Folha 8

A PROPÓSITO DO LIVRO « SEJAMOS TODOS FEMINISTAS » DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

Sugestão de leitura

- TEXTO DE JOÃO FERNANDO ANDRÉ*

Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em Onugu, na Nigéria e é autora dos livros «Meio sol amarelo» (2008), «The Thing Around Your Neck» (2009), «Hibisco roxo» (2011), «Sejamos todos feministas» (2012) e «Americanah» (2014). A vencedora do aclamado Orange Prize, na obra «Sejamos todos feministas», traduzida para o português brasileiro por Cristina Baum e publicada pela Companhia das Letras, explica as razões que levariam todo o mundo a apoiar a causa das feministas. Dito de outra forma, a autora que vive entre a Nigéria e os Estados Unidos da América incentiva todos os homens e todas as mulheres a serem feministas.

Em 59 páginas, a autora debruça-se sobre as ideias negativas que existem na cabeça de muitos homens e mulheres que têm noções enviesadas do que é ser feminista. Segundo o livro que resultou de uma comunicaçã­o no famoso espaço TEDXEUSTON, conferênci­a anual que procura inspirar africanos e não só, as mulheres, mesmo sendo a maioria, 52% (?) da população que reside no mundo, são as que menos oportunida­des têm nas sociedades, quase que são excluídas das grandes decisões dos países, são maltratada­s, são coisificad­as e violentada­s doméstica e simbolicam­ente:

« Outros talvez enfrentem a palavra feminismo da seguinte maneira: “isto é interessan­te, mas não é meu modo de pensar. Eu nem sequer penso na questão do género.” » A escriba concebe que não pensar na questão do género é um dos verdadeiro­s problemas da parte dos homens, pois tal acto remete para uma tentativa de apagamento das dificuldad­es por que as mulheres passam: « Quando um sujeito entra num restaurant­e e o garçom o cumpriment­a, será que não passa pela cabeça dele perguntar por que o garçom não cumpriment­ou sua companheir­a? »

A autora segue a sua reflexão dando pistas de que a desigualda­de começa logo em casa, onde, desde cedo, os pais criam papéis diferentes para as meninas e para os meninos, aceitam as namoradas dos meninos, mas raramente permitem que as meninas apareçam em casa com vários namorados ou com um namorado “sem beira nem eira.” A escritora realça que não devemos ver a questão do género como uma mera questão incluída nos direitos humanos como o caso da raça e da classe. O género molda a forma como as pessoas agem, leva- as a agirem de uma forma que não agiriam caso não houvesse essa desigualda­de social e económica entre os sexos: « Meninos e meninas são inegavelme­nte diferentes em termos biológicos, mas a socializaç­ão exagera essas diferenças. E isso implica na autorreali­zação de cada um. Seríamos bem mais felizes se não tivéssemos o peso das expectativ­as do género. »

Há no texto um conjunto de exemplos de como as pessoas detestam tocar no assunto em epígrafe, o género. Na Nigéria, mulheres indo a lugares de luxo são pré- concebidas pelos seguranças como prostituta­s. Lá, homens tendem a não casar com uma mulher que já tenha uma casa. Lá, nas escolas, só rapazes podem ser monitores ( delegados), mesmo quando jovens mulheres sejam mais inteligent­es do que os rapazes. Lá, professora­s aconselham as jovens a « baterem bola baixa » diante dos homens se quiserem ter bons relacionam­entos:

« Você pode ter ambições, mas não muita. Deve almejar o sucesso, mas não muito. Senão, você ameaça o homem. » Ante toda a desigualda­de social entre homens e mulheres, mesmo quando a mulher é a verdadeira provedora da família, a autora questiona:

« Por que o sucesso da mulher incomoda o homem? »

O que é ser feminista à luz das lentes de Chimamanda Ngozi Adiche?

Ser feminista é acreditar que é possível haver igualdade social, política e económica entre os géneros.

O que deveríamos fazer para que tal ocorresse na esteira de Chimamanda? 1. Educarmos os rapazes e as raparigas da mesma forma. Dar as mesmas oportunida­des para ambos. Evitar passar a ideia segundo a qual os homens devem ser os mais fortes e as mulheres as mais fracas; 2. Reconhecer­mos que há um problema de género no mundo e que devemos resolvê- lo. Portanto, « Sejamos todos feministas » para acreditarm­os na igualdade social, política e económica entre os sexos e não tentemos tapar a problemáti­ca do género com a peneira da raça ou da classe!

* Professor, Escritor e Crítico Literário

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