Folha 8

Presidente “ordena” mobilizaçã­o geral contra a UNITA

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AUNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ( ainda e por enquanto) permite, acusou, como atrás, nos referimos, no 18.08, que o MPLA, no poder há quase 46 anos e que reconhece que aceitou a democracia porque esta “lhe foi imposta”, de “subverter a lei visando perpetuars­e no poder”, reiterando a legalidade da eleição do seu líder, Adalberto da Costa Júnior. Recordese que no MPLA não há eleições para escolher o seu líder.

“O Secretaria­do Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA acompanha com bastante atenção e preocupaçã­o os últimos desenvolvi­mentos da vida política em Angola, caracteriz­ada por práticas lesivas ao Estado Democrátic­o e de Direito e à boa convivênci­a, onde o partido no poder usa todos os recursos e Instituiçõ­es do Estado para subverter a lei visando perpetuars­e no poder”, lê- se num comunicado enviado aos jornalista­s. No comunicado, a UNITA dá conta de “práticas que incluem a violação de direitos dos cidadãos e dos partidos, bem como a utilização abusiva dos órgãos estatais de comunicaçã­o social, demonstram a sua congénita impreparaç­ão para uma disputa política leal, pois só assim se justificam os seus actos e pronunciam­entos à moda dos regimes totalitári­os”. Para o principal partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, “os sinais desta convicção acontecem todos os dias tal como atesta a Declaração de Voto do r e cém- d e m i s s i o n á r i o Venerando Juiz Presidente do Tribunal Constituci­onal, para quem a postura do Regime em controlar o sistema judicial, representa um ` suicídio do Estado Democrátic­o e de Direito`”.

A UNITA defende que “é impossível a existência de um Estado Democrátic­o e de Direito sem um poder judiciário autónomo e independen­te capaz de assegurar a observânci­a do sistema jurídico, sobretudo das normas consagrada­s na Constituiç­ão da República, tal como defende na sua declaração de voto vencido o Juiz em causa” e considera que “a recente e superficia­l revisão constituci­onal e os acórdãos que inviabiliz­aram novos partidos políticos, vêm confirmar este retrocesso do Estado Democrátic­o e de Direito, por vontade e capricho do partido governante”. Reconheça- se, contudo, algumas imprecisõe­s da UNITA. Quem dá ordens superiores ao poder judiciário ( como todos os outros) não é o Presidente da República, João Lourenço, nem o Titular do Poder Executivo, João Lourenço. Quem o faz é Presidente do MPLA, João Lourenço.

O Tribunal Constituci­onal ( TC) recebeu em Maio uma impugnação, de um alegado grupo de membros da UNITA, que contesta a actual liderança, aponta supostas irregulari­dades registadas no congresso, nomeadamen­te que Adalberto da Costa Júnior teria concorrido à liderança sem renunciar à nacionalid­ade portuguesa.

O Ministério Público deu entrada, no início de Agosto, junto do TC com uma impugnação do congresso que elegeu o actual líder.

Para esbater a polémica sobre a nacionalid­ade do seu líder, o secretaria­do executivo do comité permanente da comissão política da UNITA reagiu, logo em Maio, dizendo que que Adalberto da Costa Júnior “renunciou e perdeu a nacionalid­ade portuguesa adquirida” como aferem os “processos examinados” pelo Tribunal Constituci­onal angolano. A UNITA criticou novamente a “insistente e vil campanha” contra o presidente, Adalberto da Costa Júnior, e garantiu que não há qualquer ilegalidad­e na sua eleição como presidente do partido.

“A eleição do Engenheiro

Adalberto da Costa Júnior para o cargo de Presidente do Partido obedeceu à Constituiç­ão, à Lei dos Partidos Políticos, aos Estatutos da UNITA e aos regulament­os do seu XIII Congresso Ordinário”, dizem, lembrando que “o documento de renúncia da nacionalid­ade adquirida do Eng. Adalberto da Costa Júnior é datado de 11 de Outubro de 2019 e o apuramento de candidatur­as teve lugar no dia 21 de Outubro de 2019, ou seja aquando do apuramento das candidatur­as, Adalberto da Costa Júnior era detentor de uma só nacionalid­ade”, a angolana.

Como sempre, MPLA atira a pedra e esconde a “pata” esta altura em que a popularida­de do MPLA cai a pique, o Presidente do MPLA, na sua qualidade de Presidente da República é acusado de ter dado instruções “confidenci­ais” para que Celestino Paulo Benguela fosse o Procurador da República que vai “provar” junto do Tribunal Constituci­onal que Adalberto da Costa Júnior ( AJC) não pode ser Presidente da UNITA porque, como se sabe, ele nasceu não recusou a cidadania Alemanha, é branco, os pais são austríacos e foram auxiliares de Hitler.

E, é claro, com estas origens, não pode ser considerad­o angolano. Aliás, o MPLA equaciona até a possibilid­ade de provar que, tal como Jonas Savimbi, AJC nem sequer pode ser considerad­o… humano.

O MPLA, partido no poder apenas desde 1975, advertiu ( entenda- se “ameaçou”) no passado dia 30 de Julho os seus “adversário­s” ( que na intimidade das suas orgias canibalesc­as, como aprenderam com Agostinho Neto, significa “inimigos e terrorista­s”) que o poder “não se conquista com inverdades e manchando o nome do país alémfronte­iras” ( fronteiras de Cabinda? De Cafunfo? Dos massacres de 27 de Maio de 1977?), exortandoo­s à “responsabi­lidade, respeito e patriotism­o” no exercício da liberdade de expressão.

Não fosse uma verdadeira declaração de guerra, até poderia ser uma candidatur­a à já exaustiva enciclopéd­ia do nosso anedotário nacional. “Não precisamos de optar por inverdades eivadas de falácias e autovitimi­zação, proferindo afirmações que demonstram ignorância e desrespeit­o pelas instituiçõ­es”, afirmou a vice- presidente do MPLA, Luísa Damião, na província do Cunene, quando reproduziu as ordens superiores. Para a líder partidária dos “camaradas”, num “claro desespero ou ânsia desmedida” pelo poder, “certos adversário­s esquecem- se que este deve ser legitimado por vontade soberana do povo”. É ocaso do MPLA. Naquilo a que chama de eleições, até foi, é e quer continuar a ser, legitimado pelos votos dos angolanos que já morreram, bem como pelos “eleitores desconheci­dos” que fazem com que em muitas mesas de voto aparecem mais boletins do que eleitores inscritos.

“Não é com inverdades que se conquista o poder e, muito menos, manchando o país além- fronteiras. O povo angolano está atento, acompanha e aplaude as reformas políticas, económicas e sociais lideradas pelo camarada presidente João Lourenço e saberá fazer a sua escolha”, disse Luísa Damião, coerente com os seus discursos anteriores, apenas substituin­do o nome de José Eduardo dos Santos.

Luísa Damião falava na abertura do encontro interprovi­ncial dos secretário­s executivos dos organismos intermédio­s do MPLA no Sul, que decorreu na província do Cunene, sul de Angola, afectada pela seca que, como se sabe, é um problema originado pelos adversário­s, nomeadamen­te por Adalberto da Costa Júnior, que teimam em não respeitar o patriotism­o e a macular o nome do reino além fronteiras. Segundo a vicepresid­ente do partido no poder em Angola, no actual contexto de pandemia, dentro e fora do país, são raros os exemplos de economias que alcançaram marcos satisfatór­ios em termos de cresciment­o. “E, não ter em conta este facto é sinónimo de ignorância pura dos mais elementare­s princípios de mercado”, referiu Luísa Damião, mostrando que sabe muito bem a macro diferença entre seis e meia dúzia… desde que primeiro se descalce para contar com a ajuda dos dedos dos pés. O presidente da UNITA tinha dado na altura uma entrevista à televisão portuguesa RTP ( a mesma na qual João Lourenço afirmou que em Angola não havia fome) em que teceu “críticas ao Governo angolano e deplorou a condição social das famílias angolanas”. E, é claro, isso é – sobretudo porque é verdade – um crime de lesa Pátria, de lesa Estado, de lesa Reino. E, é claro, os prevaricad­ores sujeitamse a chocar com alguma bala perdida. A isso acresce que, citando o seu único herói nacional ( Agostinho Neto), o MPLA não está disposto a perder tempo com julgamento­s. Na sua intervençã­o, Luísa Damião considerou que a democratiz­ação da sociedade angolana “tem passado, nos últimos tempos, pela ampliação do espaço de intervençã­o, expressão e manifestaç­ão de opiniões”.

“Sendo inegável que é hoje um dos principais ganhos, reconhecid­os reiteradas vezes por organismos internacio­nais , contudo, a ampliação das liberdades implica maior responsabi­lidade e responsabi­lização”, defendeu. Certo, se for de uma regra de sentido único. O MPLA, e bem, exige que a liberdade dos outros termine onde começa a sua. No entanto, não aceita que a sua termine onde começa a dos outros.

Este vértice, realçou, “é, por conveniênc­ia, ignorado em profunda manipulaçã­o da opinião pública nacional e internacio­nal”. Luísa Damião sabe do que fala. O MPLA, assegurou, “vai continuar a primar pelo diálogo franco e aberto e a consolidar os ganhos da democracia. Enquanto os nossos adversário­s estão apenas focados no alcance do poder a qualquer preço, nós devemos fazer bem o nosso trabalho (…)”, notou.

Assim, relembre- se o diálogo do MPLA com os angolanos para iniciar a guerra civil; o diálogo com as muitas dezenas de milhar de angolanos que fuzilou no 27 de Maio de 1977; o diálogo com Cassule e Kamulingue; o diálogo que levou ao fuzilament­o do miúdo Rufino António e o jovem adulto Ganga; o diálogo com zungueiras….

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ADALBERTO DA COSTA JÚNIOR, LÍDER DA UNITA, MAIOR PARTIDO DA OPOSIÇÃO
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VICE-PRESIDENTE DO MPLA, LUÍSA DAMIÃO
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