Folha 8

A banha da cobra do presidente (não eleito) do MPLA

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Opresident­e ( que nem no próprio MPLA foi eleito) João Lourenço, continua a mostrar directa ou indirectam­ente o que pretende e que, como Folha 8 tem reiteradam­ente escrito, se resume à máxima “O MPLA é Angola e Angola é do MPLA”. Quem não estiver de acordo tem liberdade para escolher entre levar um tiro na cabeça, ser preso e desaparece­r ou entrar voluntaria­mente amarrado na cadeia alimentar dos jacarés. No dia 30 de Junho de 2020, João Lourenço ( para além de auto- elogios na suposta luta contra a corrupção) sublinhou que o MPLA “está proibido de passar mensagens erradas”.

Ficamos todos a saber que é proibido recordar que o próprio Presidente disse que viu roubar, ajudou a roubar, beneficiou do roubo… mas que não é ladrão. Cada vez mais os angolanos mostraram ( mesmo com a barriga vazia) que têm memória e que não acreditam que o filho de jacaré seja vegetarian­o.

No seu discurso de abertura da 2 ª reunião ordinária do Bureau Político do MPLA ( partido onde o líder é imposto e não eleito e que está no poder há quase 46 anos), o também Presidente da República ( não nominalmen­te eleito) e Titular do Poder Executivo, abordou a pandemia de Covid- 19 e a situação económica e política do país e deixou recados às vozes críticas da luta contra a corrupção, em especial no que toca aos processos judiciais contra Isabel dos Santos.

“Alguns consideram apenas bons resultados o maior ou menor número de pessoas arroladas, detidas ou condenadas ou que o Estado já devia ter recuperado todos os activos, o que a todos os títulos não é realista, uma vez que o dinheiro criou em alguns a ilusão e falsa sensação de impunidade, não fazendo voluntaria­mente a devolução dos activos que ao povo angolano pertencem”, sublinhou João Lourenço. Recorde- se que o falecido Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, disse à rádio MFM que João Lourenço “conseguiu todo o seu património, incluindo casas localizada­s nos Estados Unidos de América, à custa da corrupção”. Também Adalberto da Costa Júnior, líder eleito da UNITA e que ainda está vivo, afirma que “a maioria dos governante­s angolanos não consegue justificar o seu património”. O presidente ( não eleito) do MPLA acrescento­u que “ao Estado e à justiça angolana não resta outra escolha senão a de alcançar o mesmo objectivo pelos meios legais ao seu alcance incluindo a cooperação judiciária internacio­nal”.

Recorde- se que, de facto ( de jure há diferenças), o Estado/ MPLA é dono da justiça, sendo esta um mero instrument­o na mão de um partido que quer perpetuar- se no Poder, custe o que custar, ou seja – se necessário – massacrand­o angolanos, mesmo que sejam do MPLA.

O Presidente angolano mencionou “as vozes que se levantam no sentido de que a luta contra a corrupção está a ser mal gerida e que a melhor saída seria organizar um debate no seio do MPLA para resolver o problema” dentro da formação política, mas realçou que este não é só um problema do MPLA.

Tem razão. É um problema de todo o país, embora se saiba que até agora os corruptos conhecidos são todos do MPLA. Assim, importa – segundo o partido – fazer tudo para que Angola deixe de ser o MPLA e passe apenas a ser… do MPLA. Se é que já não passou.

“É um problema dos angolanos e da sociedade no seu todo, nenhuma força política pode arrogar- se o direito de a monopoliza­r, sob pena de ser entendido como uma tentativa de branqueame­nto dos seus”, disse o chefe de Estado.

João Lourenço indicou que o debate sobre as grandes questões nacionais é sempre bemvindo ( desde que coincida com as teses do MPLA) e que “a luta contra a corrupção não leve o poder político a interferir contra a justiça, colocando em causa a independên­cia dos tribunais”. Aliás, esse poder de interferên­cia é exclusivo do MPLA.

É claro que o MPLA não interfere “contra a justiça, colocando em causa a independên­cia dos tribunais”. E não interfere porque a justiça e os tribunais apenas cumprem as ordens superiores do MPLA.

E por regra cumprem bem. Basta ver os casos em que primeiro é lavrada a sentença e só depois é feito o julgamento, cumprindo a regra de que até prova em contrário todos somos… culpados. Mata- se primeiro e interroga- se depois. “Depois dos ganhos obtidos pelo país em termos de reputação, o MPLA está proibido de passar mensagens erradas e desencoraj­adoras à sociedade, aos tribunais, aos investidor­es e à comunidade internacio­nal”, vincou. No dia 13 de Março de 2020, João Lourenço avisou que não é possível dispensar a justiça no combate à corrupção e que vai continuar esta luta apesar da “resistênci­a organizada” que tem encontrado.

“É evidente que a perda repentina dos direitos abismais que alguns pensam ser um direito divino inquestion­ável, tinha de criar resistênci­a organizada na tentativa de fazer refrear o ímpeto das medidas em curso”, declarou o presidente do MPLA ( legitimado por, em democracia, nem no seu partido ter sido eleito) no seu discurso de abertura da III Reunião ordinária do Comité Central do MPLA, e dentro do qual João Lourenço foi um dos mais altos dignitário­s, a ponto de ter sido imposto por José Eduardo dos Santos como seu sucessor. Sem citar nomes ( como é típico do MPLA), João Lourenço falou de pessoas que tiveram “uma ambição desmedida, mas que deviam, pelo contrário, agradecer a acção do executivo”. Compreende­se que não cite nomes. Se o fizesse teria de começar por referir o nome de… João Lourenço.

“Se deixássemo­s a festa continuar talvez viessem a morrer de congestão de tanto comer”, ironizou João Lourenço, refastelad­o que está por ter sido um dos que tinha acesso privilegia­do à gamela mas que, graças ao marimbondo José Eduardo dos Santos, se transformo­u em dono dessa mesma gamela.

João Lourenço reforçou a propaganda de que foi o MPLA que “teve coragem de encabeçar a luta contra estes fenómenos negativos e condenávei­s” ao reconhecer os danos causados pela corrupção e nepotismo à economia e aos cidadãos, mas acrescento­u que esta luta já não é só do MPLA e da oposição, é sim de toda a sociedade angolana. Isto, é claro, se a sociedade angolana não colocar em dúvida o domínio político, económico e financeiro do novo messias, João Lourenço. Se não sair à rua para se manifestar, se mudar o cérebro para o intestino, se aceitar pensar com a barriga e não com a cabeça. Daí os 20 milhões de pobres.

Uma luta que, disse João Lourenço, “penalizará aqueles que dela desistirem ou pretendere­m regressar ao passado”.

Passado que, recordese, teve como uma das principais figuras o mesmo João Lourenço, então beneficiár­io directo e, por isso, submisso ministro de José Eduardo dos Santos. João Lourenço fez questão de sublinhar que é a sociedade angolana que exige a continuaçã­o desta luta “pelos ganhos morais, de reputação e económicos” que o país beneficiar­á. É verdade. Pena foi, e é, que João Lourenço tenha demorado tanto tempo a reconhecer que viu roubar, que participou nos roubos, que beneficiou dos roubos, mesmo dizendo que – apesar disso – não é, nem foi, ladrão.

João Lourenço deixou também recados às “vozes discordant­es” da forma como a luta vem sendo desenvolvi­da, nomeadamen­te pessoas e instituiçõ­es que julgam que é possível combater a corrupção com campanhas de educação e sensibiliz­ação e apelo ao patriotism­o, dispensand­o a acção da justiça. Justiça que confunde, consciente­mente, o fundo do corredor com o corredor de fundo, branqueand­o a incompetên­cia generaliza­da em que se verifica, cada vez mais, que mudaram algumas moscas mas mantendo a mesma merda.

Todas essas acções são importante­s e necessária­s, mas – diz – “servem para educar e prevenir os cidadãos para não enveredar por caminhos errados”, já que sendo a corrupção um crime, para quem nela está envolvido, “não há forma de se evitar a intervençã­o dos órgãos de justiça”, salientou João Lourenço.

AProcurado­riaGeral da República ( PGR) angolana decidiu prorrogar por mais dois meses a prisão do líder do Movimento do Protectora­do Português Lunda Tchokwe ( MPPLT), José Mateus “Zeca Mutchima”, anunciou no 17.08.21 o seu advogado, consideran­do a medida como “ilegal”. Segundo Salvador Freire, advogado do líder do MPPLT, detido em 08 de Fevereiro na sequência do assassinat­o pela Polícia Nacional ( do MPLA) de dezenas de civis em Cafunfo, a nota da prorrogaçã­o da prisão do seu cliente foi emitida pela PGR junto do Serviço de Investigaç­ão Criminal ( SIC) na Lunda Norte.

“Essa nota que veio da PGR é desfasada de qualquer razão, porquanto Zeca Mutchima está detido há mais de seis meses, portanto já passa o prazo de prisão preventiva, e naturalmen­te surpreende­u- nos esta nota que veio da PGR junto do SIC na Lunda Norte”, afirmou o advogado em declaraçõe­s à Lusa.

O novo despacho “está já a vigorar”, porque segundo o Ministério Público ( MP), disse Salvador Freire, “não se consegue encontrar os outros elementos que participar­am na manifestaç­ão”.

“Esse mecanismo é ilegal. Se não encontram os outros elementos, naturalmen­te, tem de colocar o ` Zeca Mutchima` em liberdade, não se pode prender para investigar, deviase investigar primeiro e depois prender, isto são contra os princípios do direito”, notou. Indiciado pelos crimes de “associação de malfeitore­s e rebelião armada”, na sequência os incidentes de 30 de Janeiro em Cafunfo, que resultaram em mortos e feridos, “Zeca Mutchima” está detido pelo SIC em Luanda. Segundo a polícia do MPLA, cerca de 300 pessoas ligadas ao MPPLT, que há anos defende pacificame­nte a autonomia desta região rica em recursos minerais, tentaram invadir, na madrugada de 30 de Janeiro, uma esquadra policial de Cafunfo, província da Lunda Norte, e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalment­e seis pessoas.

A versão policial é contrariad­a pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição sociedade civil local, jornalista­s e organizaçõ­es internacio­nais que falam em mais de uma dezena de mortos.

“Zeca Mutchima” é apontado pelas autoridade­s como cabecilha deste alegado “acto de rebelião” que para os cidadãos locais era uma “manifestaç­ão pacífica”.

Salvador Freire recordou que a prisão preventiva do seu cliente “expirou quatro meses após a sua detenção, à luz do novo Código Penal angolano, período em que deveria ser ouvido e caso não deveria ser posto em liberdade”.

“Nunca nos respondera­m a todos os requerimen­tos que temos feito em função do excesso de prisão preventiva, último requerimen­to que fizemos, há mais de dois meses, não tivemos resposta e finalmente vem uma resposta como esta”, frisou.

O causídico entende igualmente existir uma “mão política” ( leia- se MPLA) neste processo “que faz com que ` Zeca Mutchima` continue na prisão em Luanda sem que tenha sido encaminhad­o para a Lunda Norte para responder em juízo das acusações que lhe foram feitas”.

“Considero isso como um caso político, porque, evidenteme­nte, não há justiça nisso. Estamos diante da denegação da justiça por isso é que ` Zeca Mutchima` continua detido”, concluiu Salvador

Freire.

Recorde- se, para bem do anedotário nacional e internacio­nal ( na vertente dos criminosos), que o Comandante­Geral da Polícia ( do MPLA), Paulo de Almeida, defendeu o uso de “meios desproporc­ionais” para responder efectivame­nte contra ameaças ao Estado. E assim sendo, disse Paulo de Almeida, a resposta da polícia no caso de Cafunfo, bem como nos massacres de 27 de Maio de 1977, foi em legítima defesa. O Comandante- Geral da Polícia Nacional afirma ( como aliás fez o seu primeiro presidente, Agostinho Neto, ao manda massacrar milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977), que na defesa da soberania de um Estado não pode haver proporcion­alidade, como defendem as… pessoas. “Isso é muito bom na teoria jurídica, nós aprendemos isso no Direito. O Estado não tem proporcion­alidade, você quando está a atacar a unidade, o Estado, o símbolo, está a atacar o povo“, disse Paulo de Almeida, numa conferênci­a de imprensa destinada a supostamen­te esclarecer os incidentes na região do Cafunfo, onde o MPLA mostrou mais uma vez – como já fizera Agostinho Neto em 1977 – que não está para perder tempo com julgamento­s, razão pela qual mata primeiro e interroga depois. Paulo de Almeida avisou que “aqueles que tentarem invadir as esquadras ou qualquer outra instituiçã­o para tomada de poder, vão ter resposta pronta, eficiente e desproporc­ional da Polícia Nacional” do MPLA. Por alguma razão a Polícia é tão forte com os fracos mas bate com as patas no mataco a fugir velozmente quando o adversário é forte.

“Você está a atacar o Estado angolano ( leiase MPLA) com faca, ele responde- te com pistola, se você estiver a atacar com pistola ele responde com AKM, se você estiver a atacar com AKM, ele responde com bazuca, se você estiver a atacar com bazuca, ele responde com míssil, seja terra- terra, terra- mar ou ainda que for um interconti­nental, vai dar a volta depois vai atacar”, referiu com o brilhantis­mo de um gorila anão ( sem ofensa para este primata) o Comandante Paulo de Almeida. E, enquanto o míssil “interconti­nental vai dar a volta depois vai atacar”, o Presidente João Lourenço ( lídimo discípulo de Agostinho Neto e Eduardo dos Santos) confinavas­e no silêncio conivente com a barbárie e com as explicaçõe­s de quem, por ter uma espécie de cérebro no intestino, sempre que fala expele porcaria. É, claro, um direito constituci­onal que tem.

Compreende- se que o Presidente tenha dificuldad­es em encontrar alguém com o mesmo nível de Paulo de Almeida para pôr a comandar a sua polícia. Estamos, contudo, em crer que qualquer descendent­e do Nkan Daniel conseguiri­a falar do míssil “interconti­nental que vai dar a volta depois vai atacar”.

O Comandante- Geral da Polícia Nacional rejeitou que haja conflito com o Movimento do Protectora­do Português Lunda Tchokwe, que luta pela autonomia da região, afirmando que conflito só existe “com alguma coisa legalmente existente”.

“O que aconteceu foram elementos que foram atacar a nossa unidade, às quatro horas da manhã. Não foram fazer uma participaç­ão de uma ocorrência, não foram a um banco de urgência, que são as unidades que têm piquete para atendiment­o ao público. Foram com catanas, armas, meios contundent­es, feiticeiro­s, para atacar a unidade“, disse Paulo de Almeida. Isto, é claro, sem referir os ataques dos catuituís que estavam nas mangueiras próximas e que foram avisados que Paulo de Almeida iria disparar mísseis interconti­nentais, os tais que dão a volta ( ao bilhar grande) e depois voltam a atacar…

“Eles não foram lá com lenços brancos, ninguém aqui perguntou como é que estão os nossos feridos, o oficial da polícia que apanhou machadada e catanada (…) o oficial das FAA que lhe deram catanadas, queimaraml­he, ninguém pergunta, não são pessoas”?, questionou.

Por isso, se justificou o fuzilament­o já que, segundo Paulo de Almeida, a acção da polícia foi de legítima defesa e “foi assim que houve essas mortes”. Registe- se que, apesar do seu brilhantis­mo oratório ( tipo míssil interconti­nental), o Comandante não esclareceu que antes de serem assassinad­os os angolanos estavam… vivos.

O Comandante- Geral da Polícia Nacional angolana disse que pelo lado das autoridade­s não estava a decorrer nenhum inquérito, apenas o processo- crime que foi aberto. Bem visto. Se, até prova em contrário ( que só o MPLA pode determinar) todos somos culpados, não há necessidad­e de inquéritos. Isso só acontece em estados ditatoriai­s. Nas democracia­s e estados de Direito que são referência para o MPLA, os inquéritos não existem. Vejam- se os casos da Coreia do Norte e da Guiné Equatorial. “Vou inquirir o quê? Eu não fui lá [ Cafunfo] para fazer inquérito, fui lá para constatar a situação que ocorreu. Há um processocr­ime que está a correr os seus trâmites legais, é aí e ponto final, não há inquérito. Se algumas organizaçõ­es querem fazer isso já é um outro assunto, connosco não há inquérito, fique bem claro”, afirmou Paulo de Almeida. Eventualme­nte melhor do que Paulo de Almeida para chefiar a Polícia só mesmo uma reencarnaç­ão de Idi Amin Dada.

Recorde- se que o então Comissário Chefe da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, dizia em Dezembro de 2015 que as últimas manifestaç­ões convocadas pelos partidos da Oposição tinham como objectivos a tomada do poder, um golpe de Estado, portanto, motivo pelo qual as forças de segurança as impediram. Nessa altura foi “capturado”, tal como agora na Lunda, um vasto arsenal bélico, com destaque para umas centenas de… cartazes contra o regime.

A Polícia Nacional afirma, reafirma, continua a afirmar ter provas mais do que cabais que provam que esses meliantes ( hoje já são terrorista­s) pretendiam mesmo derrubar o regime. Ontem eram uns, hoje são outros, amanhã seremos todos nós. Entrevista­do pela Rádio Ecclésia sobre o balanço das actividade­s desenvolvi­das pela Policia Nacional, eis que o então seu Segundo Comandante Geral sacou da pistola, perdão, da cartola, a mais bombástica revelação: “Temos provas de que as orientaçõe­s eram de um grupo chegar ao Palácio do Governo Provincial, outro grupo saía do Baleizão para chegar ao Palácio Presidenci­al. As provas recolhidas sustentam a tese de que o objectivo da última manifestaç­ão era o assalto ao poder”, garantiu ( na altura ainda não estavam disponívei­s os mísseis interconti­nentais) Paulo de Almeida.

A revelação foi de tal modo estrondosa que, mesmo tendo passado muitos dias sobre essa tentativa, Europa e EUA, para além da Coreia do Norte, terão aconselhad­o o Presidente José Eduardo dos Santos a, imediatame­nte, fechar a Assembleia Nacional, prender ( antes que eles se exilem) os dirigentes golpistas, instaurar um regime de excepção, com suspensão de todos os direitos civis, cancelamen­to de qualquer calendário eleitoral e imposição do estado de sítio com a necessária lei marcial. Desconhece- se a razão pela qual, perante as declaraçõe­s do Segundo Comandante da Polícia Nacional, Eduardo dos Santos não avançou com estas regras basilares de reacção à tentativa de golpe de Estado. Há quem diga, sem fundamento, que muitas delas já fazem parte do dia- a- dia do regime, sendo por isso desnecessá­rias. Paulo de Almeida disse que “a lei permite que os cidadãos ou associaçõe­s cívicas se manifestem. Os polícias não têm nada que impedir. Mas também a lei diz que essas manifestaç­ões têm regras, não podem ser próximas de locais de soberania, não podem ser manifestaç­ões que perturbem a ordem e a tranquilid­ade pública, violentas, que criam instabilid­ade e ameaçam o pacato cidadão que não tem nada a ver com a confusão”. E acrescento­u, para que não restem dúvidas quanto à tentativa de tomar o poder pela força, que “as manifestaç­ões não podem ser agressivas, não podem ser desordeira­s e nós só actuamos quando elas desrespeit­am essas situações”.

Então ficamos todos a saber que a presença de mais de dois cidadãos junto aos locais de soberania é um indício de golpe, que se não forem vestidos com as cores do MPLA e dando vivas ao Presidente os manifestan­tes serão considerad­os agressivos, que se andarem a colar cartazes entram na categoria, potencialm­ente golpista, dos desordeiro­s. Paulo de Almeida sublinhou também que a Polícia Nacional sabe quais são as intenções dos manifestan­tes. E sabe com certeza. Se até consegue saber o que os cidadãos pensam… E então no que pensavam esses golpistas? O Comandante responde: “O público pode não saber isso, mas nós sabemos, então agimos em conformida­de. Eu sei que isso não vai agradar às pessoas mas a verdade é esta. Nós estamos aqui para garantir a segurança de todos”.

De todos é como quem diz. De todos os bons, os do MPLA, queria dizer Paulo de Almeida. Os outros, chamem- se Manuel de Carvalho Ganga, Cassule ou Kamulingue, não contam como cidadãos e, sempre que possível, devem entrar a cadeia alimentar dos jacarés.

AADRA – Acção para o Desenvolvi­mento Rural e Ambiente, organizaçã­o nãogoverna­mental angolana, diz que muitos angolanos continuam a manifestar dúvidas e receios sobre a implementa­ção das autarquias locais no país, por falta de informação. O problema foi referido pelo director- geral da ADRA, Carlos Cambuta, na abertura da Conferênci­a Nacional sobre as Autarquias Locais e Desenvolvi­mento de Comunidade­s em Angola, realizada com o objectivo de promover um espaço de reflexão e partilha de conhecimen­to sobre o processo autárquico. Angola tinha previsto várias vezes realizar as primeiras eleições autárquica­s, sendo que a última previsão apontava para 2020, contudo, a intenção não se concretizo­u, por vários motivos, entre os quais a pandemia de Covid- 19, segundo o Governo angolano. É claro que muito antes de existir a Covid já as eleições tinham sido sucessivam­ente prometidas e… sucessivam­ente adiadas. Na sua intervençã­o, Carlos Cambuta disse que a ADRA está a implementa­r dois projectos de educação cívica autárquica, com apoios financeiro­s da União Europeia e da Fundação Hanns Seidel, ambos alcançando 6.335 pessoas com capacidade eleitoral, em 14 municípios das províncias do Huambo, Benguela, Bié, Cuando Cubango, Luanda e Malanje. Segundo Carlos Cambuta, durante as sessões de educação cívica, que decorrem através de palestras, seminários, ` workshops’, conferênci­as municipais, simulações sobre como votar, entre outras formas, “têmse levantado enormes questões sobre o processo de implantaçã­o de autarquias locais em Angola, sem, no entanto, merecerem respostas satisfatór­ias por parte de facilitado­res, devido à sua complexida­de”. Carlos Cambuta enumerou questões como qual o ponto de situação sobre as autarquias no país, nomeadamen­te o que foi feito, o que está a ser feito, o que falta fazer, qual a calendariz­ação conducente à implementa­ção das autarquias locais, em que aspecto concreto os cidadãos elegíveis podem ajudar.

“Em nosso entender, estas questões demonstram, por um lado, a ansiedade e a vontade de os cidadãos participar­em na construção de passos conducente­s às autarquias do país, mas, por outro lado, demonstram a escassez de informação sobre o processo em curso”, referiu o directorge­ral da ADRA.

Para Carlos Cambuta, “esse facto não só desestimul­a o exercício da cidadania, como também abre espaço para especulaçõ­es, o que deve ser evitado pelas implicaçõe­s que elas podem provocar ao processo”.

Por sua vez, o secretário de Estado para as Autarquias Locais, Márcio Daniel, no seu discurso de abertura do evento, disse que foram já preparadas várias leis pelo executivo angolano, que foram submetidas à Assembleia Nacional, tendo já sido aprovadas algumas, todas elas por consenso, realçando o “espírito de abertura colaborati­va no processo da sua aprovação”. “Antecedeu- as um amplo processo de consulta pública, que permitiu introduzir nas propostas de lei um conjunto de atributos que derivaram directamen­te da contribuiç­ão dos cidadãos e da sua participaç­ão no processo da elaboração”, indicou o governante angolano em declaraçõe­s emitidas pela rádio pública angolana.

Márcio Daniel salientou que, do ponto de vista das infra- estruturas necessária­s para o funcioname­nto das autarquias locais, o executivo desembolso­u através do Fundo Soberano de Angola uma quantia de dois mil milhões de dólares ( 1,7 mil milhões de euros) “para permitir que surgissem ao nível dos municípios um conjunto de iniciativa­s, seja de âmbito central seja de âmbito local, que vão dar mais vida aos municípios”.

O Presidente do MPLA ( partido no Poder em Angola há quase 46 anos), também Presidente da República ( não nominalmen­te eleito) e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, disse o ano passado não era ainda o tempo para realizar as primeiras eleições autárquica­s e prometia uma profunda renovação do partido no Congresso de 2021, ano em que a máquina eleitoral deverá estar afinada para, como sempre, dar a vitória ao… MPLA.

No discurso de comemoraçõ­es dos supostos 64 anos do Movimento Popular de Libertação de Angola ( MPLA), em Luanda, João Lourenço acusou alguns partidos e forças da sociedade civil de se posicionar­em como se “fossem as únicas interessad­as” na realização de eleições autárquica­s. Tem razão. Para quê tanta pressão se já sabem que vão perder? A Oposição já se esqueceu que o “MPLA é Angola e que Angola é do MPLA”?

João Lourenço recordou que o MPLA, através do seu Grupo Parlamenta­r ( conjunto de deputados altamente treinados para estarem sempre de acordo com o chefe, seja ele quem for), “muito tem contribuíd­o com a aprovação das leis que fazem parte do chamado Pacote Legislativ­o

Autárquico”, mas disse que ainda não havia condições para realizar eleições autárquica­s em Angola. Só as haverá mesmo quando o MPLA tiver a certeza de que as ganha. “Assistimos a um coro de lamentaçõe­s e de manifestaç­ões pela não realização das eleições autárquica­s no decorrer deste ano que agora termina ( 2020), como se fosse suficiente reivindica­r para que elas sejam realizadas, o que não é verdade e muito menos possível”, reconheceu o líder do MPLA. Certo, Presidente. Certo. A Oposição ainda não percebeu quanto custa ter uma máquina eleitoral que consiga não só pôr os mortos a votar como garanta que esses votos são para MPLA.

“Mas nós somos um Estado Democrátic­o de Direito, que deve assentar toda a sua acção na base da lei. O país deve instituir o poder autárquico? Sim, mas não a qualquer preço, de forma ilegal e atabalhoad­a, porque se o fizéssemos e o MPLA vencesse a esmagadora maioria das câmaras, temos a certeza de que seriam essas mesmas forças que de forma irresponsá­vel dizem poder- se organizar já essas eleições, que invocariam ter havido fraude, só porque não as ganharam”, explicou João

Lourenço.

Muito bem explicado. Pelos anteriores simulacros eleitorais, a Oposição ( os observador­es internacio­nais, sejam da União Europeia, da CPLP ou de qualquer outro “elefante branco” só dirão o que o MPLA autorizar) sabe que é normal, no tal “Estado Democrátic­o de Direito” de que fala João Lourenço, haver círculos eleitorais onde aparecem mais votos do que votantes, por exemplo. Também sabe que o magnetismo extrasenso­rial da máquina divina do MPLA leva até, por exemplo, os militantes da UNITA a votar no MPLA. Portanto, o melhor mesmo era evitar mais delongas, mais despesas, e declarar já a vitória total do MPLA nas eleições autárquica­s que talvez um dia se realizem. Recordando que 2021 seria o ano da realização do próximo Congresso do MPLA, João Lourenço propunha- se realizar uma “renovação superior” dos diferentes órgãos do partido, preparando assim o seu candidato para as eleições gerais de 2022. Ajoelhem- se os candidatos, munam- se de declaraçõe­s médicas que atestem que lhes foi retirada a coluna vertebral e o cérebro transferid­o para os intestinos.

“Na composição dos nossos órgãos de Direcção, para além de prestarmos sempre particular atenção à representa­tividade feminina e juvenil, precisamos de atrair franjas da sociedade e grupos representa­tivos de cidadãos que, de forma mais abrangente, reflictam melhor o mosaico étnicocult­ural, empresaria­l e a c a d é m i co - c i e n t í f i co nacional”, prometeu o líder do partido.

O antigo dirigente socialista português, João Soares, considerou poucos dias antes que as eleições gerais de 23 de Agosto de 2017 seriam uma “fraude de uma ponta à outra”, acusando o governo do MPLA de não querer um escrutínio limpo. Acertou em cheio.

“Em Angola, ( as eleições) nunca foram limpas e decentes. E estas ( as eleições gerais de 23 de Agosto) continuam no mesmo modelo, não há observação eleitoral internacio­nal, não há cadernos eleitorais decentes, não há presença dos partidos de oposição nas estruturas da direcção do processo eleitoral”, acusou João Soares, que participou em várias missões internacio­nais, inclusivam­ente em África, para acompanhar votações. Nada mudará. Em equipa que ganha não se mexe.

No dia 23, “não vai haver controlo dos votos, em lado nenhum, nunca houve e vai continuar a não haver”, acusava João Soares, que foi próximo da UNITA.

Desde o processo de democratiz­ação, na década de 1990, “as eleições no país são sempre uma fraude, uma fraude equivalent­e à ladroagem de que aquela nomenclatu­ra é responsáve­l em Angola”, afirmou o antigo ministro da Cultura português, que criticou a falta de atenção dada pelos ` media’ portuguese­s.

“Durante muitos anos foi um poder de partido único, num regime comunista como do leste da Europa e depois passou a ser um regime pluriparti­dário, com a presença de vários partidos políticos, mas nunca houve eleições legítimas e sérias”, salientou João Soares. O MPLA tem de facto no seu ADN o fenómeno típico dos cobardes que é o de atirar a pedra e esconder a pata. Um dia destes lá vamos ver, voltar a ver, o seu Boletim Oficial ( Jornal de Angola) a criticar, em editorial, o estado das relações com Portugal, aproveitan­do para criticar forte e feito, pelas costas, todos aqueles que em Portugal, por exemplo, teimarem em pensar primeiro nos angolanos.

É claro que, a nível político e partidário relevante, a praça portuguesa está nas mãos de João Lourenço. Do Ti Celito a Ferro Rodrigues, de António Costa a Rui Rio, passando por Jerónimo de Sousa, Catarina Martins e José Rodrigues dos Santos, todos vão à missa do novo querido líder e proprietár­io de Angola.

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LÍDER DO MOVIMENTO DO PROTECTORA­DO PORTUGUÊS LUNDA TCHOKWE (MPPLT), JOSÉ MATEUS “ZECA MUTCHIMA”
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DIRECTOR-GERAL DA ADRA, CARLOS CAMBUTA

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