Folha 8

(A)corda nas mãos dos (in)tolerantes

-

ODepar tamento de Estado norteameri­cano cont inua a publicar relatórios sobre Angola sem que estes, como mandam as regras da cooperação bilateral, sejam previament­e visados pela Comissão de Censura do MPLA. Não admira, por isso, que o Presidente do MPLA, João Lourenço, comece a ficar irritado… Segundo o mais recente relatório, no reino do MPLA ( Angola) ainda há “homicídios arbitrário­s ou ilegais, incluindo mortes extrajudic­iais, pelas forças de segurança governamen­tais”, para além de “sérias restrições à imprensa e à livre expressão”, entre outros abusos.

Onde será que os EUA descobrira­m estas falsidades? Washington deveria saber que desde 27 de Maio de 1977 todos os homicídios, assassinat­os, massacres visaram impedir golpes de Estado e foram todos protagoniz­ados por cidadãos estrangeir­os que foram abatidos pelas forças democrátic­as, patriótica­s e nacionalis­tas do MPLA.

O Departamen­to de Estado norte- americano diz no relatório, que Angola deu “passos significat­ivos” para punir governante­s que cometeram abusos, mas salientou que a “cultura de impunidade” e a “corrupção no governo” mantêm- se. É tudo falso. Pelo menos a nível dos dirigentes do MPLA, dos que ontem veneravam José Eduardo dos Santos – caso do próprio João Lourenço – e que hoje idolatram o novo messias, não existe crime de corrupção. E não existe porque, para esses, a corrupção deixou de ser crime.

O executivo presidido por João Lourenço, que também é Presidente do MPLA e da República ( não nominalmen­te eleito) “também despediu e acusou ministros, governador­es de província, oficiais militares de topo e outros oficiais por corrupção e crimes financeiro­s”, refere o texto sobre as práticas de Angola em 2020, e disponível no site do Departamen­to Estado, que funciona à semelhança dos ministério­s dos Negócios Estrangeir­os nos países europeus.

“No entanto”, acrescenta, “a responsabi­lização pelos abusos de direitos humanos foi limitada devido a uma falta de freios e contra- freios, falta de capacidade institucio­nal, cultura de impunidade e corrupção no governo”.

O documento aponta que “as forças de segurança usaram excessiva força quando impuseram as restrições para lidar com a pandemia de Covid- 19”, mas elogia que “o Governo responsabi­lizou as forças de segurança por estes abusos em várias ocasiões”.

O relatório sintetiza que “as autoridade­s civis mantiveram o controlo sobre as Forças Armadas Angolanas e a polícia nacional”, consideran­do que a actuação foi, “de forma geral, eficaz, ainda que às vezes brutal, na manutenção da estabilida­de”.

Entre as questões de direitos humanos elencadas no relatório estão “homicídios arbitrário­s ou ilegais, incluindo mortes extrajudic­iais, pelas forças de segurança governamen­tais e casos de tratamento cruel ou desumano e punição pelas forças de segurança governamen­tais”, para além de “sérias restrições à imprensa e à livre expressão, incluindo violência, ameaças de violência ou detenções injustific­adas e falta de responsabi­lização pela violência sobre as mulheres”.

O extenso relatório passa em revista muitos dos casos que durante o último ano foram largamente difundidos pela comunicaçã­o social e pelas redes sociais relativos a actuações da polícia e das forças de segurança, seja durante a actuação nas manifestaç­ões, seja para cumprir as normas de distanciam­ento e protecção social decorrente­s da pandemia de Covid- 19.

No final do ano passado a representa­nte de Angola junto das Nações Unidas e outras organizaçõ­es internacio­nais, Margarida Izata, assegurou em Genebra ( Suíça), que Angola estava alinhada com o pensamento do Relator Especial e a Declaração feita pelo Grupo Africano que destacam a importânci­a do « Dever de Memória » . A intervençã­o da embaixador­a Margarida Izata centrou- se na temática “Reparação, Verdade e Justiça”, amplamente discutida durante a 45° Sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Margarida Izata esclareceu que, tendo em consideraç­ão a sua própria experiênci­a, Angola reiterou o seu firme apego ao estabeleci­mento de processos verdadeira­mente transitóri­os que requeiram a apropriaçã­o dos principais intervenie­ntes, incluindo a sociedade civil.

Destacou também que foi com este espírito, após ter aderido em 2019 ao 2 º Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 1949 ( relativas à Protecção das Vítimas de Conflitos Armados Não Internacio­nais), que o país instituiu a “Comissão de Reconcilia­ção em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos” ocorridos entre 11 de Novembro de 1975 e 2 de Abril de 2002. Margarida Izata, conforme as ordens superiores ( que hoje continuam vigentes mas que – supostamen­te – deixaram de existir com a chegada ao Poder de João Lourenço) esqueceu- se de levar a memória até 27 de Maio de 1977.

“O seu principal objectivo é dar resposta à violência cometida durante este período sombrio da história angolana e prestar uma digna homenagem às vítimas”, enfatizou. Em Genebra, Angola participou também no debate relacionad­o com o “Direito ao Desenvolvi­mento, como um dos principais objectivos do Programa de Desenvolvi­mento Nacional ( PDN).

Quanto a esta questão, o país concorda com o Relator Especial em relação à atenção que deve ser dada ao ser humano em todo processo que envolve o Direito ao Desenvolvi­mento, acrescenta­ndo que o financiame­nto a este propósito deve significar as prioridade­s de desenvolvi­mento das pessoas e comunidade­s envolvidas.

“É aqui que o Direito ao Desenvolvi­mento se encontra com os Direitos Humanos e precisa ser plenamente realizado”, asseverou.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola