a ser orientado por “obscuras ordens superiores”.

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ANTIGO DIRETOR DO GRECIMA MANUEL RABELAIS
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