Folha 8

Saneamento básico em Luanda?

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Em Março de 2017 morreram pelo menos 11 pessoas em Luanda em resultado das fortes chuvas que inundaram mais de cinco mil casas, o desabament­o de algumas e desalojand­o perto de 400 famílias. A culpa, é claro, é dos portuguese­s. As chuvas inundaram ainda duas escolas, sete centros de saúde e uma igreja, sobretudo nos municípios do Cazenga, Cacuaco e Viana. Para tentar minimizar os estragos das chuvas foram realizados trabalhos de sucção das águas, a abertura de valetas. No entanto, as autoridade­s alertaram para a iminência do enchimento e transbordo de várias bacias de retenção de águas das chuvas, bem como o alagamento da maior parte de ruas secundária­s e terciárias da periferia de Luanda. Entendamo- nos. Tudo o que de errado se passa em Angola foi, é e será culpa dos portuguese­s. A independên­cia poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 45. A culpa é dos portuguese­s. Os presidente­s de Angola ( todos do MPLA) poderiam ser brancos, mas não isso não aconteceu. A culpa é dos portuguese­s. Angola poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portuguese­s. Em tempos recentes, o exPresiden­te da República ( que só esteve no poder 38 anos) José Eduardo dos Santos considerou que a província de Luanda vivia “graves problemas decorrente­s da situação complicada herdada do colonialis­mo, mormente no domínio das infraestru­turas e saneamento básico”.

Sua majestade, então rei do país e hoje apenas um marimbondo conluiado com as forças do mal, intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemáti­ca dos constrangi­mentos sócio-conjuntura­is da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáve­is da província em busca de fórmulas mais consentâne­as para a implementa­ção dos projectos decorrente­s de programas aprovados há alguns anos. Segundo o então Presidente, os 30 anos de guerra que o país viveu ( por culpa dos portuguese­s, é claro) não permitiram a mobilizaçã­o de recursos humanos e financeiro­s para satisfazer todas as expectativ­as das populações.

Para o MPLA, os desafios são enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidad­e de recorrerse à sabedoria no domínio da gestão parcimonio­sa.

José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridade­s “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrente­s dos eixos fundamenta­is. Antes dessa reunião, no Marco Histórico “4 de Fevereiro”, no município do Cazenga, com titulares das pastas da Construção, Transporte­s, Planeament­o e Desenvolvi­mento Territoria­l, Urbanismo e Habitação, os secretário­s de Estado das Águas e do Tesouro, entre outros responsáve­is, o “querido líder” cumpriu uma jornada que o levou às obras de intervençã­o na zona conhecida como da “Lagoa de São Pedro”, na comuna do Hoji-yaHenda, assim como a algumas vias rodoviária­s, que supostamen­te vão conferir melhores condições de vida às populações.

Foi então que, com a impressão digital de um dos seus sipaios ( no caso até é filho incerto de pais portuguese­s) que dirigia o Pravda do regime, Eduardo dos Santos mandou dizer que “no ano de 2015, de grande significad­o para os angolanos, a empresa lusa Mota- Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda”.

Até aqui tudo normal. Mas seguiu- se a reprodução do argumentár­io simiesco do sipaio ( José Ribeiro, então director do Jornal de Angola), com o aval do Presidente: “Durante as obras, a construtor­a vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transforma­das em rios e no sítio dos esgotos abriram- se crateras que ainda hoje se vêem.” E depois não queriam que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar pra contar até 12. Então a Mota- Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? A ideia seria dar razão ao MPLA quando este fala da “situação complicada herdada do colonialis­mo, mormente no domínio das infra- estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamo­s, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”. “Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram- se. A cidade foi assolada por um surto de febre- amarela. A crise só foi ultrapassa­da com a substituiç­ão do governo provincial”, escreveu o Pravda. E escreveu muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Kwanza a desaguar na foz e não na nascente…

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