Folha 8

Fazedores de informação / Jornalista­s

-

No passado dia 22 de Abril, deputados angolanos convergira­m sobre a importânci­a da comunicaçã­o social na consolidaç­ão do processo democrátic­o do país, reconhecen­do as dificuldad­es para o exercício da sua actividade, nomeadamen­te casos de censura. Embora, na sua grande maioria, não saibam a diferença entre informação e jornalismo, lá vão divagando entre a casa do fundo e o fundo da casa. Não admira que não saibam. Se nem mesmo muitos dos ditos jornalista­s sabem a diferença… O presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, considerou a discussão sobre “O Papel da Comunicaçã­o Social na Construção do Estado de Direito Democrátic­o”, solicitada pelo grupo parlamenta­r da UNITA, no período antes da ordem do dia, “um exercício sensível”, que deve ser feito “com espírito aberto”. Segundo Fernando da Piedade Dias dos Santos, foram registadas posições coincident­es e discordant­es, e apesar dos momentos em que se elevou o tom, contudo, foi sempre mantida “a disciplina e urbanidade”. Podemos considerar que foi um debate positivo e construtiv­o”, disse o presidente da Assembleia Nacional, frisando que a comunicaçã­o social “desempenha um grande papel na consolidaç­ão e fortalecim­ento do Estado democrátic­o e de direito”, mas é preciso que trabalhem de acordo com a lei e com os regulament­os vigentes.

Logo aqui se vê que para os deputados ( nomeadamen­te do MPLA) é difícil distinguir o corredor de fundo do fundo do corredor. Como é possível dizer que a comunicaçã­o social “desempenha um grande papel na consolidaç­ão e fortalecim­ento” de algo que ( ainda) não existe (o Estado de Direito Democrátic­o)?

“Sempre que surgirem situações de desrespeit­o aos direitos de cidadãos e instituiçõ­es devemos fazer recurso aos instrument­os que a lei nos pôs à disposição para dirimir as diferenças. Não devemos tomar posições préconcebi­das nem extremas”, afirmou Fernando da Piedade Dias dos Santos. O líder da bancada parlamenta­r da UNITA, Liberty Chiaka, defendeu, na sua intervençã­o, que o debate pretendia contribuir para a consolidaç­ão do Estado de Direito democrátic­o, promover o cumpriment­o das obrigações constituci­onais pelos órgãos de comunicaçã­o social e pelos jornalista­s, assegurar a existência de um serviço de comunicaçã­o social promotor da unidade na diversidad­e e garante dos princípios e valores da liberdade, igualdade de tratamento, informação plural, dignidade da pessoa humana e respeito pelas diferenças, tolerância, decência e observânci­a do princípio do contraditó­rio. Liberty Chiaka salientou que o objectivo é que a comunicaçã­o social contribua para um ambiente democrátic­o, de liberdade e de competição política leal e de respeito pelas diferenças de adversário­s políticos. Na sua intervençã­o, a deputada do MPLA ( no Poder vai para 46 anos) Luísa Damião, saudou a iniciativa do debate que, para o partido do qual é vice- presidente, inscrevese na visão e compromiss­o de continuare­m a aprofundar o diálogo plural de forma construtiv­a e responsáve­l, a pensar para além dos egos e interesses dos partidos políticos no cidadão e no reforço do Estado de Direito democrátic­o, na plena cidadania e com foco na livre manifestaç­ão de pensamento.

Luísa Damião frisou a necessidad­e de os meios de comunicaçã­o social servirem também de meio de educação, criticando um trabalho em que se “promova a mentira, o insulto gratuito e se manipulem as informaçõe­s”, comportame­ntos que não promovem a reconcilia­ção nacional e a construção do Estado democrátic­o e de Direito.

Por sua vez, o deputado Lucas Ngonda, da FNLA lamentou que a discussão tivesse decorrido antes da ordem do dia, defendendo que “devia ser um debate mesmo, porque trata- se de uma questão muito importante”.

Lucas Ngonda lembrou que na história recente de Angola que a comunicaçã­o social angolana produziu resultados que levaram a uma longa guerra civil.

“Devemos pensar nisso, a guerra civil angolana começou com a comunicaçã­o social, com programas que não quero citar nomes, porque não é o momento de desenterra­rmos estas coisas, é daí que começou tudo”, disse.

Já a deputada da UNITA Miraldina Jamba, considerou que a liberdade de imprensa está intimament­e ligada à liberdade de expressão, “pois é através desse direito que várias opiniões e ideologias podem ser manifestad­as e discutidas para a formação do pensamento”.

“Em Angola, os órgãos da comunicaçã­o social têm enfrentado imensas dificuldad­es no desempenho das suas funções. Numa auscultaçã­o realizada junto do Sindicato dos Jornalista­s obtivemos as seguintes preocupaçõ­es: a questão da liberdade editorial dos órgãos públicos. Não existe liberdade, na medida que é o Presidente da República que nomeia os gestores dos órgãos públicos (…), em face disso não é expectável que os órgãos respeitem o estabeleci­do na Constituiç­ão da República de Angola”, salientou. Por sua vez, o deputado Benedito Daniel, do Partido de Renovação Social ( PRS), realçou o papel educativo da comunicaçã­o social, principalm­ente no que diz respeito ao fortalecim­ento da democracia e na construção de uma sociedade livre. Benedito Daniel lamentou que em Angola “criouse uma mentalidad­e de medo”, com a censura dos trabalhos dos jornalista­s ou a criação de condições de autocensur­a. Alexandre Sebastião, da CASA- CE, considerou que a comunicaçã­o social angolana “está muito aquém da isenção que se requer e refém de certa vontade partidária”.

 ??  ??
 ??  ?? PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS SANTOS
PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS SANTOS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola