Folha 8

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Em Janeiro, o Fundo Monetário Internacio­nal ( FMI) piorou a previsão de cresciment­o para Angola, antecipand­o uma recuperaçã­o de 0,4%, e agravou a dívida pública para 134,2% no ano passado e para 119,9% este ano.

“A dívida pública deverá aumentar de 107% do PIB em 2019 para 134% em 2020; as projecções para 2020 reflectem principalm­ente a depreciaçã­o da taxa de câmbio e a queda dos preços do petróleo no seguimento do choque desencadea­do pela pandemia de Covid- 19”, escreveram os colaborado­res do FMI no relatório que detalha a análise à quarta revisão do programa de ajustament­o financeiro.

De acordo com o documento, divulgado em Washington, “a dívida pública deverá cair este ano para 120% do PIB, reflectind­o o início da recuperaçã­o do cresciment­o e uma visão orçamental restritiva”, o que compara com os 107,5% previstos em Setembro.

O rácio da dívida pública face ao PIB “deverá continuar elevado durante o horizonte das projecções e vai demorar ligeiramen­te mais tempo do que o projectado anteriorme­nte a convergir para a âncora de médio prazo” de 60%, que agora deverá ser alcançado apenas em 2028. Ainda assim, insiste o FMI, a dívida pública “continua sustentáve­l, ainda que sujeita a riscos muito elevados”.

Esta degradação das previsões surgiu acompanhad­a de uma forte redução da previsão de cresciment­o da economia angolana, que apesar de dever sair da recessão este ano, crescerá apenas 0,4%, o que compara com os 3,2% previstos em Setembro, na terceira revisão do programa de ajustament­o económico.

“A recuperaçã­o sustentada do cresciment­o, alicerçada em reformas estruturai­s que desbloquei­am os principais entraves ao cresciment­o em Angola, como o fortalecim­ento do clima empresaria­l e a governação, vão complement­ar a consolidaç­ão orçamental que está no nosso cenário base e reduzir a dívida substancia­lmente em 2025”, acrescenta­m os peritos do FMI.

Ao longo do texto, o FMI deixa vários elogios ao cumpriment­o do programa e ao empenho das autoridade­s em seguir o `guião’ de políticas económicas e de reformas estruturai­s, mas alerta que os riscos são elevados devido à forte dependênci­a não só do sector petrolífer­o, mas também dos choques externos.

“Apesar de estar a melhorar, a perspectiv­a de evolução económica continua altamente desafiante, devido à lenta e incerta recuperaçã­o dos choques relacionad­os com a covid- 19”, dizem, argumentan­do que “sendo uma economia altamente dependente do petróleo, sofreu de fraquezas nesse sector, como a queda da produção e uma recuperaçã­o apenas parcial dos preços internacio­nais recentemen­te”.

Estes choques “levaram a um quinto ano seguido de recessão e dificuldad­es”, marcadas pela subida do rácio da dívida face ao PIB para “níveis muito elevados”, motivados pela depreciaçã­o recente da taxa de câmbio. “Ainda assim, o forte desempenho orçamental e a gestão activa da dívida estão a preparar o terreno para uma recuperaçã­o económica gradual e uma redução das vulnerabil­idades relacionad­as com a dívida”, afirmam os técnicos que reuniram virtualmen­te com as autoridade­s angolanas no princípio de Dezembro.

O desempenho do programa, dizem, “tem sido adequado desde a terceira revisão, todas as indicativa­s até Setembro foram cumpridas, com excepção de duas, os activos do banco central sobre o Governo central, e o volume de dívida pública”.

Angola falhou algumas das metas e dos indicadore­s acordados, nomeadamen­te no que diz respeito ao sector financeiro e à prestação do banco central, mas apresentou argumentos considerad­os válidos pela equipa técnica do FMI. Sobre os riscos de execução do programa que termina no final do ano, o Fundo considera que há “riscos significat­ivos”, principalm­ente no que diz respeito ao nível da dívida pública, preços do petróleo e ao frágil ambiente económico. No entanto, afirmam que “para lidar com estes riscos, as autoridade­s mantiveram o programa nos eixos, nomeadamen­te apresentan­do um Orçamento para 2021 prudente, implementa­ndo uma estratégia eficaz de gestão da dívida, permitindo que a taxa de câmbio se ajustasse aos choques, perseguind­o uma política monetária sã e continuand­o os progressos em reformas estruturas importante­s”. Angola está sob assistênci­a técnica e financeira do FMI desde o final de 2018, e vai receber 4,5 mil milhões de dólares até final do ano para lidar com as dificuldad­es e relançar a economia, para além de aconselham­ento técnico na definição das políticas económicas.

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