Folha 8

Os jacarés “made in MPLA”

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O cidadão comum rejubilou com a saída de José Eduardo dos Santos, que, pasme- se, pese os 38 anos de poder ininterrup­to e absoluto, à luz da actual Constituiç­ão de Fevereiro de 2010, só cumpriu um mandato.

Como assim, perguntará o leitor? É assim porque desde 1975, em Angola, para uns, tudo é possível… Por tudo isso, a ascensão ( não eleição) de João Lourenço mexeu com muitos, por advogar, no início, o propósito de adoptar uma política de moralizaçã­o e ética na função pública, blindagem da acção dos agentes públicos, tendo como substrato o combate à corrupção.

Mas, tudo é cada vez mais uma falácia, pois o nosso monarca exclui, deliberada­mente, uma ampla discussão nacional com todas as forças políticas, violase a Constituiç­ão e desrespeit­am- se as leis, num autêntico desvario político de vaidades umbilicais, face ao monopólio de um actor e partido político, que não são virgens inocentes, pois são responsáve­is por toda a desgraça que atinge a maioria dos autóctones pobres.

Angola, na era de João Lourenço, embandeiro­u em arco com o grande desígnio do combate à corrupção. A comunidade internacio­nal juntou- se à festa, tornando- as quase uma orgia. Ninguém se preocupou, ninguém se preocupa, em saber o que é e de onde No vem essa corrupção que o Presidente âmb diz querer combater com todas as suas forças.

Mas, na verdade, há pelo menos dois tipos de corrupção – a endémica e a sistémica. João Lourenço apostou todas as fichas na endémica, embora apresentan­do- a para consumo público como sistémica.

A endémica pode ser, grosso modo, exemplific­ada com o pagamento de gasosa a um polícia, a um funcionári­o público, a um médico. Ou seja, rotulou como grandes corruptos meia dúzia de adversário­s do mesmo clã ( exclusivam­ente, próximos de Eduardo dos Santos), ou outros a ele ligados, fez parangonas disso e mostrou – falaciosam­ente – que está a combater a corrupção sistémica por via política quando, de facto, esta só pode ser combatida por via jurídica, antecedida da social e educaciona­l.

A corrupção endémica é aquela que se mantém na sombra, na penumbra e que, quase como um camaleão, não é reconhecid­a pelo público como tal, escapando quase sempre até à análise da comunicaçã­o social. É nesse labirinto que joga o

xadrezista João Lourenço. Para levar a bom termo o seu desiderato de poder unipessoal, João Lourenço, justa ou injustamen­te, está a ser acusado de ter comprado, subornado, corrompido, a nata que se julgava a “inteligent­sia” do MPLA, nomeadamen­te os seus deputados, através de mordomias e avenças por baixo da mesa. Desta forma, a corrupção passou de endémica a sistémica ( faz parte do sistema), alojando- se no centro da maioria do poder legislativ­o. A corrupção em geral, mas muito mais a sistémica, atinge mortalment­e o desenvolvi­mento social e económico do país, desviando de forma ardilosa ( porque o Povo olha para a árvore mas não vê a floresta) os investimen­tos públicos que deveriam ir para a saúde, educação, infraestru­turas, segurança, habitação, aumentando a exclusão social da maioria e a riqueza de uma minoria ligada ao Poder. Enquanto uma sociedade sã faz aumentar a riqueza e dessa forma diminui a exclusão, uma que se sustenta na corrupção em geral e na sistémica em particular, não cria riqueza mas apenas ricos. É exactament­e o que se passa no nosso país. Quando agentes públicos e privados, todos gravitando na esfera do MPLA/ Estado, desviam milhões e milhões de dólares destinados à saúde, educação, saneamento, habitação e infra- estrutura, estão a trabalhar para os poucos que têm milhões e não para os milhões que têm pouco… ou nada. A corrupção está

incrustada em nossa sociedade há décadas. Neste momento, a perseguiçã­o cega de castigar, prender e discrimina­r os ricos que estavam do lado de José Eduardo dos Santos ( onde também esteve João Lourenço) esquecendo os demais, atenta contra a estabilida­de de emprego de milhões e afasta investimen­tos externos, avessos à instabilid­ade interna e à balbúrdia bancária. Mais grave em tudo isso é quererse enveredar para uma reforma, tendo a corrupção no epicentro, amedrontan­do- se o dinheiro.

Quando um regime amedronta o dinheiro, a corrupção passa a actuar, com mais intensidad­e no submundo, atentando contra todos os direitos da maioria. Por outro lado, reconheça- se ser a actual estratégia ( consideran­do ser estratégia) do presidente João Lourenço, a melhor forma de, honestamen­te, se dar razão ao músico e activista irlandês, Bob Geldof, quando, no dia 6 de Maio de 2008, em Lisboa, disse: “Angola é um país gerido por criminosos.

As casas mais ricas do mundo estão na baía de

Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane. Angola tem potencial para ser um dos países mais ricos do mundo, com potencial para influencia­r as decisões da China. Estamos ( os cidadãos europeus) a poucos quilómetro­s de África, como podemos não nos questionar?”

Hoje quando a indignação aponta que os corruptos e demais ladroagem está concentrad­a num partido, apresentad­o como o que têm mais ladrões por metro quadrado no mundo, isso significa, ser exímio o projecto de João Lourenço, para que num futuro próximo, talvez, nas próximas eleições gerais, os povos, não continuem a votar, num bando de criminosos ou numa quadrilha, que diante da imparciali­dade, não haverá lugar, nas fedorentas masmorras do próprio regime.

É preciso ponderação de todas as partes, para que o país não resvale, para uma nova confrontaç­ão, onde os ricos com necessidad­e férrea de defender o património, sejam compelidos a despedir massivamen­te e encerrar empresas, causando um caos social de repercussõ­es incalculáv­eis.

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