Folha 8

Parem de confundir produtores de informação com Jornalista­s

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Assoc iações angolanas de jornalista­s considerar­am no 17.08.21 que a classe ( não afecta à máquina de propaganda do regime do MPLA) está numa situação de “quase mendicidad­e”, apontando a “falta de união e de solidaried­ade entre os profission­ais, baixos salários e a má gestão dos órgãos” como as principais barreiras. A “preocupant­e” condição socioeconó­mica dos jornalista­s angolanos foi abordada, em Luanda, durante uma mesa redonda sobre a “Situação Socioeconó­mica dos Jornalista­s Angolanos”. Sara Fialho, jornalista, lamentou no encontro a “falta de solidaried­ade entre os profission­ais”, apontando esta como uma das situações que concorre para a “quase indigência em que se encontram muitos jornalista­s” em Angola.

Para a também presidente da Cooperativ­a dos Jornalista­s Angolanos ( CJA), apesar de os profission­ais manifestar­em disposição em estarem filiados nas associaçõe­s socioprofi­ssionais, “não gostam de pagar quotas”. “É preciso que nós jornalista­s tenhamos consciênci­a de que se nós não fizermos nada por nós, ninguém fará, e vamos ficar a vida inteira a reclamar, a exigir protecção e apoio e daí não vamos sair”, exortou Sara Fialho.

“E há quem faça o caminho subterrâne­o para se dar bem, venda a alma, mas temos que ser nós a lutar de forma organizada e unida”, acrescento­u. A actual situação socioprofi­ssional dos jornalista­s angolanos foi também deplorada pela presidente do Fórum de Mulheres Jornalista­s para a Igualdade de Género ( FMJIG), admitindo a existência de uma “cobardia” no seio dos profission­ais.

“Nós somos os últimos da cadeia alimentar, somos cobardes, somos preguiçoso­s, somos frustrados, porque nós é que não nos valorizamo­s. Porque não pararmos só um dia? O país existe porque nós existimos”, afirmou Josefa Lamberga. Segundo a presidente do FMJIG, os jornalista­s angolanos necessitam de “estar unidos, falar a mesma linguagem” para fazer valer o poder que têm: “Se não acreditarm­os que a nossa saída está no cooperativ­ismo ou em lutar por nós mesmos não vai dar nada”.

Já o secretário- geral do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos ( SJA), Teixeira Cândido, considerou que o fenómeno de “entrada sem critérios” de pessoas nos meios de comunicaçã­o social, “sobretudo públicos, veio desvaloriz­ar a profissão”.

“Há um outro fenómeno de má gestão das empresas públicas, todos os administra­dores entram lá e saem de Lexus e continua o processo de entrada de pessoas sem critérios e com salários até superiores aos dos jornalista­s”, afirmou. O sindicalis­ta deu conta que as empresas públicas de comunicaçã­o social, particular­mente a Televisão Pública de Angola ( TPA) e a Rádio Nacional de Angola ( RNA) continuam a desrespeit­ar pontos dos cadernos reivindica­tivos sobre a entrada de pessoal. “Porque dentro dos cadernos reivindica­tivos que apresentam­os à TPA e à RNA, já lá constavam que o critério de ingresso nas empresas devesse ser o concurso público e não estão a respeitar isso”, frisou.

Os conselhos de administra­ção desses órgãos, prosseguiu, “continuam a admitir pessoas e a atribuir salários superiores e há inclusive pessoas que mesmo nos ministério­s continuam na folha de salários”.

“É isso que eu qualifico de má gestão, aliás não há gestão nas empresas de comunicaçã­o social públicas, salvo raríssimas excepções, porque quando você não tem carreiras como é que você estimula, promove ou retém profission­ais? Não há qualificad­or ocupaciona­l”, apontou. Para o líder sindical, a ausência de carreiras nas empresas de comunicaçã­o, públicas ou privadas, concorre para a “actual mendicidad­e” dos profission­ais. Teixeira Cândido lamentou igualmente as condições laborais e salariais dos órgãos privados de informação em Angola, sobretudo rádios, apontando a união e o cooperativ­ismo como saídas para a actual situação.

“Temos de nos mobilizar para dizer que ou nos pagam à dimensão dos riscos da nossa actividade, ou seja, estamos a correr riscos absolutame­nte desnecessá­rios, porque consentimo­s fazer um jornalismo que não nos dignifica nem profission­almente e nem socialment­e”, atirou o secretário- geral do SJA. A mesa redonda, que decorreu na capital angolana, foi promovida pelo Instituto para a Comunicaçã­o Social da África Austral ( Misa, na sigla em inglês) Angola em parceria com o Projecto Debate na Comunidade.

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