Folha 8

A face (oculta) da outra verdade

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Quando o Presidente João Lourenço marcou presença no Fórum Económico Mundial ( WEF) na cidade suíça de Davos, disse ao mundo que os ventos de mudança estavam a soprar em Angola. E disse- o mais ou menos com a mesma convicção com que, mais recentemen­te, afirmou que não havia fome em Angola. A sua mensagem aos investidor­es foi clara: As perspectiv­as económicas pareciam desanimado­ras, mas o Presidente foi peremptóri­o ao prometer ( sem efeitos práticos até agora) que o péssimo registo de corrupção em Angola, a dependênci­a excessiva do petróleo e a má gestão dos fundos públicos acabara. Enquanto esteve em Davos, João Lourenço repetiu a mesma receita junto das principais partes interessad­as, incluindo

Christine Lagarde – na altura directora geral do Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI); o primeiro ministro de Portugal, António Costa; e Sergey Ivanov – o director executivo da mineradora de diamantes da Rússia, Alrosa.

Embora João Lourenço aposte forte em medidas de diversão, exoneraçõe­s e programas para tudo e mais alguma coisa, a verdade é que o cepticismo dos que não são pagos pelo MPLA está a crescer. O África Confidenti­al escreveu até que “a sua lua- de- mel estava a chegar ao fim à medida que o foco público se deslocava para a economia”.

O professor de Economia, Justino Pinto de Andrade, da Universida­de Católica de Angola, disse ao The África Report que duvidava que a cultura do patrocínio tenha mudado, já que João Lourenço

“se envolveu com as mesmas pessoas que dos Santos”. Até mesmo Marcolino Moco, que João Lourenço nomeou para o cargo honorífico e decorativo de director não executivo da estatal Sonangol, em Setembro de 2018 ( entretanto já exonerado), também ganhou espaço mediático quando, em entrevista à Jeune Afrique, em Paris, ameaçou renunciar se Lourenço não cumprisse suas promessas. João Lourenço passa a vida a simular que cumpre e Moco não se demitiu. Acabou demitido. O posicionam­ento de João Lourenço como um político de origens modestas e a determinaç­ão declarada de ( como indicavam todos os estudos como uma infalível bandeira propagandí­stica) erradicar a corrupção mostra a cada dia que passa que o regime está em sérias dificuldad­es para fazer com que a montanha consiga parir um… ratinho. As figurascha­ve do antigo regime continuam a ser tão influentes como nunca, apesar do aparente expurgo, durante o qual João Lourenço demitiu os filhos do ex- presidente, José Eduardo dos Santos, das suas funções na Sonangol e no fundo soberano FSDEA.

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Justino Pinto de Andrade, professor de Economia, da Universida­de Católica de Angola

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