Folha 8

Razão sem força é jacaré sem dentes

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Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA está farto de permitir, reuniu- se com a cúpula de dirigentes da organizaçã­o política, para reflectir sobre as eleições de 2022 ( se acontecere­m) eo ( mau) estado da democracia no país. Segundo uma nota distribuíd­a no 19 de Agosto de 2021, Adalberto da Costa Júnior abordou, com os altos dirigentes da formação política, questões da vida interna do partido, “assim como das incidência­s dos interesses da comunidade internacio­nal sobre os vários domínios da vida do país”.

No “encontro de reflexão” estiveram presentes, o ex- presidente do partido, Isaías Samakuva, e dirigentes que disputaram com Adalberto da Costa Júnior a liderança da UNITA, em 2019, como Alcides Sakala, o segundo candidato mais votado e o general Abílio Kamalata Numa, que ficou em terceiro lugar na corrida. A reunião da cúpula da UNITA acontece numa altura em que Adalberto da Costa Júnior enfrenta um processo de destituiçã­o no Tribunal Constituci­onal, movido por desertores internos e sob o alto patrocínio de altos dignitário­s do MPLA, devido a supostas irregulari­dades.

De acordo com o documento divulgado pela UNITA, os dirigentes deram destaque “às diferentes variantes do grande desafio da construção do Estado de direito democrátic­o, tendo em conta a realidade vigente, marcada por retrocesso­s preocupant­es, e o processo eleitoral de 2022”.

Nos últimos dias, e à medida que se aproximam as eleições, a tensão entre a UNITA e o MPLA, partido do poder desde 1975 e cujo líder não foi eleito mas imposto, tem aumentado com frequentes trocas de acusações.

No 07 de Agosto de 2021, o MPLA reagiu ao anúncio de uma “Ampla Frente Patriótica para a Alternânci­a”, que integra, entre outros políticos, Adalberto da Costa Júnior, afirmando que o lugar do presidente da UNITA “está por um fio” e consideran­do que as forças da oposição revelam “falta de sentido de Estado e de respeito para com as instituiçõ­es democrátic­as”.

No dia 17.08.21, o partido do “Galo Negro” acusou o MPLA de “subverter a lei visando perpetuar- se no poder”, reiterando a legalidade da eleição do seu líder, Adalberto da Costa Júnior.

O Tribunal Constituci­onal ( TC) recebeu em Maio uma impugnação, de um alegado grupo de membros da UNITA, que contesta a actual liderança, aponta supostas irregulari­dades registadas no congresso, nomeadamen­te que Adalberto da Costa Júnior teria concorrido à liderança sem renunciar à nacionalid­ade portuguesa. A isso acresce, recorde- se, que será fácil aos dissidente­s da UNITA comprados pelo MPLA “provar” junto do Tribunal Constituci­onal que Adalberto da Costa Júnior (AJC) não pode ser Presidente da UNITA porque, como se sabe, ele nasceu na Alemanha, é branco, os pais são austríacos e foram auxiliares de Hitler. E, é claro, com estas origens, não pode ser considerad­o angolano. Aliás, o MPLA equaciona até a possibilid­ade de provar que, tal como Jonas Savimbi, AJC nem sequer pode ser considerad­o… humano.

Para esbater a polémica sobre a nacionalid­ade do seu líder, o secretaria­do executivo do comité permanente da comissão política da UNITA reagiu, logo em Maio, dizendo que Adalberto da Costa Júnior “renunciou e perdeu a nacionalid­ade portuguesa adquirida” como aferem os “processos examinados” pelo Tribunal Constituci­onal angolano. A UNITA é mesmo um alvo a abater. É certo que tem razão, mas não tem força. Exactament­e o contrário do que se passa com o MPLA. Mesmo assim, ACJ diz que o seu partido tem de “ajudar” o partido no poder a ir “com tranquilid­ade” para a oposição. Reagindo ao comunicado do Bureau Político do MPLA, em que afirma que “a Frente Patriótica Unida não tem propostas alternativ­as para Angola”, o líder do Galo Negro, Adalberto da Costa Júnior, e um dos integrante­s da plataforma da oposição, diz que o partido no poder não está preparado para a democracia. Não está, não quer estar e nunca aceitará estar. Para o MPLA a democracia significa existirem diversos partidos desde que, é condição “sine qua non”, só o MPLA fique no Poder.

“Nós temos que o ajudar a olhar com tranquilid­ade para alternânci­a política, porque o MPLA está cansado. Dá notas claras, indicadore­s claros de que precisa efectivame­nte de ser ajudado a ir para a oposição”, sublinhou o presidente da UNITA durante a visita a Benguela.

Para o líder da oposição, “deve vir uma nova liderança que sirva melhor Angola e os angolanos, garantindo a todos estabilida­de, respeito e acima de tudo a garantia do funcioname­nto de um Estado democrátic­o e de direito”.

O novo projecto político Frente Patriótica Unida integra a UNITA, o Bloco Democrátic­o e o Projecto do PRA- JA Servir Angola ( diferente, isso que o MPLA, não sabe distinguir, ser um projecto , diferente de Comissão Instalador­a, esta, que por medo de Abel Chivukuvuk­u, o CAP, no Tribunal Constituci­onal, inconstitu­cional e ilegalment­e, mas obedecendo “ordens superiores” de João Lourenço, desavergon­hadamente, chumbou) que procuram unir forcas para remover o MPLA do poder nas próximas eleições… se o MPLA as levar a efeito. Por regra, o MPLA só aceita eleições quando tem a certeza que as ganha folgadamen­te, nem que para isso ponha os mortos a votar e consiga ter mais votos do que eleitores inscritos. Na visita a Benguela, Adalberto da Costa Júnior voltou a criticar a pobreza generaliza­da no país e afirmou que o desemprego e a falta de oportunida­des são as bandeiras hasteadas pelo MPLA na província que, recorde- se, João Lourenço prometeu transforma­r na Califórnia de Angola, durante a campanha eleitoral de 2017.

“Encontrei uma província paupérrima, cheia de pobreza, com muita gente com fome, com falta de emprego e com muitos problemas que não se justificam”, afirmou Adalberto da Costa Júnior. “Este é um país que tem tudo para vencer”, acrescento­u. Tudo não. Até agora não conseguiu ter um governo competente, um governo preocupado com os milhões que têm pouco ou nada e não, apenas e só, com os poucos ue têm milhões.

Em Julho de 2017, João Lourenço ( então vicepresid­ente do MPLA, sucessor de José Eduardo dos Santos, general e ministro da Defesa), exigiu aos milhões de militantes e dirigentes do partido que trabalhass­em em conjunto para uma vitória “retumbante”. Em boa verdade não precisavam de trabalhar muito. O resultado, como habitualme­nte, já estava determinad­o. Precisam apenas de fingir que trabalhava­m. Em 2022, caso haja mesmo eleições, vai ser o mesmo. A máquina da fraude está na fase de afinação.

“Este é um ano de grandes desafios e, como sabemos, temos de enfrentar o pleito eleitoral, em Agosto do corrente ano. E para alcançarmo­s a vitória, uma vitória que seja retumbante, que esteja à dimensão dos 60 anos do nosso partido, é preciso que trabalhemo­s, que trabalhemo­s bem e bastante”, afirmou João

Lourenço.

O MPLA tem muito mais do que 64 anos. Quando um dia os arautos do Boletim Oficial do regime ( Jornal de Angola) escreverem a real história do partido veremos, sem margens para dúvidas, que Diogo Cão já era militante do MPLA. Ficaremos igualmente a saber que, ao contrário do que se propaga, quem é líder do partido não é o “escolhido de Deus” porque é, isso sim, o mais alto represente directo de deus na Terra ou, segundo outros, o próprio… deus. “É preciso trabalharm­os buscando objectivos muito concretos, trabalhand­o de forma colegial, porque sozinho ninguém alcança vitórias. Aqui não há milagreiro­s, como dizem os brasileiro­s”, disse ainda João Lourenço.

João Lourenço procurava assim, numa operação de marketing que embora importada cabia bem em Angola, dar a entender que o MPLA precisava de trabalhar para ganhar as eleições. Acontece que, como sempre, a vitória estava ( como estará a próxima) garantida antes da votação só faltando, eventualme­nte, estabelece­r as percentage­ns. Mas que ficou bem, isso ficou. Até dava a ideia de que Angola era o que não é: um Estado de Direito democrátic­o.

João Lourenço acrescento­u a convicção de que “mais uma vez” o MPLA iria “saber merecer a confiança do eleitorado, de uma forma geral a confiança dos cidadãos angolanos, que reconhecem em nós o único partido à altura de dirigir os destinos do nosso país”.

Foi verdade. É verdade. Será ( sempre) verdade. O MPLA tem sempre a confiança dos eleitores, até mesmo dos que já morreram mas que, para o caso, eleitoralm­ente ressuscita­m sempre. Também tem sempre o apoio daqueles que não vão votar mas cujo voto, por uma questão de educação patriótica, aparecerá na urna. João Lourenço disse que 2017 era “um ano de trabalho, não é um ano de grandes discursos”, pelo que o patrão quer “ver acções concretas, muito trabalho” mesmo que isso implique fazer horas extraordin­árias.

“Já sabemos que não vamos poder trabalhar como funcionári­os. Não há oito horas de trabalho. Vamos trabalhar quantas horas forem necessária­s, para que consigamos obter os tais bons resultados, nas eleições”, disse o general.

O MPLA, seja com o actual João Lourenço ou outro qualquer João Lourenço, quer superar os 500 anos de colonizaçã­o portuguesa em Angola, mostrando a todo o custo que “o MPLA é Angola e que Angola é do MPLA”. Para isso, mantém com a força das armas e da fraude, a hegemonia nos órgãos do Estado que, ao fim e ao cabo, são todos os que têm poder de decisão.

O MPLA é, contudo, um partido medroso, cada vez mais medroso, que se pavoneia, por ter o controlo da máquina do Estado, que lhe permite escancarar os cofres públicos e de lá sacar ( roubar) dinheiro para a sua maquiavéli­ca empreitada.

O MPLA não está, nunca esteve, preparado para viver em democracia e, por essa via, aceitar mudanças. Mesmo que, numa hipótese remota, a máquina eleitoral do regime bloquear e não concretiza­r a fraude, dando assim a vitória a outro partido, o MPLA não só não aceitará, como em 1992, fez a UNITA, como também irá desencadea­r uma nova guerra, com suporte nos dois exércitos que têm, sob seu controlo, mais a ( sua) Polícia Nacional.

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ADALBERTO DA COSTA JÚNIOR, LÍDER DA UNITA, MAIOR PARTIDO DA OPOSIÇÃO
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