“LUMBU – A ALQUIMIA DAS PALAVRAS”, DE JOÃO FERNANDO ANDRÉ
Lumbu, a unidade lexical destacada na capa é uma palavra ambundu que significa o espaço em que se situa o soba e onde são apresentados e resolvidos os conflitos, enquanto Alquimia é uma crença esotérica que está relacionada com a transmutação da matéria. Com 93 páginas, à obra comporta três partes: Iª Flexão; IIª Inflexão e IIIª Reflexão. Lumbu – A Alquimia das Palavras, é sobretudo uma obra literária ensaística e crítica, e excepcionalmente, devido ao apurado gosto musical de João Fernando André, encontramos dois ensaios musicais. No primeiro analisa-se a substância e no segundo faz-se a análise geral de todos aspectos que constituem o estilo musical Kuduro.
Na presente obra, João Fernando André traz um discurso crítico moderno, dentro de uma teoria da literatura racionalista e dialéctica, longe daqueles estudos doxológicos. João Fernando André apresenta Job Sipitali como o poetafilósofo, cujo discurso poético se compõe através da criação intelectual e com os factos da vida. Valoriza a cultura bantu e propõe aos lexicógrafos a elaboração de um dicionário de citações encontradas na obra. No ensaio “A outra cara de « havemos de voltar » , de Agostinho Neto: Uma abordagem ao poema tendo em conta o contexto da actual Angola” ( pág. 22), João Fernando André, distante dos discursos laudatórios e acientíficos que alguns pintaram sobre Neto, aborda a outra face do texto lírico “Havemos de Voltar” numa perspectiva d ´ Angola do presente, com todas as suas assimetrias possíveis. Ao olharmos para o texto « Exortação & Exultação: Uma abordagem a “o Desejado”, de Fernando Pessoa » ( pág. 38) é interpretado o poema “o desejado” com a finalidade de compreender- se o conteúdo e o fundo do poema, assim como a sua carga linguística. Na página 43, encontramos o artigo « Heroificações na Literatura Angolana: Uma incursão nos úteros dos poemas “Augusto Ngangula”, de Costa Andrade & “Toque Filosofal”, de Lopito Feijóo » , poemas que categorizam dois jovens como heróis por perderam suas vidas em busca de uma pátria angolana melhor. João Fernando André lança uma tentativa de aproximação entre os poemas « Augusto Ngangula » e «Toque Filosofal » , considerandoos de contundentes. O texto « Ausentes » : Uma Novela de Ausências » , ( pág. 57), é interpretado pelo crítico como uma narrativa assente no monologo e na descrição e com algumas falhas de conexão das ideias da narradora. No ensaio « Análise semântico- lexical dos termos “Batuque” e “Batuqueiro” na obra “O Ocaso dos Pirilampos”, de Adriano Mixinge » ( pág. 74), o escritor concebe que os termos ( Batuque e Batuqueiro) representam o poder e os seus usuários nas terras de Cordeiro da Matta, e são termos que nos remetem a uma linhagem de prototipicidade e contextualidade ( semântica) e à neologia, trazendo novos significados ao arsenal lexical angolano. João Fernando André, na sua reflexão, traz à tela “Kuduro: Da ideoestética aos seus Hits”. Faz uma incursão à estrutura anatómica do kuduro, considerando que, quanto a sua ideoestética, as canções são feitas com base num « encadeamento de frases ( ou versos), e o kuduro faz parte do manifesto cultural angolano. Há no fundo o apito de alerta para que valorizemos esse estilo popular. Vários outros estudos compõem à presente obra, tais como: Bom senso e a Universalidade: Uma abordagem da opção do uso de Glossário numa obra literária ( pág. 70); Do útero da Enviesada Rosa aos remixes da magia da poesia Disc Jockey - Uma abordagem a « Enviesada Rosa » , de Hélder Simbad ( pág. 19); Angolanidade: Um manifesto falhado aos poetas e prosadores ( pág. 73); A Magia da Poesia ( pág. 71); Crítica literária: para limar as arestas ( pág. 69); O ambaquista & o ambaquismo: Tentativa de compreensão do ambaquista e do ambaquismo com base em « João Vêncio: Os seus amores » ( pág. 51); Da pátria que surreambulava para o ocaso: Uma tentativa falhada de descodificar a novela « viagem para o fim » , de João Tala ( pág. 49); O estranho caso de Tanda – Uma abordagem a “Tanda”, de Adriano Mixinge, e classificação da tipologia do romance ( pág. 46); Agostinho Neto, o poeta da Sagrada Esperança e o pai da “Nação” angolana - Tributo ( pág 35); A mulher: da « Camanga » à « minha bêbada » : Uma abordagem da mulher por meio das músicas « Camanga » , de Tchobolito feat Johnny Ramos e « minha bêbada » , de Gerilson Insrael ( pág 78). A obra abre um novo caminho para a ensaística e a critica literária angolana. Lumbu –A Alquimia das Palavras, é também uma obra que propõem um exercício didáctico, pois é a reflexão sobre a literatura que nos permite estudála. Portanto, estudantes, professores, leitores e toda a comunidade literária são convocados a preencherem as suas prateleiras com “Lumbu – A Alquimia das Palavras”.