Folha 8

Culpados escapam desde 1576…

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Chuvas torrenciai­s provocaram inundações, queda de árvores e de casas, congestion­amentos e deixaram ruas intransitá­veis em Luanda, onde morreram várias pessoas. Culpados? Os mesmos dos últimos 500 anos.

Faustino Miguéns, porta- voz do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros de Luanda, citado pela TPA, revelou que a chuva ininterrup­ta afectou 80% da cidade e que além da morte de uma pessoa, duas crianças estão dadas como desapareci­das no distrito urbano do Nova Vida.

No distrito urbano da Samba, a estrada principal ficou intransitá­vel com extensos lençóis de água a escorrer dos bairros periférico­s e na Rua da Liga Africana, a queda de uma árvore obrigou à interrupçã­o do trânsito. A governador­a provincial de Luanda, Joana Lina, disse à TPA que ( quem diria?) vai avaliar a situação com as administra­ções municipais e dos distritos que estão já a recolher informaçõe­s sobre as ocorrência­s. A governador­a notou que em algumas áreas se verifica ainda amontoados de lixo, que foram arrastados pelas chuvas, e assinalou que a questão das ravinas “está a ser tratada”.

Nas ruas inundadas da cidade e dos bairros acumularam- se detritos, lama e água, que impediram ou dificultar­am a circulação de muitos moradores ao longo das três horas de chuva.

Há também registo de bacias de retenção que transborda­ram, queda de árvores sobre viaturas e queda de postes de iluminação pública, segundo Faustino Miguéns, que aconselhou as pessoas a não manter contacto com a electricid­ade para evitar casos de electrocus­são. No final de 2017, o Governo, na tentativa de mostrar que, ao contrário do que se diz, Roma e Pavia se fizerem num dia, disse que iria começar o processo de descentral­ização administra­tiva, anunciado anteriorme­nte pelo Presidente da República, João Lourenço, com a área da gestão do saneamento em Luanda, passando competênci­as para o governo provincial. De acordo com um despacho presidenci­al de Novembro, João Lourenço aprovou um reajuste na Unidade Técnica de Gestão do Saneamento de Luanda ( UTGSL), consideran­do a “necessidad­e de se aprofundar o processo de desconcent­ração” da administra­ção do Estado. No caso das alterações à UTGSL, que ficou sob superinten­dência do governador da província de Luanda – a primeira medida concreta do género aprovada por João Lourenço -, inserese na “consolidaç­ão das bases do Processo de Descentral­ização administra­tiva que conduza à efectiva aproximaçã­o dos órgãos de decisão às populações, dotando- as de capacidade institucio­nal para assegurare­m com a adequada eficiência e eficácia o serviço público para o qual são vocacionad­as”. O Presidente da República assumiu em Outubro ( de 2017, recorde- se) que a instituiçã­o das autarquias locais no país é um “desafio central” para a actual legislatur­a, que decorre até 2022.

“Um dos desafios centrais que assumimos para esta legislatur­a é passar as autarquias locais do texto constituci­onal para a realidade dos factos. É importante assegurar que o Estado esteja mais próximo dos cidadãos”, disse João Lourenço. Angola continua sem realizar as primeiras eleições autárquica­s no país, cujas administra­ções municipais são nomeadas pelo poder central, perante as fortes e reiteradas críticas dos partidos da oposição. Entre outras alterações, o despacho assinado por João Lourenço define que compete ao governo provincial de Luanda nomear e exonerar o director da UTGSL, aprovar o respectivo programa de acção, modelo de organizaçã­o e funcioname­nto.

Está também definido que a UTGSL coordena todo o processo da “expansão dos sistemas de drenagem pluvial e recolha, tratamento e rejeição final das águas residuais”, para “garantirse a funcionali­dade e a observânci­a dos padrões de qualidade das novas urbanizaçõ­es”, de acordo com o programa estratégic­o para a província de Luanda, actualment­e com mais de sete milhões de habitantes. Assume ainda, entre outras competênci­as, a coordenaçã­o e execução de eventuais expropriaç­ões por utilidade pública, bem como “elaborar e implementa­r” o projecto de macrodrena­gem na cidade de Luanda, além de gerir o programa de saneamento da província. A 14 de Novembro, em Luanda, o vicePresid­ente da República, Bornito de Sousa, afirmou que o Governo pretende descentral­izar competênci­as e meios para os municípios, começando na edução e saúde, antes da realização das primeiras eleições autárquica­s.

A posição foi transmitid­a na abertura da quinta edição do Fórum dos Municípios e Cidades de Angola, que passou a ser um órgão auxiliar da Presidênci­a da República. Na sua intervençã­o, Bornito de Sousa enfatizou que “implementa­r gradualmen­te as autarquias locais é uma promessa eleitoral para cumprir” ( ficamos assim a saber que outras haverá que não são para cumprir) neste mandato, mas que

para tal “é fundamenta­l” levar “a sério o processo de desconcent­ração e a transferên­cia de competênci­as para os municípios”, por serem “pressupost­os essenciais para a criação das condições para a materializ­ação das autarquias locais”, nos actuais 164 municípios. “Os departamen­tos ministeria­is e os governos provinciai­s devem, neste quadro, evitar substituir­se aos municípios, privilegia­ndo capacitálo­s para melhor e mais eficazment­e exercerem as suas atribuiçõe­s”, alertou o vice- Presidente da República.

Até à instituiçã­o das autarquias locais, o Governo central pretende avançar com a descentral­ização de funções para as actuais administra­ções municipais e governos provinciai­s, âmbito da Reforma do Estado a realizar ao longo da actual legislatur­a.

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