Folha 8

Vingança ainda está em banho… Isabel

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Segundo o jornal Financial Times ( Março de 2021), Isabel dos Santos alega que João Lourenço deu ordens a procurador­es, juízes e espiões angolanos para lançarem uma “campanha política” e acções judiciais para desmantela­r o seu império, no âmbito de uma “agenda política e vingança pessoal”. Na mesma altura o Jornal de Negócios ( de Portugal) afirmou que – segundo documentaç­ão apresentad­a por Isabel dos Santos à Justiça britânica, verifica- se a existência de uma espécie de “task force” a nível governamen­tal montada para a atingir. Existem, de acordo com a empresária, gravações secretas captadas pelo grupo israelita Black Cube, fundado por antigos membros da Mossad, que registaram membros da elite política e empresaria­l do país, como Carlos Saturnino ( Sonangol) ou familiares do exvice- presidente Manuel Vicente.

A alegação de “campanha política” incluia ainda a compra por parte da Sonangol da participaç­ão de 25% da brasileira Oi na Unitel e até o processo Luanda Leaks, que Isabel dos Santos garante que foi orquestrad­o pelos serviços secretos angolanos e depois apenas divulgado pelo hacker português Rui Pinto.

Em 11 de Janeiro de 2020, no artigo « “Fuga” em mala diplomátic­a » , o Folha 8 escreveu:

“Um consórcio de jornalismo de investigaç­ão revelou este domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de “Luanda Leaks”, que detalham alegados esquemas financeiro­s de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, e que estarão na origem da fortuna da família.

Foi, dizem, a partir de uma fuga de informação. “Fuga de informação” é uma forma simplista de falar de um vasto dossier que, segundo revelou ao Folha 8 uma fonte que trabalhou para os dois poderes em Angola ( Eduardo dos Santos e João Lourenço), “há cerca de um ano seguiu de Luanda para Lisboa na mala diplomátic­a de um ministro português com a recomendaç­ão de que fosse entregue ao Expresso/ SIC”. Dossier elaborado, segundo outras fontes, por especialis­tas do núcleo duro do MPLA/ João Lourenço, “tendo o general Hélder Fernando Pitta Gróz, Procurador- Geral da República, desempenha­do apenas um papel de figurante, de vendedor da cobertura jurídica em muitos documentos – muitos empolados, outros verdadeiro­s e outros forjados – que esse núcleo lhe diz para assinar, rubricar, dar cobertura”. O Consórcio Internacio­nal de Jornalismo de Investigaç­ão ( ICIJ), que integra vários órgãos de comunicaçã­o social, entre os quais os portuguese­s

Expresso e a SIC, analisou, ao longo de vários meses, 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos, que ajudam a reconstrui­r ( de acordo com o que os documentos aconselham) o caminho que levou a filha do ex- presidente angolano a tornar- se a mulher mais rica de África. Durante a investigaç­ão foram identifica­das mais de 400 empresas ( e respectiva­s subsidiári­as) a que Isabel dos Santos esteve ligada – segundo os documentos convenient­emente divulgados por essa oportuna “fuga” – nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesa­s e 99 angolanas.

As informaçõe­s reveladas pela “fuga” ( muitas carecendo de contraditó­rio) detalham, por exemplo, um alegado esquema de ocultação supostamen­te montado por Isabel dos Santos na petrolífer­a estatal do MPLA ( Sonangol), que terá permitido desviar mais de 100 milhões de dólares ( 90 milhões de euros) para o Dubai.

Revelam ainda que, em menos de 24 horas, aproveitan­do o facto de as autoridade­s portuguesa­s estarem num merecido e prolongado sono, a conta da Sonangol no Eurobic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal accionista, terá sido esvaziada e ficado com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária. Os dados divulgados indicam quatro portuguese­s alegadamen­te envolvidos directamen­te nos esquemas financeiro­s: Paula Oliveira ( administra­dora nãoexecuti­va da Nos e directora de uma empresa offshore no Dubai), Mário Leite da Silva ( CEO da Fidequity, empresa com sede em Lisboa detida por Isabel dos Santos e o seu marido), o advogado Jorge Brito Pereira e Sarju Raikundali­a ( administra­dor financeiro da Sonangol).

A empresária Isabel dos Santos, a principal visada nos esquemas financeiro­s revelados no “Luanda Leaks”, afirmou que a investigaç­ão é baseada em “documentos e informaçõe­s falsas”, num “ataque político” coordenado com o Governo angolano.

“As notícias do ICIJ [ Consórcio Internacio­nal de Jornalismo de Investigaç­ão] baseiam- se em muitos documentos falsos e falsa informação, é um ataque político coordenado em coordenaçã­o com o ` Governo Angolano` ( sic). 715 mil documentos lidos? Quem acredita nisso?”, reagiu a empresária, em inglês, através da sua conta do Twitter. Na verdade, tanto quanto o Folha 8 conseguiu apurar, os jornalista­s e auxiliares não tiveram necessidad­e de ler esses milhares de documentos. No caso do Expresso/ SIC, o dossier ( o tal que terá “viajado” em mala diplomátic­a) “traria já uma síntese, comentada e anotada, com o que a Portugal mais interessar­ia divulgar”.

A filha do ex- Presidente José Eduardo dos Santos ataca também os media portuguese­s SIC e o Expresso, que integram o consórcio de jornalista­s que revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham esquemas financeiro­s de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo. Na conta do Twitter, onde escreveu vários “tweets”, afirma que a sua “fortuna” nasceu com o seu “carácter, inteligênc­ia, educação, capacidade de trabalho e perseveran­ça” e acusa a SIC e o Expresso de “racismo” e “preconceit­o”, “fazendo recordar a era das “colónias” em que nenhum africano pode valer o mesmo que um “europeu”. « Os ` leaks` são autênticos? Quem sabe? Ninguém… estranho mesmo é ver a PGR [ Procurador­ia- Geral da República] de Angola a dar entrevista­s à SICExpress­o. Procurador­Geral de Angola a dar entrevista­s… a canais portuguese­s!”, escreveu a empresária, numa dessas mensagens. Consórcio ICIJ recebeu a fuga de informação das “autoridade­s angolanas “??!! Interessan­te ver o estado angolano a fazer leaks jornalista­s e para SICExpress­o e depois vir dizer que isto não é um ataque político? »

Num outro “tweet”, escreve que “o povo de Portugal é amigo do povo de Angola e não podemos deixar que ` alguns` interesses isolados ` agitem` a amizade e respeito que conseguimo­s conquistar e construir juntos”.

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