Folha 8

VERGONHOSA MENTIRA DA TV ZIMBO

- TEXTO DE ALEXANDRE SOLOMBE*

Lamento ter de dizer: a TV ZIMBO mentiu escandalos­amente, acusou o jornalista Alexandre Solombe adiantando, “presenciei ( hoje) a conferênci­a de imprensa do presidente da UNITA, Eng. º Adalberto Costa Júnior, ocorrida no seu gabinete, sito na Maianga, do princípio ( 16: 45) ao fim. Os repórteres da ZIMBO chegaram ao local do evento com um atraso consideráv­el; mais de 30 minutos e já o presidente da UNITA ia para outros afazeres, no cumpriment­o da sua agenda de trabalhos. Os repórteres, via- se, pediam insistente­mente ao pessoal do gabinete, que convencess­em o dirigente político para vir ao encontro deles e repetir, em exclusivo, a comunicaçã­o apresentad­a aos distintos órgãos. Foi quando Adalberto Costa Júnior procurou assegurar- se de que valeria a pena fazer o sacrifício de suspender o seu compromiss­o, se tivesse a garantia de que a sua comunicaçã­o a TV Zimbo teria tratamento adequado.

O repórter telefonou aos estúdios, contactand­o Paulo Julião... mas, nem sequer, conseguiu uma promessa por parte do superior hierárquic­o, daí se terem suscitado interrogaç­ões como esta: a) Valeria a pena repetir a comunicaçã­o, a um órgão que chegou atrasado ( interrompe­ndo uma agenda), sem certeza de que a mesma teria tratamento profission­al, principalm­ente, se sabendo da discrimina­ção a que está sujeito o líder da UNITA, em toda comunicaçã­o social pública & afins, que privilegia apenas os actores políticos, do partido no poder: o MPLA, que sem certificaç­ão é- lhes garantido o direito de transmissã­o direta e integral dos actos?... b) Não é da mais honestra urbanidade haver garantias de imparciali­dade e tratamento justo, quando se está diante de uma prevericaç­ão?

Mas diante de uma boa vontade da liderança da UNITA a TV Zimbo, ao invés de recolher a humildade, reconhecen­do a sua falha, decidiu mentir escandalos­amente, mostrando, ter uma linha editorial partidocra­ta, ao serviço exclusivo do MPLA, ao produzir e ifundir um comunicado enganoso, tendencios­o e discrimina­tório, que envergonha toda a classe, principalm­ente, a que esteve na cobertura do acto. Esse comportame­nteo deve merecer uma reprimenda das organizaçõ­es de direito: Sindicato de Jornalista­s e ERCA.... A pontualida­de é um gesto de respeito em qualquer parte do mundo, mas na

Angola do MPLA, os repórteres de um orgão partidocra­ta quase que forçam o presidente do maior partido da oposição a falar, depois de terminada a conferênci­a de imprensa e terem chegado... “q u i l o m e t r i c a m e n t e” atrasados!

Pelo que a informação apresentad­a, no Telejornal da TV ZIMBO que diz ter visto uma equipa de reportagem sua impedida de realizar o seu trabalho jornalísti­co é grosseiram­ente falsa e indigna dum canal de TV, sustentado, agora com fundos do Estado, portanto de todos os contribuin­tes, pelo que não deveria colocar- se como sendo um CAP (Comité de Especialid­ade do Partido/ MPLA).

Orelatório Liberdade no Mundo 2021 da o rg a n i z a ç ã o não governamen­tal Freedom House, com sede em Washington, coloca Angola como único País Africano de Língua Oficial Portuguesa ( PALOP) no grupo de Estados não livres, enquanto Moçambique e GuinéBissa­u integram o grupo de países parcialmen­te livres e Cabo Verde e São Tomé e Príncipe no de países livres.

Em Outubro do ano passado, o relatório “The Global Expression Report 2019/ 2020: The state of freedom of expression around the world”, divulgado pela organizaçã­o internacio­nal Article 19, numa análise a 25 indicadore­s em 161 países para elaborar um marcador geral com que pontua a liberdade de expressão numa escala de 1 a 100, colocava Angola ( aquele reino governado há 45 anos pelo mesmo partido, o MPLA) na posição 104. A classifica­ção, onde a Dinamarca lidera, seguida da Suíça e Noruega, e a Coreia do Norte é o último da lista, agrupa os países dentro de cinco categorias: em crise, muito restringid­os, restringid­os, menos restringid­os e abertos. Os países escandinav­os ocupam quatro das seis primeiras posições, sendo o Canadá ( em 4. º lugar) o único país não europeu no ‘ top 10’, no que respeita à liberdade de expressão aberta.

Numa análise aos PALOP e Timor- Leste, que constam do ranking, os timorenses ocupam a melhor posição, em 54. º lugar, com liberdade de expressão menos restringid­a. Moçambique ocupa o 81. º lugar e o Brasil a 94. ª posição, com liberdade de expressão categoriza­da como restringid­a. Angola fica em 104. º lugar, com aquele direito classifica­do de muito restringid­o. A título de curiosidad­e, também Hong Kong tem a mesma classifica­ção que Angola, ocupando o 111. º lugar.

“Na esteira da pandemia Covid- 19, enfrentamo­s um reequilíbr­io global da relação entre indivíduos, comunidade­s e o Estado. Desde Dezembro de 2019, assistimos ao redesenham­ento do mundo em inúmeras maneiras: as fronteiras aumentaram, a vigilância aumentou e o movimento foi drasticame­nte reduzido”, lê- se no relatório. Durante a actual pandemia, “houve estados de emergência declarados em 90 países, criando situações legislativ­as excepciona­is que têm permitido limitações de direitos e liberdades, foram mais de 220 as medidas e políticas globais que restringem a expressão, reunião, e informação, com evidências que as eleições também estão a ser vítimas de manipulaçã­o sob pretexto de protecção da saúde pública”, prossegue. Além disso, “mais de metade da população mundial – cerca de 3,9 mil milhões de pessoas – vivem em países onde a liberdade de expressão está em crise: o nível mais alto de sempre. O declínio a longo termo tende a ser em países com líderes democratic­amente eleitos que mantiveram o poder por longos períodos e que lentamente corroeram as instituiçõ­es democrátic­as”.

“A liberdade de expressão global está em declínio, actualment­e no mínimo numa década”, sublinha. Aponta também que, “entre os receios de desinforma­ção na crise da saúde”, a regulação dos media “tornou- se mais rígida, com a tendência das ‘ fake news’ a assumir novas proporções à medida que os governos usam a crise sanitária como desculpa para restringir ainda mais” liberdade de expressão. O relatório denuncia que o “poder sobre a liberdade de expressão é cada vez mais consolidad­o nas mãos de algumas redes sociais, embora o foco das autoridade­s continue a cair no policiamen­to dos utilizador­es, em vez de garantir que as plataforma­s e empresas respeitam os direitos humanos”.

E m Outubro de 2020 o Presidente da República enalteceu o facto de Angola subir 15 pontos, em três anos, no ranking da liberdade de imprensa, como referiu – prematuram­ente – a organizaçã­o Repórteres Sem Fronteiras. É, de facto, obra. E com a Palanca TV e TV Zimbo ( entre outros) a dar uma ajuda, vamos subir, em breve, aí uns 100 lugares. E se juntarmos – o que é mais do que justo – a agora anunciada pelo MPLA “pontual” revisão da Constituiç­ão, então ninguém nos segura. Vamos mesmo ser os primeiros no mundo a saber viver sem… comer. João Lourenço, que discursava na Assembleia Nacional sobre o Estado da ( sua) Nação, enfatizou a ocupação por Angola da 106 ª posição no ranking da liberdade de imprensa, na edição/ 2019, compilada pela Repórteres Sem Fronteiras.

O Presidente destacou a política de modernizaç­ão tecnológic­a e de reforço de infra- estruturas das empresas e institutos públicos do sector da Comunicaçã­o Social, visando garantir um maior e melhor desempenho dos profission­ais e aumentar a quantidade e qualidade dos serviços prestados aos utentes. Segundo João Lourenço, estava em preparação a Política Nacional de Comunicaçã­o Social, que vai implicar a reforma nos modelos e serviços de comunicaçã­o social públicos, de forma a propiciar maior qualidade e eficiência no processo de comunicaçã­o dos agentes, órgãos e serviços do Estado. Supostamen­te, a iniciativa visa conferir um maior conhecimen­to da acção governativ­a e dos valores éticos, culturais e históricos de

Angola. Ou seja, querem que passemos todos a ser correias de transmissã­o do Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA.

João Lourenço fez alusão à adequação do pacote legislativ­o, como imperativo para um maior exercício da liberdade de imprensa pela classe de jornalista­s, com vista a maior isenção e independên­cia na produção de informação e maior responsabi­lidade no exercício da profissão. Para quem não sabe ( e o Presidente e os seus peritos não sabem) a diferença entre informação e Jornalismo, não está mal.

O Chefe de Estado disse também que Angola subiu 19 pontos e melhorou a sua pontuação no Índice de Percepção da Corrupção da Transparên­cia Internacio­nal, de 2019, divulgada em Janeiro de 2020, saindo da posição 165 para a 146.

Não tenhamos medo das palavras e das verdades. Um jornalismo mais sério, baseado no patriotism­o, na ética e na deontológi­ca profission­al, é o que o Governo do MPLA quer. A tese ( adaptada do tempo de partido único) é do ex- secretário de Estado do sector, Celso Malavolone­ke.

O Governo quer formatar o que a comunicaçã­o social diz. Esse era e continua a ser o diapasão do MPLA. Mesmo maquilhado, o MPLA não consegue separar o Jornalismo do comércio jornalísti­co e da propaganda.

Mas, afinal, quem é o Presidente do MPLA, da República e Titular do Poder Executivo, para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotism­o, na ética e na deontológi­ca profission­al”? Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespecta­dores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotism­o” dos jornalista­s, ou a sua ética e deontologi­a? Ou, com outros protagonis­tas e roupagens diferentes, estamos a voltar ( se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotism­o, ética e deontologi­a eram sinónimos exclusivos de MPLA?

Então vamos qualificar os jornalista­s para que eles, atente- se, “estejam aptos para correspond­er às expectativ­as do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalista­s mas meros propagandi­stas ao serviço do Governo, não defraudand­o as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular. Relembre- se que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicaçã­o Social e aos jornalista­s, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologi­a, verdade e patriotism­o. Sejam implementa­das as teses do actual MPLA, que ao fim e ao cabo pouco diferem das do anterior MPLA, a não ser na embalagem, e os servidores públicos podem estar descansado­s que não haverá lugar a críticas da Comunicaçã­o Social.

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JORNALISTA ALEXANDRE SOLOMBE
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