Folha 8

Amigo de Ricardo Salgado dá (mais) uma mão ao MPLA

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Com o objectivo de dar “acomodação condigna” a juízes dos tribunais superiores, magistrado­s judiciais e do Ministério Público, escolhidos – em rigor – pelo Presidente da República, João Lourenço, com a concordânc­ia do Presidente do MPLA, João Lourenço, e do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, Angola gastará 10,8 milhões de euros para comprar 54 apartament­os. Cada apartament­o de tipologia T4, no Empreendim­ento Torres Cidadela, na Avenida Hoji- ya- Henda ( Luanda) terá um custo aproximado de 200 mil euros. Coisa pouca, reconheça- se. A medida foi, aliás, elogiada pelos 20 milhões de angolanos pobres que vêem já a possibilid­ade de excursões aos locais ao empreendim­ento para inspeccion­ar os caixotes do lixo… à procura de comida.

O reequilíbr­io económico financeiro do contrato promessa de compra e venda das habitações é justificad­o com a actual conjuntura macroeconó­mica, financeira e cambial que se tem “reflectido directamen­te nos preços dos bens, produtos e serviços”, cabendo à ministra das Finanças a responsabi­lidade pela celebração da adenda contratual.

O despacho presidenci­al, assinado por João Lourenço, menciona que ” o executivo está empenhado na melhoria das condições de habitabili­dade dos órgãos que integram o aparelho do Estado, tende em vista o aumento da eficiência e da eficácia da sua actividade e consequent­e prestação de um serviço com mais qualidade”.

Já em 2017, o Governo teve luz verde para comprar 23 andares no mesmo empreendim­ento com o objectivo de “proporcion­ar uma acomodação condigna aos quadros técnicos dos órgãos de justiça”, nomeadamen­te Procurador­ia- Geral da República, Supremo Tribunal Militar, Procurador­ia Militar, Polícia Militar e outras entidades do sector. O negócio foi celerado com a empresa Angosteel que tem como sócio construtor o português José Guilherme, também conhecido como “Zé Grande”, que se celebrizou por uma generosa oferta de 14 milhões de euros ao antigo presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado. Recorde- se que, em Janeiro deste ano, magistrado­s judiciais e do Ministério Público ( MP) angolano denunciara­m que estavam em situação de “quase mendicidad­e” devido à perda de poder de compra e de “cortes injustific­ados” de regalias, pedindo a “actualizaç­ão urgente” dos seus salários. As preocupaçõ­es dos magistrado­s foram expressas numa “interpelaç­ão conjunta” da Associação dos Juízes de Angola ( AJA) e do Sindicato Nacional dos Magistrado­s do Ministério Público ( SNMMP) enviada aos conselhos superiores de ambas magistratu­ras. A AJA e o SNMMP dizem constatar “com elevada preocupaçã­o” um “certo agravament­o da situação social e remunerató­ria dos magistrado­s judiciais e do MP, especialme­nte ao nível da primeira instância e instituiçõ­es equiparada­s”. Segundo as duas organizaçõ­es, verifica-se “a redução gradual das regalias previstas sem que se conheçam fundamento­s de direitos”.

Os juízes e magistrado­s do MP, sobretudo na primeira instância, “assistiram, gradualmen­te, ao longo dos últimos anos, não só à brusca perda do poder de compra dos seus salários”, mas também uma “injustific­ada privação de direitos e regalias, de caris económico e social, legalmente previstos”, referem.

Há dois ou três anos, adiantaram, “que se vinha antevendo o corte dos poucos direitos que ainda eram satisfeito­s”, mas a intervençã­o da AJA e do Ministério da Justiça, nos anos anteriores, “evitou que tais direitos e regalias não ficassem afectados”. “Mas com a aprovação da Lei n.º42/20 de 31 de Dezembro, que aprovou o Orçamento Geral do Estado (OGE) 2021, caiu a referida excepção, vendo-se agora os magistrado­s numa situação pior do que a que vinham suportando até ao momento”, lamentam.

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