A VENDA DA SOBERANIA ECONÓMICA
A implantação do neoliberalismo, enquanto ferramenta do Fundo Monetário Internacional para manter subjugado os angolanos, ganha um carácter inexorável da parte de João Lourenço, para capitalizar junto das elites ocidentais ciosas em manter Angola escravizada. Desde que João Lourenço se constituiu no novo líder das elites económicas, financeiras, agro-pecuárias, mineiras, petrolíferas, industriais e partidocratas, acirraram-se, ainda mais as dificuldades numa sã coexistência com os democratas, a oposição, os discriminados, os pobres e desempregados, cujas vidas pioraram com a expressa recusa do seu empoderamento e oportunidades iguais.
O país, em cinco anos, conduzido pela obsessão de combate à corrupção, regrediu mais do que nos últimos 38 anos, principalmente, no domínio social.
A meritocracia passou a ser um crime de Estado, mesmo no seio do MPLA e, para piorar, quando está nos independentes, jamais poderão augurar, emprestar mais-valia em qualquer órgão público, em prol da República, pela lei da exclusão, institucionalizada, pelo Presidente, João Lourenço.
A rejeição do MPLA, a mudança deve-se ao temor de ver a sua elite ultrapassada, através da adopção de novas políticas integradoras, que coloquem o pobre angolano no centro do orçamento, liderados por um novo sistema de educação, que privilegie o maior recurso do país: a mulher e homem autóctones, sempre marginalizados, pelo péssimo sistema de educação, orientado para o “emburrecimento” geral. Neste sentido, em nome da correlação de forças, o país anseia por um poder constituinte, capaz de, com honestidade intelectual e visão republicana, eleger uma verdadeira Assembleia Constituinte, capaz de elaborar uma nova constituição, com órgãos verdadeiramente, independentes, principalmente, o judicial (onde nenhum juiz pode ter qualquer ligação com partidos políticos, nem aceitar benesses do poder executivo).
A Constituição vingará, sem tergiversar, o carácter apartidário ( não pode ser líder de partido político) do comandante em Chefe das Forças Armadas.
O cidadão maior de 35 anos de idade, no pleno gozo dos seus direitos, pode sem filiação partidária, candidatar-se ao cargo de Presidente da República (vencendo, antes da tomada de posse, terá de se desvincular da liderança do partido). A adopção de um novo hino, inspirado no “Nkosi Sikelel’ iafrika” (África do Sul, Zâmbia, Tanzânia), bandeira, com as cores do arco íris, símbolos nacionais, criarão as condições objectivas e subjectivas para se poder, pela primeira vez, proclamar a independência imaterial de Angola (será a verdadeira depois do regime colonia(is)l.
O costume terá um papel preponderante e não residual, na
Lei Mãe, principalmente, no tocante às questões da justiça, tendo em conta, nas comunidades, a importância do direito tradicional, na resolução dos conflitos. As línguas angolanas (complexada e neocolonialmente, tratadas por dialectos), passarão a figurar, como línguas de ensino, trabalho, judicial, comunicação pública e educação, que deverá ministrá-las, prioritariamente, nos diferentes níveis de ensino. O ensino será obrigatório até à universidade e, em cada província deverão existir, impreterivelmente, três institutos técnicos e uma faculdade técnica de acordo com a especificidade das riquezas da região, visando estancar as assimetrias. A economia será mista, com o Estado a deter o monopólio das empresas públicas, garantes da soberania nacional, nos domínios dos Petróleos, Diamantes, Mineiros, Madeira, Seguros, Resseguros, Aviação, Energia, Águas, Caminhos-de-ferro, Marinha Mercante, entre outras, ficando expresso, a exclusão de investidores estrangeiros, na aquisição de terras, como proprietários. Poderão, no entanto, ter parcerias com o Estado ou particulares angolanos de origem, nunca em quotas superiores, tal como na construção e gestão de estradas nacionais e internacionais.
Por tudo isso, precisamos, no caso eleitoral, de um “campeão da paz e reconciliação” que crie pontes de diálogo com os adversários e críticos à sua governação e não levante muros que separam.
OEstado angolano (propriedade do MPLA há 46 anos) estima recuperar, nos próximos cinco anos, cerca de 50 mil milhões de dólares ( 46,6 mil milhões de euros) retirados ilicitamente do erário público por altos dignitários do regime, informou quinta- feira a directora do Serviço Nacional de Recuperação de Capitais ( Senra). Eduarda Rodrigues adiantou que desde o início da suposta luta contra a corrupção em Angola foram efectivamente recuperados 5,2 mil milhões de dólares ( 4,8 mil milhões de euros), parte em dinheiro e parte em património.
No âmbito de processos criminais, foram apreendidos 12,9 mil milhões de dólares ( 12 mil milhões de euros), enquanto no exterior do país estão apreendidos 6,1 mil milhões de dólares ( 5,6 mil milhões de euros), disse a responsável, que falava na sétima edição do Café Cipra sobre o “Combate à Corrupção e a Recuperação de Activos”, em que foram também oradores o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, e o inspectorgeral da Administração do Estado, Sebastião Gunza. “Em Angola, a nível de apreendidos, temos bens no valor de 6,7 mil milhões de dólares [ 6,2 mil milhões de euros], estes são os valores efectivos”, frisou. A directora do Serviço Nacional de Recuperação de Activos salientou que, de acordo com as investigações em curso, saíram ilicitamente do país 150 mil milhões de dólares ( 142 mil milhões de euros) entre 2003 e 2017.
Eduarda Rodrigues realçou que dados da União Africana indicam que anualmente saem do continente de forma ilícita mais de 50 mil milhões de dólares ( 46,6 mil milhões de euros).
“Para quem tem alguma dúvida de que efectivamente possam ter saído 150 mil milhões de dólares é só olhar para esse dado e estamos a falar de um período, do início dos anos 2000 até 2017, portanto, isto é uma luta, não se recupera de um dia para o outro, é através de cooperação internacional”, destacou. De acordo com a responsável, todos os bens recuperados até à data foram no âmbito de entregas voluntárias, enquanto a nível dos processos judiciais o Estado “continua a correr”. “Temos bens apreendidos e estamos na luta”, disse. Em 8 de Dezembro de 2021, Eduarda Rodrigues, disse que havia cerca de 50 mil milhões de dólares em processos que estavam em investigação patrimonial, admitindo perdas por ultrapassagem de prazos judiciais. Chatice. Não poderia o Tribunal Constitucional, por ordem do Presidente do MPLA ( João Lourenço) mandar exonerar os… “prazos judiciais”?
“Em alguns ordenamentos jurídicos, os bens só podem estar arrestados seis meses, nove meses”, disse a procuradora salientando a complexidades das investigações que não se conseguem concluir, normalmente em menos de um ano. Eduarda Rodrigues fez na altura um balanço da actividade do Senra, desde que foi criado este organismo na dependência da Procuradoria- Geral da República, com atribuições de investigação patrimonial e financeira, durante o lançamento do projecto PRO. REACT ( Apoiar o Fortalecimento do Sistema Nacional de Confisco de Activos em Angola), que conta com apoio da União Europeia e das Nações Unidas. A responsável do Senra destacou a importância da cooperação internacional e da formação nesta área para acelerar os processos, já que, além do risco de descredibilização, havia também risco de perdas financeiras, se ficarem muito tempo parados nos tribunais.
Eduarda Rodrigues salientou que grande parte dos valores foram expatriados, o que coloca dificuldades acrescidas às autoridades angolanas que são obrigadas a recorrer aos tribunais estrangeiros para executar decisões relativas a arrestos, bloqueio de contas bancárias “com muito dinheiro” ou apreensão de imóveis, em Portugal, no Reino Unido ou nas Bermudas. Indicou que, por exemplo, em Singapura, onde decorre um processo que envolve quase mil milhões de dólares, as autoridades angolanas foram informadas que o arresto dos bens se iria manter apenas até Janeiro de 2022, tendo sido feito um pedido excepcional para suspender este prazo.
Dos 50 mil milhões de dólares de prejuízos que o Estado angolano sofreu, cerca de 13 mil milhões de dólares foram já apreendidos, cerca de metade fora de Angola e 5,3 mil milhões foram já recuperados definitivamente a favor do Estado, ou seja, não estão pendentes de decisões judiciais.
Eduarda Rodrigues falou ainda sobre a lei de repatriamento dos recursos financeiros, criada em 2018, considerando que foi “uma verdadeira amnistia” que o legislador criou para os cidadãos que tivessem retirado bens do erário público de forma ilícita os pudessem devolver, incluindo bens no estrangeiro que poderiam, num prazo de seis meses, ser repatriados para Angola, com isenção fiscal, isenção cambial e isenção de responsabilidade criminal.
“Era uma grande lei que poderia ter tido grande utilidade, mas foi uma grande oportunidade que se perdeu”, disse a responsável do Senra, realçando que esta lei contemplava também já a possibilidade de repatriamento coercivo, prevendo que fosse necessário recorrer a esta modalidade através de um órgão recuperador. Quanto à gestão dos activos recuperados, explicou que a PGR apenas ordena a sua apreensão ou requer o arresto, indicando sempre um fiel depositário, como está consagrado na lei, a não ser bens que, pela sua natureza, não podem ser entregues ao cofre geral de justiça.
Recorde- se que o Presidente de Angola e do MPLA ( partido no Poder há 456 anos), João Lourenço, afirmou no dia 30 de Março de 2021 que há “forças internas e externas” ligadas aos que delapidaram o erário público que estão a organizar “uma campanha” que visa denegrir e desacreditar a justiça e o Estado angolano.
Uma verdadeira chatice. E logo numa altura em que todo o mundo começava a acreditar na tese, de
João Lourenço, de que ele próprio viu roubar, participou nos roubos, beneficiou dos roubos mas que não era ladrão… O também chefe do executivo angolano, que discursava nesse dia na cerimónia solene de abertura do ano judicial, em Luanda, exortou os órgãos judiciais a continuarem o seu trabalho no combate à corrupção e impunidade e salientou que o país “vem dando passos corajosos desde finais de 2017, investigando, julgando e condenando servidores ou ex- servidores públicos de todos os escalões, desde os níveis do município, província e o próprio executivo central, da Assembleia Nacional e de empresas públicas com imparcialidade necessária para o sucesso desta causa”.
João Lourenço salientou que os órgãos de justiça “têm sido incansáveis”, apesar da exiguidade de meios, alguma falta de experiência e de condições de trabalho. Falta de experiência no combate à corrupção, entenda- se. É que quanto à sua prática são dos mais experientes do mundo.
“Contudo, forças internas e externas, ligadas aos que mais delapidaram o erário público, organizam campanhas com vista a denegrir e desacreditar a justiça e o Estado angolano, mesmo com tantos exemplos concretos de indiciados, arguidos e alguns já condenados” e que, segundo o Presidente angolano, demonstram o comprometimento na luta contra a corrupção. Na altura, Isabel dos Santos, filha do ex- presidente angolano ( e mentor do próprio João Lourenço) José Eduardo dos Santos, visada em vários processos judiciais em Angola e no estrangeiro, acusou João Lourenço de tentar “usurpar” ilegalmente os seus bens e afirmou ter provas que revelam “uma conspiração” contra si, urdida pelos serviços secretos angolanos, com a conivência activa de várias sucursais do MPLA, a começar pela própria Procuradoria- Geral da República.
Esta não foi a primeira vez que a empresária afirmou ser vítima de perseguição política e se queixou de ser alvo de uma justiça selectiva que visa a família dos Santos e figuras ligadas ao antigo presidente. João Lourenço insistiu que “os que vêem o seu castelo desmoronar de forma inexorável” tentam defender os seus interesses e procuram reverter a situação fora dos tribunais. “Pretendem ser eles a comandar a acção da justiça angolana, envolvendo o chefe de Estado a ponto de determinarem quem deve ser indiciado. É evidente que isto está à partida condenado ao fracasso”, avisou, sublinhando que a justiça angolana vai cumprir o seu papel e o Presidente não vai interferir ( como se alguém acreditasse) na acção da justiça “em violação da Constituição, como pretendem que o faça”. “Pretendo endereçar uma saudação especial ao Presidente José Eduardo dos Santos, que cessa hoje a função de Presidente da República. Esta saudação ficaria incompleta se não mencionasse o longo e vitorioso caminho trilhado por Angola ao longo dos últimos 38 anos. O povo angolano agradece a dedicação e o empenho do Presidente José Eduardo dos Santos”, afirmou João Lourenço no discurso de tomada de posse, acrescentando que, “após o prematuro desaparecimento físico”, a 10 de Setembro de 1979, de Agostinho Neto, “o MPLA confiou ao Presidente José Eduardo dos Santos a missão histórica de dirigir o povo angolano na defesa das conquistas da Independência Nacional, no fortalecimento do Estado, na implantação e consolidação da democracia multipartidária, na conquista da paz, na reconstrução do país e no lançamento das bases para o desenvolvimento”. “O Presidente José Eduardo dos Santos cumpriu a sua missão com brio invulgar, com dedicação e com um elevado espírito patriótico. Por essa razão, a sua figura simboliza a vitória da unidade nacional, da paz e da dignificação dos angolanos no plano interno e internacional”, disse também João Lourenço. Recorde- se, em síntese, que João Lourenço sempre foi um operacional do sistema cleptocrático que tomou conta do país em 1975:
1984 – 1987: 1 º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico; 1987 – 1990: 1 º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela; 1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo; 1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA; 1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA; 1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA; 1998 – 2003: Secretário- geral do MPLA; 1998 – 2003: Presidente da Comissão Constitucional; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamentar; 2003 – 2014: 1 º Vicepresidente da Assembleia Nacional.