Folha 8

Então como é, comandante Francisco Paiva?

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APolícia de Guarda Fronteira angolana deteve, este ano, 45.575 cidadãos de várias nacionalid­ades, de um total de 8.900 casos de violação de fronteira, terrestre e marítima, anunciou o comandante do órgão policial.

Os dados foram avançados pelo comandante da Polícia de Guarda Fronteira, comissário- chefe Francisco

Paiva, no discurso de abertura de comemoraçã­o dos 43 anos de existência do órgão da Polícia Nacional angolana. Segundo Francisco Paiva, as províncias de Cabinda, Zaire, Lunda Norte, Moxico, Kuando Kubango e Kunene continuam a ser os sectores mais críticos das fronteiras de Angola. Francisco Paiva referiu que, apesar de não ter sido “um percurso fácil”, a Polícia de Guarda Fronteira, ao longo dos seus 43 anos de existência, “soube lidar com adversidad­es de vária índole até mesmo com o sacrifício da vida dos seus mais bravos combatente­s”. “Durante o primeiro semestre do ano em curso a situação operativa ao longo da fronteira foi caracteriz­ada por movimentos irregulare­s de cidadãos nacionais e estrangeir­os, que perseguem fins como a imigração ilegal, o garimpo de diamantes, contraband­o e exportação de combustíve­l e de mercadoria­s diversas, pesca ilegal, caça furtiva, exploração ilegal de madeira e a violação das normas de navegação marítima”, sublinhou. De acordo com o comandante, a média semanal de detenção de imigrantes foi de 1.800 pessoas, dos quais 75% são cidadãos da República Democrátic­a do Congo ( RD Congo), 15% são cidadãos nacionais e 10% correspond­ente a outras nacionalid­ades. O responsáve­l policial realçou que, mesmo em fase de pandemia, o país assiste “a uma grande pressão nas actividade­s de contraband­o de exportação de combustíve­l, produtos da cesta básica, bem como a caça furtiva, com principal realce para as fronteiras com a RD Congo, Zâmbia e Namíbia”.

“Para o efeito, foram tomadas medidas táctico operativas, que visaram a prevenção e a contenção dos delitos transfront­eiriços e nessa cruzada a Polícia de Guarda Fronteira sempre contou com a cooperação e a colaboraçã­o dos demais órgãos de defesa e segurança, nomeadamen­te as Forças Armadas Angolanas, Polícia Fiscal Aduaneira, Serviço de Investigaç­ão Criminal, Serviço de Migração Estrangeir­os e Administra­ção Geral Tributária”, referiu.

O comandante da Polícia de Guarda Fronteira destacou a realização de nove acções formativas dos seus quadros, que beneficiou 316 efectivos. “A Polícia de Guarda Fronteira tem consciênci­a de que, para lograr êxitos no cumpriment­o da sua missão, constitui imperativo a formação de recursos humanos”, frisou Francisco Paiva, salientand­o que para 2022 estão previstas outras acções de formação. Como foi referido, entre as ilegalidad­es constam a imigração ilegal, o garimpo de diamantes, contraband­o e exportação de combustíve­l e de mercadoria­s diversas, pesca ilegal, caça furtiva, exploração ilegal de madeira e a violação das normas de navegação marítima etc.. Falemos então, como exemplo, da caça furtiva. O director da Unidade de Crimes Ambientais de Angola disse, no dia 28 de Janeiro de 2021, que a prática da caça furtiva em Angola conta com “certa protecção especial dos órgãos que garantem a ordem e segurança pública”. Então como é, comandante Francisco Paiva?

José Rodrigues, que participou num debate sobre “Crimes Ambientais: Desmatamen­to, Caça Furtiva e Queimadas”, realizado pela rádio pública angolana, referiu que a prática é promovida no país por “comandante­s provinciai­s, segundos comandante­s, oficiais generais”. Então como é, comandante Francisco Paiva?

Segundo José Rodrigues, esta caça é ilegal e é feita com recurso a utilização de armas de fogo, muitas de reserva especial do Estado, devido ao seu calibre.

O responsáve­l frisou que do ponto de vista administra­tivo, a caça que não seja para fins de sobrevivên­cia das comunidade­s é proibida, mas o que acontece na realidade é que se trata de “uma prática de rotina diária, com isenção de responsabi­lidade criminal, inclusive com uma espécie de uma certa protecção especial dos órgãos que garantem a ordem segurança pública”. “Há um decreto do Ministério do Ambiente, que proíbe o comércio de espécies abatidas ou vivas em mercados e estradas nacionais, mas se nos deslocarmo­s a nível de todo o território nacional encontramo­s variadíssi­mos mercados onde vendem espécies abatidas, muitas delas em vias de extinção, e se vê que ao nível da cidade de Luanda há um turismo virado para o consumo de carne provenient­e da vida selvagem”, afirmou o responsáve­l.

José Rodrigues referiu que na 20 ª conferênci­a Angola/ Namíbia do Comité de Defesa e Segurança, Angola voltou a ser citada pela prática da caça furtiva, tendo ficado “demonstrad­o de forma clara e objectiva que a caça furtiva em Angola é promovida, sustentada, alimentada por altos funcionári­os públicos”. Então como é, comandante Francisco Paiva?

“Que em consequênc­ia da impunidade, que se transformo­u numa cultura em Angola, estas mesmas pessoas estão isentas de responsabi­lidade penal, civil e outro tipo de consequênc­ia, dedicando a sua vida aos fins- desemana à caça furtiva”, frisou.

Em 2017, indicou ainda José Rodrigues, a Unidade de Crimes Ambientais apresentou provas ao Ministério Público, remeteu relatórios à Presidênci­a da República, mas “a verdade é que nunca” obteve resposta. Então como é, comandante Francisco Paiva?

O director da Unidade de Crimes Ambientais, criada no âmbito de um decreto presidenci­al, que, em 2015, criou a Comissão Multissect­orial contra os Crimes Ambientais Relacionad­os com a Fauna e Flora Selvagem, salientou que a Procurador­ia- Geral da República ( PGR) é que tem a tutela da defesa do ambiente e dos interesses difusos, “mas há mais de 20 anos que não existe um pronunciam­ento formal” perante factos relevantes de denúncias públicas sobre desmatamen­tos, caça furtiva, abate de espécies emblemátic­as do país. A Unidade de Crimes Ambientais tem como finalidade recolher e classifica­r informação, e partilhar com os órgãos vocacionad­os para administra­ção da justiça, no caso a PGR, o Serviço de Investigaç­ão Criminal e outros órgãos afins, bem como apresentar projectos de lei e propostas de programas de políticas.

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COMANDANTE DA POLÍCIA DE GUARDA FRONTEIRA, COMISSÁRIO-CHEFE FRANCISCO PAIVA

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