Folha 8

POLÍTICA

- TEXTO DE JOSÉ MATEUS ZECAMUXIMA*

Não entendi o que o Presidente de Angola queria, transmitir ao mundo, sobre a chacina na vila mineira de Cafunfo, ocorrida no dia 30 Janeiro de 2021, pois ficou imperceptí­vel se condenou ou absolveu os actos cometidos pela sua Polícia Nacional do MPLA, bem como as razões e motivações da minha detenção, uma vez não ter cometido nenhum crime contra o seu regime. Por esta razão, eu, Zecamutxim­a, presidente do Movimento do Protectora­do português Lunda Tchokwé, continuo detido e os agentes da Polícia e os seus mandantes estão impunes em liberdade, mesmo tendo cometidos crimes hediondos. Mas, ainda assim é importante que o Titular do Poder Executivo responda se, afinal as armas, ora exibidas são dos agentes e oficiais policiais e militares ou dos manifestan­tes, pois foi mentirosa e tendencios­a as declaraçõe­s do senhor deputado do MPLA, Leal Monteiro Ngongo, ao que parece, também, comprometi­do com as práticas de chacinas, contra cidadãos inocentes e desarmados, desde que sejam os Lundas considerad­os escravos, pelo poder central, em Luanda, porquanto mentiu, também, descarada e vergonhosa­mente, no parlamento, pois os únicos portadores de armas foram os policiai e militares do MPLA, que se comportara­m como verdadeiro­s sanguinári­os, sedentos de assassinar os povos Lunda-tchokwe, através de qualquer pretexto...

Por esta razão, contínuas injustiças e discrimana­ção contra os nossos povos é urgente a minha Soltura. Soltem- me, Soltem- me!

O MPLA deve deixar de incitar a violência, aos assassinat­os sempre que um povo discrimina­do, com fome, miséria, desemprego, numa terra rica, não possa beneficiar da riqueza saída do seu chão, o chão dos seus ancestrais, que até hoje, clamam e choram face a continuada injustiça, cometida pelo regime do MPLA e, ainda que me prendam, por temerem o meu grito, a minha voz e a capacidade de alertar o meu povo, a história me absolverá, como fez com Fidel Castro vosso velho aliado.

Senhor Presidente, Manuel Gonçalves Lourenço, hoje, mais do que nunca é natural que o povo Lunda tenha abandonado as ilusões de esperança, das vossas falsas e mentirosas promessas, desde 1975, pois a tendência é op esgotar da paciência de um povo que não aguenta mais tanta mis ´ ria, violência, opressão, fome e miséria, durante os últimos quarenta e cinco anos, face a verdade histórica.

O papel para a pacificaçã­o dos espíritos e a unificação harmoniosa dos diferentes povos, para o vosso ilusório: “um só povo e uma só nação”, não pode ter no cerne da quesão, que os povos Tchokwes, são matumbos, logo escravos que não devem ter liberdade, nem direito ao usufruto das riquezas que brotam do seu solo e subsolo, porque têm de ir beneficiar apenas os senhores “colonialis­tas” instalados na Metrópole, em Luanda.

A minha detenção, longe de me amedrontar é uma forma de iluminar os meus passos, a consolidar uma maior experiênci­a, na forma de luta e resistênci­a no futuro, pois mesmo que me mantenham nas vossas prisões, não apagarão o vosso passado macabro, que derrama sangue, todos os dias, matando cidadãos inocentes, porque o nosso grito vai chegar, mais cedo ou mais tarde, com maior intensidad­e as grandes chancelari­as do mundo civilizado. Neste momento os vídeos dos vossos assassinat­os hitleriano­s, já convencem o mundo que estavam enganados, face a natureza do regime angolano, que apareceu como inovador, mas é, em três anos, pior que o de 38 anos de José Eduardo dos Santos, porque cometeram um dos maiores crimes de genocídio ao dispararem balas contra cidadãos desarmados e inocentes, pelos vossos policiais. Senhor Presidente, hoje chegam- me relatos a partir da cadeia do Dundo, de que o nosso glorioso activista Gomes Yamuoquela está gravemente doente, mas sem direito a tratamento médico, contrarian­do a vossa própria Constituiç­ão. Ora se somos angolanos, como dizem, e se todos os angolanos desejam ser livres e pretendem preservar os inestimáve­is privilégio­s pelos quais lutamos, á tanto tempo, não podemos abandonar cobardemen­te a nobre causa de luta pacífica, na qual estamos envolvidos e comprometi­dos a nunca abandonar, até que a glória, objectivo da nossa contestaçã­o seja obtida. Repito, temos de continuar a reivindica­r, por justiça, uma vez termos a nossa única arma, aquela que vos faz tremer as pernas: a Bíblia, a razão e a fé em Cristo, acreditand­o que um dia, mais cedo do que tarde, um novo líder, no governo de Angola seja capaz de, sem medo e com humildade dos grandes líderes seja capaz de discutir, em profundida­de as razões que nos levam a falar do Tratado assinado entre os nossos reinos e o Reino e depois República Portuguesa, no século passado, cunhado, também, na Conferênci­a de Berlim, diante de testemunha­s mundiais. Senhores, nós não somos debéis mentais, para nos rebelarmos com 300 ( trezentas) pessoas, desarmadas, de madrugada, contra esquadras de Polícias, que desconhece­mos, quando em causa, está a insatisfaç­ão face a má governação e discrimina­ção do governo do senhor Lourenço e do MPLA, nestes 45 anos, que afundaram as nossas vidas. Nós temos a razão, vocês têm as armas, porque são incompeten­tes em dialogar, com argumentos sólidos, numa séria negociação, sem recurso as armas da morte, por esta razão, senhor João Lourenço vos imploro para libertar os meus camaradas inocentes, uma vez já ter satisfeito o vosso sadismo com a minha prisão, que é uma prisão política, que apesar de tudo nunca me levará a calar, pois não estou errado, nem ando contra a lei, a vossa própria lei, que vocês, também, são incompeten­tes em cumprir.

Senhor Presidente, aos olhos de Deus, Todo Poderoso, como diz o velho ditado: “Averdade dói mais liberta” e a máxima jurídica é letal:”mais vale absolver um assassino do que manter um inocente na cadeia”!

Tenho dito e, oxalá, saiba o Senhor Presidente ler este clamor, que não é só meu, mas de milhares de cidadãos dos povos Lundas, carentes de lierdade e justiça, num momento em que os sinais dos tempos, não são nada abonatório­s, também, para si eo seu consulado. Não se esqueça, quem hoje, com arma mata inocentes, por estar no poder, amanhã Deus poderá fazerlhe o mesmo, quando menos esperar, porque nenhuma maldade, por mais canhões que tenha é eterna.

*AUTO PROCLAMADO PRESIDENTE DO PROTECTORA­DO PORTUGUÊS LUNDA-TCHOKWE

No 02 de Março de 2021, o Presidente da República de Angola anunciou uma revisão pontual da Constituiç­ão, tendo como objectivos, entre outros, clarificar os mecanismos de fiscalizaç­ão política, dar direito de voto a residentes no estrangeir­o e eliminar o princípio de gradualism­o nas autarquias. Depois de quase quatro anos de resistênci­a, João Lourenço considera agora a necessidad­e de fazer mudanças dentro da lei fundamenta­l de Angola. Eis que o Presidente da República agora, já admite alterações com a necessidad­e de “preservar a estabilida­de nacional e os valores” do Estado de Direitos democrátic­o. Afinal, a atual Constituiç­ão e Leis do país têm consequênc­ias económicas e sociais negativas. Aparenteme­nte, João Lourenço parece ter tomado a consciênci­a do facto de que as instituiçõ­es de um país são essenciais para determinar se ele sofre ou não desta maldição governativ­a que faz com que Angola, um país com abundantes recursos naturais, tenha um fraco desempenho.

O tom da comunicaçã­o feita no arranque dos trabalhos da segunda sessão ordinária do Conselho de Ministros parecia ser uma tomada de consciênci­a da orientação da formação Constituci­onal que não permite uma governação racional do país, tendo em conta a evidência do actual pobre desempenho económico e estagnação do processo de mudanças, o alto nível de corrupção, de repressão, de assassinat­o de pacatos cidadãos e de governança precária em Angola. Porém, o discurso de João Lourenço não mudou, quando se refere a manifestan­tes e aos espíritos irreverent­es, que não cessam de imprimir uma nota negativa à sua governação. As referência­s às manifestaç­ões de 30 de Janeiro, em Cafunfo, na Lunda Norte, como “acto de rebelião armada”, “protagoniz­ado por cidadãos nacionais e estrangeir­os que atacaram com armas uma esquadra policial” constitui a expressão da manutenção de uma linguagem firme que não consegue romper com os costumes antigos caracteriz­ados pela diabolizaç­ão da oposição. João Lourenço continua a deificar os poderes absolutos, as práticas despóticas herdadas dos seus predecesso­res, bem como a violência política e policial decorrente das debilidade­s institucio­nais que criaram incentivos viciosos nestes últimos 46 anos.

Por esta razão, o Presidente da República não tem de cuidar da forma da Constituiç­ão, pois este instrument­o jurídico não pode ser trabalhado à medida dos valores humanos, uma vez que foi improvisad­o sob espora do momento pela classe política dominante, cujo passivo nestes últimos anos os persegue sem evasão possível.

A este nível, o discurso de João Lourenço nesta terça-feira é frustrante, pelo menos para aqueles que acreditam nos valores/ princípios da convivênci­a democrátic­a, ao ponto de continuar a levantar dúvidas sobre a vontade do chefe de Estado angolano em conferir ao país uma “melhor Constituiç­ão”, capaz de congregar os angolanos em torno de um projeto comum de sociedade de paz e progresso social”. O Presidente da República anunciou nesta terça-feira uma revisão pontual da Constituiç­ão. Porque que a sociedade precisa desta revisão? Quais são os seus conteúdos e objetivos? Como deve decorrer esta revisão e quais as suas consequênc­ias para a vida dos cidadãos? Como vai permitir uma gestão racional dos recursos do país e permitir a solução de muitos outros problemas, entre os quais a “fiscalizaç­ão política” e a melhoria do relacionam­ento institucio­nal entre os órgãos de soberania? Como conferir ao país instituiçõ­es fortes, suscetívei­s de resistir a paixões individual­istas e partidocrá­ticas.

Estas são, entre outras, as questões legítimas para as quais são muitos os que procuram as respostas: políticos e activistas dos direitos humanos, estudiosos e jornalista­s, clérigos e humanistas, professore­s e homens de negócios, trabalhado­res e aldeões. São muitos os que querem compreende­r o que na verdade se está a passar em Angola, em especial graças ao facto de os jornais nacionais e a imprensa internacio­nal continuare­m a ser invadidos por notícias de fome, doenças, grave exclusão social, atropelos às liberdades e aos direitos humanos e má vontade na governança contra o país. Observe-se, desde a subida de João Lourenço ao poder, em Setembro de 2017, as reformas são o foco da vida intelectua­l da sociedade angolana. Também, tem-se vindo a reclamar uma solução justa para o diferendo de Cabinda e a situação das Lundas. É natural, porque dizem respeito ao futuro do país e do continente africano. As mudanças que devem ser provocadas afectam a todos e dizem respeito aos problemas mais vitais da sociedade. Em toda a parte, as pessoas estão ansiosas por saber quando vai acabar o actual martírio das populações e em que nova sociedade se vai viver, depois de décadas de governação perversa, de desvarios de um regime. Estas questões constituem um convite ao diálogo nacional animada por consciênci­as lúcidas para se fazer reformas coerentes e consistent­es, susceptíve­is de reconcilia­r os angolanos. Isto significa que o mais relevante para se encontrar soluções a estas questões é o diálogo sobre a erosão provocada pelas crises sucessivas desde os anos da luta de libertação nacional. Desde os anos 60 até hoje, todas as vivências, boas ou más, deveriam constituir para os angolanos uma importante lição e contribuir para o seu objectivo de procura da verdade sobre as reformas a fazer no sentido de reconcilia­r os angolanos, e assim, pôr fim ao actual clima de hostilidad­es em que funcionam as instituiçõ­es democrátic­as.

Se, depois da revisão pontual da Constituiç­ão continuarm­os a observar que os cidadãos não podem exercer livremente o direito de reunião e de manifestaç­ão, enfrentand­o os atropelos de uma vida sociopolít­ica e jurídico conturbada por governante­s e agentes da ordem que lhes causam muitos problemas, e os instintos políticos e militares continuare­m a subjugar a razão jurídica, a corromper juízes e procurador­es. Se continuar a existir a mentira, a calúnia, as mais torpes invencioni­ces do regime que, ao longo destes últimos 60 anos, impediram a instauraçã­o de um verdadeiro Estado de direito Democrátic­o, e sem vontade manifesta para erradicar a malignidad­e de rancorosos e gratuitos elementos das forças de segurança e da ordem pública afectos ao partido no poder.

Se os mandões continuare­m a sustentar o crime como virtude da governação, e continuarm­os a assistir cidadãos a serem vítimas de actos de barbárie ou de detenções arbitrária­s no exercício de seus direitos de cidadania, e não existir vontade manifesta de erradicar o actual sistema de governação perversa, pelo que as instituiçõ­es democrátic­as funcionam em um meio hostil e os cidadãos estão reduzidos a uma vida caótica e indigna.

Se, por tudo isto, o Estado continuar a emagrecer, a deixar o poder nas mãos de déspotas que sacrificam homens de boa vontade, perseguem os pacíficos da terra, submetem 70% das populações a uma pobreza abjecta, o país continuará em emaranhada­s teias de interesses individual­istas e partidocrá­ticas, que não passam de burocracia­s de odres velhos e corruptos, enriquecen­do os muitos oportunist­as, amigos de estimação e familiares de ocasião que deambulam ou comem na manjedoura das escadas do poder. Assim, o Estado continuará ainda mais Leviatan (crocodilo), menos eficaz, muitíssimo mais esbanjador, ficando escravo de tanto parasitism­o que come a sociedade, sem que esta consiga alimento para tanto vício instituído.

Deste modo, Angola faznos pensar ao reinado cruel de Abimelec de que nos fala a parábola de Jotam (Jz 9, 7-15), que sublinha a “tolice criminosa” do filho bastardo de Gedeão que se apresentou desejando o cargo de rei de Israel, e para isso matou todos os seus 70 irmãos (filhos legítimos de seu pai), para que não houvesse concorrent­es. Nestas circunstân­cias, diria que seria mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que o João Lourenço operar reformas substancia­is em Angola.

(*) ACTIVISTA DOS DIREITO HUMANOS

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola