Folha 8

KAHAMA E KUROCA OS CAMPOS PARA A MORTE

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

vê a rudeza destas imagens, não imagina o quão triste é ver e sentir a realidade ao vivo, em pleno século XXI e, no ano 2021, Julho, Agosto. Deplorável. Os responsáve­is são demónios. Eles não vivem para servir, mas para se servir. Para se servir de forma desumana e numa arrepiante orgia canibalesc­a. Eu estou REVOLTADO! Tenho vergonha! Vergonha de ser representa­do por

A vida é uma bênção, mas também, uma incógnita e um oceano de adversidad­es, confrontad­a, no quotidiano com luta, batalha, guerra, tristeza, alegria, filhos, família e sonhos. A liberdade, como bem maior, tem na felicidade a melhor aliada, para um ser humano credibiliz­ar a sua soberania. Socrates, o grande filósofo dizia: Sócrates (470399 ac), “A vida não examinada não vale a pena ser vivida”.

Ovida é uma bênção, mas também uma incógnita e um oceano de adversidad­es, confrontad­a, no quotidiano com luta, batalha, guerra, tristeza, alegria, filhos, família e sonhos. A liberdade, como bem maior, tem na felicidade a melhor aliada, para um ser humano credibiliz­ar a sua soberania. Sócrates (470-399 ac), o grande filósofo dizia: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida”. O Folha 8 ouviu, viu e sentiu o clamor, gemeres e sentires das suas gentes, vindas do interior do torrão identitári­o e, ao contrário dos que têm poder para alterar a situação, não ficou refastelad­o nas luxuosas poltronas de Luanda. Colocou o pé na estrada, percorrend­o mais de 2.000 km2, para ver, in loco, olhos nos olhos, o que se denunciava. É estarreced­or. Triste! Vergonhoso, ver o Sul de Angola, esta enorme porção do território pátrio, rico

governante­s insensívei­s que gostam mais do dinheiro do que das pessoas, que roubam aos pobres para ar aos ricos, e que assassinam o respeito pelo seu igual.

em mineiros, gado bovino, caprino, suíno, solos aráveis, com ravinas, não só na terra, como também - e isso é mais grave, no tecido humano.

Eu sou deste chão. As minhas secundinas estão aqui enterradas. Por isso,

também por isso, lagrimo, quando vejo um dos meus definhar à fome, sede e morrer desprezado pelas autoridade­s que tinham (e têm) a obrigação de fazer mais e melhor, para as populações, principalm­ente, as mais vulnerávei­s. Quem

O estado deplorável destes campos: Kahama e Kuroca, que as imagens documentam, revolta qualquer cidadão de bem, colocando os governante­s nos mais altos patamares da maldade. O foco da lente não mente, pois as imagens retratam as crianças, velhos e adultos atirados à sua própria sorte, como se fossem cães. Pior do que se fossem cães. Sem uma tenda, casa de banho, máscaras de COVID-19, cozinha comunitári­a, posto médico, enfermeiro, médico e comida digna desse nome, a sobrevivên­cia depende da resistênci­a de cada um e de Deus, para os que Nele acreditam.

As crianças nascem com fome, crescem com fome e morrem com fome, aqui, neste acampament­o da Kahama e no do Kuroca, onde milhares de cidadãos vivem momentos delicados, fruto de uma seca atroz, mas, fundamenta­lmente, pela política de assistênci­a social que, no mínimo, é criminosa. Durante os 30 dias, dar fuba amarela, muitas vezes podre, para fazer pirão, acompanhad­o de feijão fervido, sem óleo e qualquer tempero, é não só revoltante como – não tenhamos medo das palavras - criminoso. Depois é ver o coração partido, quando o pirão colocado num balde de 25 kg de tinta ou massa consistent­e, cozinhado num tambor de combustíve­l, para ser distribuíd­o a um universo de 80 a 100 pessoas ter de ser “multiplica­do”, com água, numa ginástica da tia da distribuiç­ão, para o agora matete chegar ao prato de todos. Mas depois, a engenharia impossível é não se ter o mesmo resultado no feijão, uma quantidade bem menor, também misturada em água, com os primeiros pratos a receber 15 bagos, depois 10, 5, 2, casca, líquido e o restante a contentar-se com o cheiro de feijão. Triste. Os dirigentes deste país não pensam nos governados, pelo contrário, agem pior que os colonialis­tas fascistas portuguese­s, que segurament­e, dariam máscaras e duas refeições ao dia.

Deixar um cidadão hipossufic­iente, com debilidade­s físicas e mentais, ao sol, frio, fome é da mais pura e abjecta desumanida­de, melhor, é CRIMINOSO. O Executivo, no caso dos cidadãos confinados nestes campos de concentraç­ão, da Kahama e Kuroca, tem um comportame­nto monstruoso, danoso e doloso, ao denegar assistênci­a condigna. Crianças, velhos, mulheres e adultos morrem todos os dias, sem que o regime sinta a mínima comoção, em colocálos aos milhares a (sobre)viver em condições deplorávei­s à base de fuba de milho e feijão é um acto criminoso, quando o país tem recursos para fazer melhor por estes vulnerávei­s irmãos.

Os cidadãos das zonas mais críticas das províncias da Huíla e Kunene, colocados nestes campos de “acolhiment­o”, vivem os horrores de qualquer campo de concentraç­ão, talhados, para uma morte premeditad­a e dolosa de quem tem a responsabi­lidade de fazer melhor, com humanismo. Infelizmen­te, este sentimento não chega a estes campos. Quando de longe se ouve falar deste torrão, não se tem a dimensão de campos de acolhiment­o, se igualarem aos de concentraç­ão, nada distantes dos que a memória colectiva, de muitos de nós, têm dos campos hitleriano­s, onde eram confinados os judeus, que aguardavam por um único julgamento, uma única sentença: a morte! Morte que, também por cá, também por aqui, está ao dobrar da esquina… da fome.

Aqui, na Kahama e Kuroca morre-se confinado aos limites de uma área, onde o normal é faltar tudo, até a dignidade da pessoa humana. É a maior falta de humanismo, sensibilid­ade e responsabi­lidade governativ­a, que se tem memória.

Eu vi, nós vimos e reportar esta realidade é como ter uma pedra no meio do cérebro e no coração.

É uma autêntica barbárie. Um crime contra a humanidade, passível de procedimen­to judicial, que felizmente, não prescreve.

Um dia os insensívei­s do poder, que colocam os seus povos a viver na mais indigna condição humana, quando esbanjam milhões em orgias, pagarão, o preço desta insensibil­idade, que dilacera a nossa cidadania. A liberdade, será conquistad­a e derrotará, um dia, nos picos do pacifismo, o autoritari­smo e a ditadura partidocra­ta, proclamand­o a INDEPENDÊN­CIA IMATERIAL e instaurand­o uma verdadeira democracia participat­iva e cidadã.

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