Parte da história, história em partes
A partir de 1976, os combatentes da SWAPO, por intermédio do Exército Popular de Libertação da Namíbia ( PLAN; braço armado da SWAPO), viajavam regularmente para o sul de Angola por via rodoviária a partir de Huambo até Cassinga, uma vila mineira angolana abandonada, localizada a meio caminho da frente de batalha na fronteira com o Sudoeste Africano ( actual Namíbia). A vila de Cassinga tinha cerca de vinte edifícios que anteriormente serviam ao complexo mineiro de Cassinga, como armazéns, acomodações e escritórios. Um grupo de guerrilheiros do PLAN, liderados por Dimo Hamaambo, ocupou Cassinga e, algumas semanas depois, começaram a usá- la como ponto de trânsito de refugiados. Segundo Charles “Ho Chi Minh” Namoloh e Mwetufa “Cabral” Mupopiwa, que acompanhavam Hamaambo no início do processo de ocupação da vila, os primeiros habitantes da Namíbia em Cassinga eram inteiramente de combatentes treinados do PLAN. Pouco depois do estabelecimento do campo do PLAN em Cassinga, começou a funcionar também como um campo de triagem para os exilados da Namíbia. O governo angolano atribuiu a vila abandonada à SWAPO em 1976, para fazer face ao afluxo de milhares de refugiados do Sudoeste Africano, estimado em Maio de 1978 num total de 3.000 a 4.000 pessoas. Dois dias antes do ataque sul- africano, o Unicef informou sobre um campo “bem administrado e bem organizado”, mas “mal equipado” para lidar com o rápido aumento de refugiados no início de 1978. Os cubanos, que montaram uma base na vizinha Chamutete quando intervieram na guerra em 1975, forneceram apoio logístico à administração da SWAPO em Cassinga. De acordo com a inteligência da SADF ( Força de Defesa da África do Sul), “o planeamento logístico e o fornecimento de suprimentos, armas e munição para insurgentes operando na região central e leste foram realizados a partir de Cassinga”, informação que eles teriam conseguido com um suposto militante do PLAN que havia sido capturado, que tinha o nome de guerra “Moscovo”.
No início de 1978 a SWAPO melhorou a sua organização e ganhou força sobretudo na faixa de Caprivi, enquanto que a UNITA estava sob pressão do MPLA, tornando cada vez mais difícil para a SADF operar no sul de Angola. O ataque a Cassinga surgiu do plano da Operação Bruilof, em que a SADF previa atacar seis alvos da SWAPO ao redor da vila de Chetequera. A SADF concluiu que a pequena vila de Cassinga era o principal centro médico, de treino e controlo das guerrilhas na região, e uma das duas sedes regionais da SWAPO ( o outro era no Lubango).
A SADF ainda detinha a superioridade aérea sobre Angola na época, permitindo que 12 esquadrões realizassem o reconhecimento aéreo de fotos com aeronaves Canberra B12 na primavera de 1978. Essas fotos mostravam infra- estruturas militares recém- construídas, incluindo búnqueres para veículos de combate blindados, estradas, trincheiras em ziguezague em torno da base, trincheiras para metralhadoras/ equipas de morteiro – e a estrutura de base em betão em forma de estrela altamente característica para uma bateria de mísseis SAM3 e os seus veículo de radar/ comando.