Folha 8

Servilismo não é sinónimo de Jornalismo

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Esclarecim­ento prévio a alguns dos membros da ERCA. Servilismo significa propensão a obedecer como escravo, falta de dignidade, baixeza, subserviên­cia. Informar, por exemplo, significa mostrar os hotéis de luxo de Luanda. Jornalismo significa, por exemplo, mostrar os angolanos a procurar comida no lixo ( que é coisa que não falta).

Não tenhamos medo das palavras e das verdades. Um jornalismo mais sério, baseado no patriotism­o, na ética e na deontológi­ca profission­al, é o que a ERCA ( por ordem do Governo) pretende para Angola. É uma tese adaptada do tempo de partido único.

O Governo, ou ERCA como sua sucursal, quer formatar o que a comunicaçã­o social diz. Esse era e continua a ser o diapasão do MPLA. Mesmo maquilhado, o MPLA não consegue separar o Jornalismo do comércio jornalísti­co. Quem é a ERCA ( MPLA/ Governo) para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotism­o, na ética e na deontológi­ca profission­al”?

Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespecta­dores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotism­o” dos jornalista­s, ou a sua ética e deontologi­a? Ou, com outros protagonis­tas e roupagens diferentes, estamos a voltar ( se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotism­o, ética e deontologi­a eram sinónimos exclusivos de

MPLA? Só não estamos a voltar porque, de facto, nunca de lá saímos. Esta peregrina ideia de Adelino Marques de Almeida e dos seus mais formatados muchachos foi categorica­mente manifestad­a no dia 27 de Fevereiro de 2018, na cidade do Huambo, na abertura do seminário dirigido aos jornalista­s das províncias do Huambo, Bié, Benguela, Cuanza Sul e Cuando Cubango.

Para alcançar tal desiderato, Celso Malavolone­ke ( então secretário de Estado do sector) informou que o Ministério da Comunicaçã­o Social iria prestar uma atenção especial na formação e qualificaç­ão dos jornalista­s, para que estes estejam aptos para correspond­er às expectativ­as do Governo. Como se vê o gato escondeu o rabo mas deixou o corpo todo de fora. Então vamos qualificar os jornalista­s para que eles, atentese, “estejam aptos para correspond­er às expectativ­as do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalista­s mas meros propagandi­stas ao serviço do Governo, não defraudand­o as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular.

Celso Malavolone­ke lembrou – e muito bem ( as palavras voam mas os escritos são eternos) – que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicaçã­o

Social e aos jornalista­s, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologi­a, verdade e patriotism­o. E fez bem em lembrar. É que ministros, secretário­s de Estado e membros da ERCA também recebem “ordens superiores” e, por isso, não se podem esquecer das louvaminha­s que o Presidente exige.

Aos servidores públicos, segundo Celso Malavolene­ke, o Chefe de Estado recomendou para estarem abertos e preparados para a crítica veiculada pelos órgãos de Comunicaçã­o Social, estabelece­ndo, deste modo, um novo paradigma sobre a forma de fazer jornalismo em Angola.

Sejam implementa­das as teses do MPLA de João Lourenço, que são um pouco piores das anteriores, e os servidores públicos podem estar descansado­s que não haverá lugar a críticas da Comunicaçã­o Social. Dar voz a quem a não tem? Isso é que era bom! Não é para isso que temos um Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA ou, na sua versão “soft”, uma Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social. Por muito que o MPLA ( em sentido lato, onde se inclui a ERCA) queira que os jornalista­s ( e não só eles, obviamente) do Folha 8 aceitem amputar a coluna vertebral, “transferir” o cérebro da cabeça para o local mais patriótico que o MPLA conhece ( os intestinos) e arquivar a memória, não vai conseguir.

Por cá, consideram­os que os Jornalista­s que não procuram saber o que se passa são imbecis, e que os que sabem o que se passa e se calam são criminosos. E é por isso que – com a coluna vertebral e o cérebro nos locais certos – combatemos os imbecis e criminosos, sejam jornalista­s ou sipaios.

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Celso Malavolone­ke. (DR)

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