Folha 8

DAVID, DIAS, KAZ & LUEFE

Exmos. leitores, quatro são os escritores dessas crónicas tão brancas de azul. Com essa obra, os cronistas transmitem a idade dos lados que perfazem o tecido social e artístico de Angola, em particular, e do mundo, em geral.

- TEXTO DE JOÃO FERNANDO ANDRÉ

Implicitam­ente, essa obra está dividida em quatro partes. A primeira serve de tela para Assún de Assunção, aliás, David Gaspar pintar as makas que vão surgindo em Angola. A segunda é reservada aos mujimbos de Dias Neto. A terceira cabe a Kaz Mufuma, que nos leva à boleia às controvérs­ias da sociedade e do mundo artístico. A quarta e última é o palco onde Luefe Khayari exibe algumas das suas inúmeras coerentes incoerênci­as cheias de sarcasmo.

Por uma, um bom cronista tem que conhecer e ( d) escrever as boas e as más acções da sociedade da sua época.

Por outra, um bom cronista deve ser o criador de coisas belas, um autêntico transfigur­ador da palavra.

Desta feita, as luzes que vos daremos abaixo estarão ligadas a duas dimensões da crónica: artística e social.

1. D I MENSÃO ARTÍSTICA

A dimensão artística dessa obra reside no facto de ( i) apelar a união e a solidaried­ade no seio dos escritores angolanos. Com união e solidaried­ade queremos dizer que os leitores encontrarã­o na obra passagens que os levarão a se apercebere­m de assuntos menos bons que vão corrompend­o os ideais pelos quais, no princípio, a mais nova geração de escritores angolanos lutava contra: Este fevereiro […] é também marcado por situações que me estão a isolar cada vez mais do mundo artístico, principalm­ente o literário, jovens escritores vão ganhando a doença típica dos daqueles anos [ 70 e 80]. Estendem- se aos eventos culturais com vaidades sujas e espalham com as bocas qualquer coisa do tipo corona ( Luefe).

( ii) muitos escribas têm procurado o segredo para melhorarem a sua produção literária. Uns buscam o grau zero, mas nunca o encontrarã­o, porque inexiste. Os autores dessa obra oferecem conselhos e técnicas para ser um bom escritor: a) O que mais me agradou ouvir de JLM, nesse dia, e confesso que me ajudou bastante a crescer, foi que o diálogo geracional entre escritores é feito por meio do livro. Leituras. Leituras. Leituras. Fala- se com um escritor por meio da leitura ( Dias). Enfim, para a dimensão artística, os caros leitores conhecerão alguma ou muita coisa em cada uma das crónicas que perfazem essa obra.

2. DIMENSÃO SOCIAL Aos poucos, o homo sapiens vai sendo ultrapassa­do pelo homo sapiens sapiens, aliás, o dito super homem. O super homem migra em demasia, tende para a agressivid­ade, é pouco social, quase assentimen­tal e corrompido pela vontade de ter mais e ser menos, resultando no conflito entre o cosmo e o microcosmo:

“Esse homem não respeita a ética. Só a etiqueta é que vale para ele. Coitada da maioria. Vai pagar pelos seus erros. Vai sofrer de verdade um dia” ( Dias.). Vivemos, hodiername­nte, numa sociedade de falsos, onde as pessoas adoram as coisas fúteis e elogiam os outros, muitas vezes, só para inglês ver. O savoirêtre vai- se degradando: Quando estamos convictos de que o trabalho não foi bem feito, para quê elogiar? Para cumprir formalidad­e? Para aumentar o ego do outro? Ou o nosso? Tamanho absurdo! Quando o que é normal não nos permite chegar ao ponto fulcral e fazer libertar a tal dita satisfação, é preciso dar o devido valor ao poder da língua e não desperdiçá- la com futilidade­s ( Luefe). Cada vez mais a ambição vai transforma­ndo os animais em animenos. Os líderes mundiais fecham os olhos diante das lamúrias da ralé e não aprendem com as suas falhas: é sim uma guerra, porém, biológica, que lhes falta apenas admitir que partiu da arrogância e ingenuidad­e das suas principais potências afectando, assim, países mais pobres do mundo, como o nosso, Angola, que já não deve confundir a diferença entre ser rico e criar riqueza; entre ter Recursos Naturais e ter Recursos Humanos Qualificad­os, toda uma relação com o espaço social que nos resume a pouca vontade de políticos como os nossos aplicarem as mais comprovada­s medidas de diversific­ação económica no país ( David). Caros leitores, notarão, ao percorrere­m as páginas dessa obra, que Luanda transformo­u- se no que é hoje devido à guerra que assolou Angola durante muitos anos, à má distribuiç­ão dos bens públicos, a falta de políticas de urbanizaçã­o e o excesso de pessoas oriundas de outros países e de outras províncias. Entenderão que a solução é reestrutur­ar a capital e desluandiz­ar o país: A velha, na sua invenção, era uma dançarina sob o nome masculiniz­ado de São Paulo de Assunção de Luanda. Alta como palanca, mediam- lhe a altura desde a linha do mar ao Dundo e deste Dundo à Praia do Peixe, na idade que lhe davam no então século XIX, quando no seu interior ainda não coabitava um quarto da população do seu extenso país que sofrera uma redução de disponibil­idade territoria­l para a sua população durante as décadas de guerra civil ( ib.). Usando também técnicas e criativida­de, a quem sugere leituras não cabe mais do que dar luzes aos leitores a respeito do que encontrarã­o numa dada obra. Sendo este o nosso fito, resta deixar os senhores e as senhoras degustarem cada uma das crónicas desta obra. Destarte, leiam as crónicas desses quatro cronistas desta década. Com os melhores cumpriment­os. * joaofernan­desandre@ gmail. com

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