Folha 8

A culpa é dos taxistas, zungueiras e domésticas

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O Governo quer ( é, pelo menos, o que diz) retirar, entre outros grupos- alvo, taxistas, empregadas domésticas e vendedores de rua, do mercado informal, que absorve cerca de onze milhões de pessoas, um terço da população de Angola. Não o faz por uma questão de equidade social mas, apenas e só, porque quer arrecadar dinheiro dos impostos que, desta forma, não consegue fazer. Segundo o secretário de Estado do Trabalho e Segurança Social, Manuel Moreira, a título de exemplo, só o sector de táxis, ainda informal, representa anualmente um negócio de 1.000 milhões de dólares ( cerca de 900 milhões de euros) em que o Estado se vê privado dos respectivo­s impostos.

“O Plano de Acção para a Promoção da Empregabil­idade ( PAPE) ( aprovado a 21 de Abril de 2019 pelo Presidente, João Lourenço, que disponibil­izou 58,3 milhões de euros para promover o emprego), entre as várias actividade­s ou atribuiçõe­s que tem, uma delas é a questão da certificaç­ão e formalizaç­ão da economia informal”, sublinhou

Manuel Moreira. Destacando os domínios dos táxis, empregadas domésticas e os vendedores de rua ou em mercados municipais e provinciai­s, Manuel Moreira admitiu que o caminho é “problemáti­co”, mas sublinhou que se pretende trabalhar com várias entidades e associaçõe­s para combater o mercado informal e economia.

“Nesta economia informal, há grupos alvo. Um deles é o dos taxistas, outro o das empregadas domésticas, vamos trabalhar com os mercados municipais e provinciai­s, uns formais outros informais, e, depois, vamos, no âmbito do que é a demanda da economia, criar perfis profission­ais que se adequem a formalizar a essa promoção de empregabil­idade”, referiu o governante.

“Isto vai contribuir fortemente para a criação de emprego, porque estamos a falar de uma economia informal na ordem dos 60 a 70%, o que significa dizer que estas pessoas têm rendimento­s, têm meios de trabalho, têm horários, só não fazem parte da economia, e não cumprem as obrigações fiscais nem as parafiscai­s, nomeadamen­te as relacionad­as com a segurança social. É um problema de hoje”, acrescento­u. Segundo Manuel Moreira, e citando dados recentes do Instituto Nacional de Estatístic­a ( INE), estima- se em cerca de nove milhões ( hoje são mais) de cidadãos que labora no mercado informal, pelo que o desafio é “grande”.

Instado a explicar como pode ser feita a formalizaç­ão das profissões, Manuel Moreira exemplific­ou com o caso dos táxis, havendo já conversas com as respectiva­s associaçõe­s. “Queremos pegar nos taxistas, dar- lhes formação específica – conduzir pessoas não é o mesmo que conduzir carga ou animais -, e atribuir a carteira profission­al que o habilita ao exercício da actividade. Com isso, a partir do momento em que se atribui a carteira profission­al, formaliza- se a actividade”, respondeu, admitindo que, a partir daí, começa um “novo problema”.

“Aí teremos de resolver a situação a nível de alguns ministério­s, porque vamos precisar da Justiça, das Finanças, do Comércio, dos Transporte­s, enfim, para que aquela actividade seja rapidament­e formalizad­a, sem grandes dificuldad­es, para que, depois, possa então passar a contar para as estatístic­as, para o PIB ( Produto Interno Bruto) e para a economia”, sublinhou.

Segundo Manuel Moreira, e continuand­o no sector dos táxis, a respectiva associação estimou em cerca de 1.000 milhões de dólares o volume bruto que rende a actividade anualmente – “por aí podemos ver o quanto o Estado não capitaliza nesses casos”. Manuel Moreira reconheceu que a taxa de desemprego – o INE indicou a 20 de Abril de 2019 que se situa nos 28,8% – não reflecte a real situação económica do país, porque tem de se considerar que o sector da economia informal “emprega muita gente”. Com um esforço combinado entre o sector público e privado, considerou, é possível “amenizar a questão do desemprego”, disse, apontando o PAPE, que apresenta acções muito concretas para ajustar perfis profission­ais dos jovens aos sectores da Indústria, Turismo, Agricultur­a, Comércio e Pescas.

Na perspectiv­a do Presidente João Lourenço, o diploma relativo ao PAPE deveria também “contribuir para a bancarizaç­ão e educação financeira das famílias” e para “o processo de reconversã­o da economia informal para a formal”. “Apesar da grande oferta de mãode- obra existente”, referese no decreto, “o sector produtivo da economia não tem capacidade para absorver a força de trabalho disponível”, pelo que terá de se resolver “uma situação de desemprego estrutural”.

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