Na Esquina do Tempo
A“Esquina do Tempo” é o título escolhido na sequência do amável e simbólico convite que o meu prezado compatriota William Tonet fez para escrever algumas palavras diversas que darão origem a crónicas ou artigos que poderão ser utéis ou não, na óptica do leitor ou de quem tiver o gosto pela leitura.
A “Esquina do Tempo” surge da minha lavra de pensamento e não tem qualquer visão egocêntrica ou pretensão. É um exercício de profunda paixão pela escrita, pelo legítimo exercício de pensamento sem recorrer ao insulto ou à intriga, nem fomentando qualquer incitamento a práticas discriminatórias ou à violência. Porque rejeito liminarmente essa postura há muitos anos. Primeiro porque a minha condição adulta que antecedeu todos os processos que vão do nascimento, passando pela adolescência e juventude, tiveram a transmissão por saudosa vivência familiar, de valores que entendo que deveriam, do meu ponto de vista, serem os ideais para o meu conceito de sociedade no nosso belo território numa lógica de agir local, pensar global. As sociedades são dinâmicas, mas o dinamismo das sociedades nos seus diferentes domínios não deve, julgo, anular valores essenciais face ao devir dos dias, da condição humana concreta de cada habitante/ ser humano deste do território angolano ou de outro lugar no mundo.
Está é a minha visão que pode é deve ser diferente de quem possa vier a lerme. Ninguém tem que pensar exactamente como eu.
Eu tenho que respeitar por assumida convicção, a diferença de pensamento no quadro da diversidade de opinião e da liberdade de opinião. E como o direito à opinião é tão lato e tão diverso, creio, que será o conjunto de diversa opinião que pode conduzir o nosso País ou outros, a ir de encontro aos anseios mais profundos de vários povos, de uma Nação cá ou noutro espaço urbano, rural ou outro de um globo tão amplo, extenso e inquestionavelmente diverso a múltiplos nivéis. Por isso, nesta primeira reflexão desta “Esquina do Tempo”, entendi fazer esta prévia introdução que justifica a escolha do título, a gratidão pelo convite do William Tonet e dizer- vos que neste namoro com as letras que formarão palavras, entendo que é mais que Tempo que o nosso caso, o Tempo ajude- nos a vencer rapidamente preconceitos, tabus, exclusões, divisões e que em cada segundo possamos ganhar Tempo ao Tempo perdido. Cada segundo do nosso Tempo territorial deve ser em meu exclusivo entender, Tempo para que em conjunto ou de forma individual possamos plantar sementes de Bem, cujo cultivo deve ter um efeito multiplicador de práticas de Bem em todo o território nacional e no mundo. Perguntará o leitor porquê que o autor desta “Esquina do Tempo” refere em simultâneo preocupação por Angola e pelo Mundo. Porque há muitos anos e desde que tive a consciência por, repito vivência familiar, escolar, académica e existencial, o meu Amor por Angola e pelo mundo é pleno e assumido.
Não nenhuma norma constitucional nacional ou outra que anule esta minha paixão por este território onde me orgulho de ter nascido, crescido, vivenciado e sentido. Se Luanda é Angola são e foram pontes de embarque para o mundo, o mundo tem sido o meu porto de abrigo e de embarque para sentir no meu diário quotidiano, o espaço para continuar a amar Angola, o Povo de que faço legitimamente parte. Este sentido de pertença não me pode ser retirado por nenhum. DecretoLei ou qualquer iniciativa parlamentar. Logo, está “Esquina do Tempo” passará a ser um Espaço onde de forma aberta e plural irei transcrever o meu Pensamento sobre assuntos vários e em várias áreas temáticas deixando em aberto o meu sentir e expressão do que observo face à Angola e ao mundo. Esta “Esquina do Tempo” começa num novo contexto do mundo, cujo paradigma interroga- nos diariamente. A Pandemia pelo COVID - 19 deixou irremediavelmente a Humanidade em suspenso, abalou todos os Sistemas Nacionais de Saúde a nível global, interpelou e questionou como continua a perguntar à Ciência, à Medicina, à Biologia, ao universo farmacêutico o que aconteceu, o que acontece e o que pode acontecer no plano humano.
Pude escrever num texto intitulado “O Paradigma de um Novo Mundo e o COVID 19”, que esta Pandemia Global apesar da triste tragédia e das perdas humanas que desde Dezembro de 2019 começaram em Whuan na China questionaram tudo e todos. Governos, Estados, Povos, classe médica, cientistas e todos os intervenientes da área da Saúde Pública e as respostas tardaram porque o que parecia ser uma dado adquirido sobre esta doença sem rosto, a mesma abalou- nos a todos e a todos continua a abalar e a questionar. Emergiu e é visível uma nova linguagem universal; a sinalética nos espaços urbanos e rurais passaram a incluir um recorrente apelo ao “distanciamento social” de 2 metros, mas à recorrente higienização das mãos sem esquecer o uso de máscaras faciais de diversos modelos e tipos. E, aqui chegados, verificamos haver uma adopção universal desta estratégia de modo a evitar a contaminação em massa e contribuir para a redução substantiva do risco, que passou a ser uma realidade dos nossos dias.
A tragédia da pandemia questionou muitas políticas públicas quer em termos de Saúde Pública, quer em termos sanitários, mas igualmente colocou em causa estruturas hospitalares pública e privadas por opções diferentes da abordagem ao combate à doença e à histórica realidade de acesso universal à cuidados de saúde essenciais à vida por ninguém escolher adoecer.
Além desta questão, a pandemia veio legitimamente levantar e bem a questão de novos e mais investimentos público e privado na construção de hospitais, porque a narrativa tristíssima da pandemia mostrou- nos, muitas vezes, que já não havia mais espaços clínicos para receber doentes pela escassez de meios físicos e humanos.
Por isso é nesta questão em concreto, que em diferentes regiões do país, deverão ser construídos hospitais junto das comunidades de média dimensão, capazes de atuarem na prevenção, antecipando eventuais cenários de outras pandemias ou calamidades e uma contínua e aperfeiçoada formação científica, médica, de enfermagem e de todas as outras especialidades no domínio clínico. Não é uma crítica à ninguém, mas pode ser feito este investimento por constituir um ganho significativo para as populações, a aposta na construção de novos e modernos hospitais e centros de saúde integrados num Sistema Nacional de Saúde Pública, evitando com isso, mais assimetrias e redução de sofrimento. A “Esquina do Tempo” abordou estes caminhos para reflectir e pensar, porquanto e, também, não deve, ser esquecido como país emergente o acesso pleno à água potável a toda a população em termos de igualdade, como igual deve ser o acesso à electricidade e um forte combate à pobreza, dignificando a condição humana individual e colectiva, enquanto compromisso das autoridades políticas e de todos os deputados do parlamento nacional.