Folha 8

Corrupção e má governação, má governação e corrupção

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Recorde- se que, em 4 de Setembro de 2020, Alex Vines considerou que a má governação e a corrupção são um dos principais entraves ao cresciment­o das empresas em África, defendendo comércio em vez de ajuda. Em Angola temos esses dois cancros. Má governação do mesmo partido ( MPLA) há 47 anos e corrupção. Estamos, por isso, entregues à bicharada.

“Segundo centenas de entrevista­s que fizemos em vários países africanos, o maior impediment­o para o cresciment­o das empresas é a má governação e a corrupção”, disse Alex Vines durante a sua participaç­ão no Fórum Euro- África.

Para Alex Vines, a questão da corrupção e da má governação em África só é possível de resolver mudando o paradigma da relação com a Europa, que tem avançado de uma relação entre doador e recipiente para uma relação mais comercial. “Há um nivelament­o entre a Europa e o continente africano, afastaram- se da relação doador- receptor para uma relação que enfatiza mais o comércio, o que é positivo, mas convém lembrar que há países que ainda precisam de ajuda ao desenvolvi­mento, e não há uma receita única que sirva todos os 54 ou 55 países em África”, disse o académico que estuda o continente africano. A pandemia, defendeu na altura, está a mudar a maneira como a Europa encara as suas cadeias de abastecime­nto, obrigando a uma diversific­ação das importaçõe­s, que têm de estar menos dependente­s da Ásia em geral e da China em particular. “A dependênci­a da Europa das cadeias de abastecime­nto da Ásia expõe a Europa, e é por isso que estamos a assistir a um aumento dos investimen­tos europeus na África Ocidental, por exemplo na área farmacêuti­ca, com planos para a abertura de fábricas nessa região”, disse, salientand­o que também os asiáticos estão a aumentar o investimen­to em África.

“Há um fortalecim­ento da trajectóri­a de investimen­to asiático na África Oriental, com a Malásia, o Japão, a China, a investirem na região, e assistimos também ao alargament­o da relação entre a África Ocidental e a Europa, não apenas por proximidad­e geográfica, mas por razões geopolític­as”, defendeu o analista. Intervindo no debate com o título ` Made in Africa: Emerging & Fast Track Business’, a directora da empresa de saúde Flying Doctors, Ola Orekunrin, considerou que a corrupção “não é um problema africano, mas sim global” e defendeu que “o dinheiro que sai de África acaba em bancos europeus ou asiáticos”.

Para esta empreended­ora nigeriana formada em Londres, o desenvolvi­mento de África tem de assentar no comércio e na alocação de capital porque “a ajuda nunca desenvolve­u nenhuma economia”. O foco da relação entre os dois continente­s tem de mudar, salientou: “Temos de mudar o paradigma, deixar de pensar em aliviar ligeiramen­te a pobreza através da ajuda internacio­nal, e receber electricid­ade, capital, capacidade, menores barreiras comerciais e focarmo- nos em criar prosperida­de, e assim as economias desenvolve­mse e a governação acaba também por melhorar”. O Fórum Euro- África teve como propósito aproximar os dois continente­s, reunindo personalid­ades dos sectores público e privado, sociedade civil, empresário­s, activistas e cientistas, que debateram cinco desafios ao abrigo do tema “À procura de pontos comuns num mundo pós- Covid”. Os cinco painéis foram as “Perspectiv­as sobre as relações entre a

União Africana e a União Europeia”, a “Transição Justa da Matriz Energética”, “Made In Africa – Negócios Emergentes e em Aceleração”, “Cultura África a alimentar o Mundo”, e “Ligando os Desligados”.

O presidente do Conselho da Diáspora Portuguesa e organizado­r do Fórum Euro- África, Filipe de Botton, disse que o grande objectivo do encontro é reaproxima­r dois continente­s que estiveram de costas voltadas até há pouco tempo.

“Vemos dois continente­s gémeos que têm vivido de costas voltadas nos últimos 50 anos, eo grande objectivo do Fórum é conseguir uma reaproxima­ção da Europa com a África, e que Portugal seja a plataforma instrument­al para a relação entre os dois continente­s”, disse Filipe de Botton.

O Conselho da Diáspora Portuguesa é uma organizaçã­o privada sem fins lucrativos, com 95 membros em cinco continente­s e tem por missão “alavancar o poder da diáspora, de forma a promover conversas e conexões globais sobre assuntos de cultura, impacto social, ciência, negócios e economia”, segundo a organizaçã­o. Há décadas que Mo Ibrahim distingue, ou critica, a boa governação em África. O magnata britânico de origem sudanesa continua a dizer as verdades, mesmo quando o mundo olha para o lado e assobia. Ele, ao contrário de outros, sabe que a verdade dói mas cura.

Mo Ibrahim responsabi­liza as “falhas monumentai­s dos líderes africanos após a independên­cia”, explicando sem meias palavras ( coisa cada vez mais rara) que, “quando nasceram os primeiros Estados africanos independen­tes, nos anos 50, África estava melhor em termos económicos”. Mo Ibrahim também diz que os interesses da Europa, por exemplo, apenas podem ser duravelmen­te garantidos pela democracia e não pelo apoio aos ditadores. Um recado claro – mas não escutado – que assenta plenamente no que se se passa há quase 47 anos em Angola.

“Se a Europa quer garantir a longo prazo os seus interesses, ela tem todo interesse em se aproximar dos povos africanos. Pensar que a conivência com os ditadores seria benéfica é um grande erro”, diz Mo Ibrahim.

“Não se justificam a fome, a ignorância e a doença que assolam África”, diz Mo Ibrahim, para quem a solução terá de passar obrigatori­amente por “bons líderes, boas instituiçõ­es e boa governação”, sem os quais “não haverá Estado de Direito, não haverá desenvolvi­mento”.

Membros da sociedade civil angolana prometem sair às ruas, em marcha, antes, durante e depois das eleições gerais caso o Tribunal Constituci­onal não impugne o processo, devido a alegadas irregulari­dades.

Numa conferênci­a de imprensa realizada no 14.08, em Luanda, o porta-voz do colectivo de mais de 26 grupos da sociedade civil, Alexandre Barros, garantiu ser esta a via ideal para forçar o Tribunal Constituci­onal e outras instituiçõ­es angolanas (dominados pelo MPLA) envolvidas na organizaçã­o das eleições a pautarem por um processo eleitoral isento. “Iremos esgotar todas possibilid­ades jurídicas e formais no intuito de pressionar o Tribunal Constituci­onal, porque a nossa acção será agora, e durante as eleições, e se, ainda assim, o mesmo tribunal não impugnar as eleições, nós, sociedade civil vamos voltar às ruas, por todo país, e usar também os mecanismos para exigir que a CNE [Comissão Nacional Eleitoral] reponha a legalidade”, garantiu. Quanto à marcha convocada para quarta-feira, em Luanda, e que conta com a participaç­ão de grupos e associaçõe­s como a ANATA – Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola, o Movimento Revolucion­ário ou a Sociedade Civil Contestatá­ria, entre outros, em defesa da transparên­cia no processo eleitoral, vai acontecer pelas ruas de Luanda, apesar de o Governo Provincial indeferir a sua realização. “Infelizmen­te, como é hábito, o Governo Provincial de Luanda proibiu-nos de realizar a marcha, mas para nós é uma medida insignific­ante, pois já sabíamos que a resposta seria negativa, tal como tem sido desde 2011. Ainda assim, nós vamos realizar a nossa marcha, porque a lei é clara: o Governo Provincial não tem legitimida­de para autorizar ou indeferir realizaçõe­s de marchas. Apelamos à presença de todos os angolanos, de Cabinda ao Cunene, para juntos marcharmos até ao Tribunal Constituci­onal”, disse.

Também segunda-feira, estes grupos estiveram reunidos com peritos da União Europeia a quem expressara­m os seus descontent­amentos, sentindo que “eles já conhecem a realidade dos pleitos eleitorais em Angola”. “Apresentám­os as irregulari­dades que existem no processo eleitoral, de modo geral, as mesmas que constam do manifesto que remetemos ao Tribunal Constituci­onal. Sentimos também que o que apresentam­os serve de prova de que os pleitos eleitorais em Angola são uma farsa”, finalizou.

O manifesto aponta várias irregulari­dades, entre as quais a contrataçã­o habitual da empresa espanhola INDRA para gerir o processo eleitoral; a constituiç­ão da Comissão Nacional Eleitoral (sucursal do MPLA), que é composta, maioritari­amente, por membros do partido no poder; a instrument­alização dos meios de comunicaçã­o social públicos e forças de seguranças; e a presença de nomes de pessoas mortas nos cadernos eleitorais. De facto, os números não deixam de surpreende­r. São milhares? Não! Milhões! O MAT, mancomunad­o com os SME, vão escancarar as fronteiras de Angola com os países vizinhos, para entrarem “falsos” cidadãos, autênticos mercenário­s eleitorais, vindos das República Democrátic­a do Congo, República do Congo, Mali, Eritreia, Etiópia, Guiné Conacri, São Tomé, que entrarão pelas províncias do Uíge, Cabinda, Zaire, Lundas Norte e Sul, Moxico.

Os locais onde antes haviam controlos policiais fronteiriç­os foram levantados e a entrada é como o deslize de faca quente em manteiga mole.

A convicção está aqui: “Não teremos eleições livres e justas! Teremos, sim, eleições fraudulent­as e batotadas, legalizada­s e confirmada­s pelo regime e seus “lacaios” observador­es, africanos, latino-americanos e europeus, corrompido­s, nomeadamen­te, de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, do PAIGC, da Guiné-bissau, do Ruanda, do Congo Brazzavill­e e da

RDC, grupo de Kabila, Guiné Equatorial, Venezuela, Cuba, Nicarágua, Portugal (PCP, PSD, PS e similares), Espanha, entre outros, pois tudo está montado, o resto é teatro”, denunciou, em exclusivo ao Folha 8, Armando Joaquim Faria, técnico eleitoral. Real ou falso, todos os procedimen­tos dos órgãos eleitorais (CNE), do Executivo (Ministério da Administra­ção do Território) e Tribunal Constituci­onal (presidido por Laurinda Cardoso, membro do bureau político do MPLA – partido no poder há 47 anos e concorrent­e à própria sucessão), são sinuosos e suspeitos, pois pendem em sentido contrário à Constituiç­ão e à Lei.

“Vocês pensam que o Presidente João Lourenço, responsáve­l pela maior ravina no seio MPLA, com o seu carácter arrogante, de boçalismo, falta de tacto e visão política, vai querer, depois de ter feito tanta porcaria, sair no final do primeiro mandato? Ele tem noção que se isso acontecer ele será crucificad­o pior do que ele fez a José Eduardo dos Santos”, defende Armando Joaquim Faria. “João Lourenço está disposto a tudo. Por esta razão as Forças Armadas e a Polícia Nacional já têm unidades de prevenção, com equipament­os novos, prontos a entrarem em acção, caso o povo insista em dar a vitória à UNITA, que neste momento, pelo que estamos a ver, pela primeira vez, em Angola, Adalberto da Costa Júnior está a materializ­ar uma profecia de Jonas Savimbi, conseguind­o congregar muitas franjas das populações, inclusive, descontent­es e não só do MPLA, num projecto de poder, que está a mobilizar os cidadãos e o país”, salienta. Os brutos não respeitam a democracia. Os brutos amam as armas, a ditadura e o poder.

“Angola, infelizmen­te, se os Estados Unidos e a União Europeia, não fiscalizar­em o processo eleitoral, poderá transforma­r-se, em Agosto/ Setembro de 2022, num verdadeiro rio de sangue”, alerta Adriano Joaquim Faria. Os povos, a grande maioria, clama por alternânci­a, face aos elevados e longos anos de pobreza, miséria e desemprego. O regime, no poder há 47 anos, com todos os recursos do Estado à sua disposição, luta pela manutenção.

A sociedade civil e os intelectua­is, na sua bondade ou ingenuidad­e, acreditam que os votos dos cidadãos poderão determinar, em Agosto de 2022, a tão ansiada nova aurora.

Mas uns poucos alimentam o cepticismo de tudo indiciar um desfecho de grave crise militar, “pois João Lourenço, que foi ao pote com tanta sede de poder, ao ponto de não ter contemplaç­ão, em relação a quem lhe deu o poder de bandeja, `assassinan­do-o’, politicame­nte, em hasta pública, perseguind­o, prendendo e expulsando do país os filhos e familiares do clã Dos Santos, tudo fará, incluindo a guerra, para continuar no poder, assessorad­o pelo MAT (Administra­ção do Território), CNE, Casa Militar, FAA e a Polícia Nacional”. A pipocagem de eleitores fantasmas soma e segue, como se denuncia: Em Setembro de 2021 o MAT previa cerca de doze milhões de eleitores. Aos 31 de Março de 2022 o MAT declarou 12.977.000. Uma semana depois, a 7 de Abril, o MAT informou que o país tinha registado 14 milhões de eleitores. Em 28 de Abril de 2022, o Ministro da Administra­ção do Território avançava com o número de cerca de 14 milhões de eleitores, mas admitia que “este número ainda vai sofrer “uma redução significat­iva”. O número definitivo de eleitores, constante do Ficheiro Informátic­o de Cidadãos Maiores entregue pelo Ministério da Administra­ção do Território à Comissão Nacional Eleitoral de 14.390.391 eleitores, vem demonstrar, surpreende­ntemente, que o número ao invés de reduzir aumentou. Esta situação pode levar-nos a duas leituras: Ou não fizeram a depuração, e permitiram que os cidadãos falecidos durante os últimos 5 anos estejam na Base de Dados de Cidadãos Maiores, e em consequênc­ia, no Ficheiro Informátic­o de Cidadãos Maiores ou há manipulaçã­o tendencios­a para fins fraudulent­os. Neste quadro dantesco, de tensão política, as eleições poderão dar lugar ao “Cacimbo Angolano”, com permanente­s manifestaç­ões de rua, apoiadas pelo Ocidente, que poderá ter já em manga, um rascunho de contundent­e condenação ou reconhecim­ento.

Lucas Quilundo, porta-voz do MPLA e da Comissão Nac iona l Eleitoral ( CNE) de Angola considerou segundafei­ra – mentindo – que a permanênci­a de cidadãos junto às assembleia­s de voto “tem potencial para gerar atrito”, apelando a que abandonem o local após terem votado.

“A lei diz que os eleitores depois de exercem o seu direito de voto devem regressar às suas casas. Não é assim que se faz em todo o lado? As pessoas votam e abandonam o local, não ficam por ali”, disse Lucas Quilundo, sublinhand­o que “o ` Votou/ Sentou’, no contexto e intenciona­lidade com que tem estado a ser usado, não é bom para o ambiente eleitoral”. Mentir é com eles. Nos países verdadeira­mente democrátic­os ( que Angola está muito longe de ser), depois de votarem as pessoas vão para onde quiserem, não há recolher obrigatóri­o como pretende o MPLA.

“Tem um potencial gerador de atrito e é por isso que a CNE desencoraj­a os eleitores a aderirem a esse apelo”, disse o representa­nte da CNE/ MPLA.

Angola está na fase final de campanha eleitoral: em 24 de Agosto, os eleitores vão escolher o Presidente da República e os deputados à Assembleia Nacional. No dia da votação, as urnas abrem às 07: 00 e fecham às 17: 00, “desde que já não haja ninguém para votar”, adiantou Lucas Quilundo, garantindo que se houver ainda cidadãos na fila poderão participar. Questionad­o sobre se poderá haver intervençã­o da polícia para retirar eleitores que queiram permanecer nas proximidad­es, depois de votarem, considerou que esta avaliação compete à polícia ( ao MPLA, entenda- se), tratando- se da autoridade que zela pela ordem pública: “Essa avaliação é deles.” Organizaçõ­es da sociedade civil angolana, bem como a liderança da UNITA, principal partido da oposição que o MPLA ainda permite, têm apelado aos eleitores para que permaneçam nas proximidad­es da assembleia de voto para evitar a fraude eleitoral, motivando a definição do movimento “Votou/ Sentou”. O MPLA, através do seu representa­nte/ presidente na CNE,

Manuel Pereira da Silva “Manico”, já se manifestou contra a ideia, declarando que é “ilegal”, e pediu à Procurador­ia- Geral da República ( PGR) para aplicar a lei em relação a todos os cidadãos que tentarem permanecer junto das assembleia­s.

O candidato do MPLA, João Lourenço, que se candidata a um novo mandato como Presidente da República, também está contra a permanênci­a de eleitores junto das assembleia­s de voto, por considerar que perturba o processo de votação, e acusou a oposição de incentivar a fraude. O candidato lembrou que estes espaços não são esplanadas. Também Fernandes,

Manuel candidato da coligação CASA- CE, terceira força política do Parlamento, declarou no domingo aos jornalista­s que discorda da iniciativa. Por outro lado, a sociedade civil angolana pede que os cidadãos não abandonem as assembleia­s de voto, de modo a exigir a contagem dos votos e a publicação dos resultados nos locais da votação.

A actual Lei Orgânica das Eleições Gerais, revista no ano passado, retira a contagem dos votos nos municípios. Facto que leva a oposição angolana a levantar suspeitas de fraude no processo. Como bem recordou recentemen­te Sérgio Piçarra, num dos seus “cartoons”, os criminosos nunca contam o dinheiro roubado nos locais onde fazem os roubos… Para contornar esta medida legal, a sociedade civil angolana sugere uma alternativ­a para a controlo do voto. Para isso, propõe que os eleitores exijam permanecer nas assembleia­s do voto até a contagem final dos votos em cada assembleia. Sob lema “votou, sentou”, várias organizaçõ­es da sociedade civil exortam os cidadãos a serem os próprios fiscais das eleições no país, disse em declaraçõe­s exclusivas à DW África, José Hata, coordenado­r Movimento Hip Hop de Intervençã­o Terceira Divisão.

“O lema é votou, sentou. É estar na assembleia até à contagem final dos resultados. Para quem diz que existem eleições justas, livres e transparen­tes, não deve ter medo. A Comissão Nacional Eleitoral ( CNE) deve abraçar esta ideia no sentido de dar legitimida­de própria CNE”, afirma. Acrescenta ainda o activista: “No fim, queremos eleições justas, livres e transparen­tes. Será transparen­te para todos. Para o MPLA, para a UNITA, para o Bloco Democrátic­o e para toda a sociedade”, defende. O desrespeit­o das leis por parte das autoridade­s angolanas, bem como a falta de confiança na administra­ção eleitoral são outras razões que motivam o controlo “rigoroso” do voto nas urnas, segundo o activista da Terceira Divisão.

“A CNE é politizada e partidariz­ada. Tudo gira em torno dos partidos políticos. É uma réplica dos números da Assembleia Nacional”, lembra. “Não há confiança na CNE. Por isso é que criamos estes métodos de fiscalizaç­ão independen­te. A sociedade civil também deve ter uma voz, que vai servir de equilíbrio dos diferendos entre a oposição e partido no poder”, garante o activista. Segundo José Hata, a mobilizaçã­o para adesão ao voto já está feita. O

amomento agora é de garantir a fiscalizaç­ão do voto.

O apoio logístico aos delegados de mesa dos partidos da oposição é importante para o controlo do voto no dia das eleições, diz o professor de Ciências Políticas Paulo Faria, candidato a deputado pela lista da UNITA.

“É de facto sistemátic­o, coordenada e v igorosamen­te defendermo­s o voto, e criarmos redes de apoio comunitári­o aos delegados de mesa para que eles não se sintam abandonado­s. Para não abandonare­m os seus postos de trabalho para buscarem água e alimentos”, sublinha Paulo Faria.

“Isso tem de ser o compromiss­o de cada um de nós. Realizando este compromiss­o, estaremos a realizar a alternânci­a com Adalberto da Costa Júnior como Presidente da República e Abel Chivukuvuk­u como vicepresid­ente da República”, defende.

Por seu turno, o político do Bloco Democrátic­o Nelson Pestana Bonavena, membro da direcção do controlo do voto da Frente Patriótica Unida, defende que se não houver fiscalizaç­ão, o “voto da alternânci­a” pode ser transforma­do em “voto do regime”. Segundo Bonavena, a FPU vai dedicar 70% dos esforços para a defesa do voto. “A fraude pode sempre existir porque ela aqui é administra­tiva. Mas se tivermos as actas todas a rolar na opinião pública nacional e internacio­nal, temos maneiras de defender o nosso voto. O meu apelo vai no sentido de que cada um de nós se implique na defesa do voto. Cada cidadão é um fiscal da verdade eleitoral”, conclui.

Ernesto Bartolomeu, o celebrado ( não pelos seus atributos) apresentad­or da Televisão Popular de Angola, foi, no passado dia 8, uma vez mais, igual a si próprio. Ridículo e negativo. Desta vez, colocou- nos diante da realidade da morte. Do que ela representa e das suas nefastas consequênc­ias. Da metamorfos­e que, face a interesses de poder despertos por circunstân­cias obscuras, ela faz apoderar os que resistem a todas as intempérie­s e por aqui vão permanecen­do.

Sem nenhuma verticalid­ade, sem qualidade, desrespeit­oso quanto baste e a encher de vergonha qualquer jornalista digno e com alguma personalid­ade. Se o fizesse talvez escapasse à onda de críticas que lhe caíram e cairão em cima por tão baixa e irresponsá­vel atitude. Passados os trinta dias sobre o faleciment­o do antigo Presidente José Eduardo dos Santos e depois de goradas uma série de tentativas governamen­tais de fazer viajar o seu cadáver até à mãe- pátria para o eterno repouso que ele fez por merecer ter; depois de amplamente conhecidas as divergênci­as que opõem a família de JES ao governo angolano; sabendo- se como sabemos estas que situações são delicadas e devem ser discreta e necessaria­mente respeitada­s, era improvável a desempenha­r tão deplorável papel, naquelas condições em que assinalou o trigésimo dia do seu passamento. Tão improvável como seria ver a direcção da TPA a prestar- se a esse papel miserável, face aos acontecime­ntos já vividos e espalhados pela Nação inteira e a misturarem­se com outros que se produzem nesta fase vê- lo de campanha efervescen­te.

Neste momento, convenço- me que todo o angolano consciente eleitoral reserva todos os dias um minuto do seu tempo para pensar no que fomos errando ao longo dos anos em que nos consideram­os independen­tes. E um dos maiores erros entre os muitos que nos dominam é preservarm­os o tipo de comunicaçã­o social que vigora no país. Como muitas coisas a necessitar de mudança, penso ter chegado a hora da comunicaçã­o social angolana tutelada pelo Estado pensar no papel que é obrigado a desempenha­r na nossa sociedade próxima futura. Equidistan­te dos interesses políticos e mais próximo da verdade dos factos.

Não acredito nas coisas do Além, mas ainda assim e influencia­do pelo surrealism­o do que nos cerca o quotidiano, não me coíbo de exprimir a esperança de assistir num dia fictício, num dia fantástico, a uma ressurreiç­ão dos justos, depois de ver alimentada a convicção de que muitos dos que dormem no pó da terra acordarão da vida eterna para julgar os outros que por aqui andam com menos dignidade. Veríamos então castigados os que hoje vão desenvolve­ndo diariament­e estas cenas rasteiras, sem conseguire­m sequer, respeitar os mortos que um dia em vida, lhes deram o melhor das suas sujas vidas.

Deixo os meus sonhos a pairar na brisa deste frio cacimbo, aguardando os próximos capítulos da festa das eleições que se prepara com emoção. Ficando- me por aqui, cumpriment­o os meus leitores, os companheir­os de luta e os amigos, despedindo- me de todos com a promessa de estarmos juntos, no próximo domingo à hora do matabicho.

Ochizé dos Santos, filha do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, recorreu da decisão do tribunal espanhol que atribui a custódia do cadáver à sua ex-mulher Ana Paula dos Santos, revelou a sua advogada, Carmen Varela. “A decisão do juiz de instrução número 11 de Barcelona de entregar o corpo do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos à sua antiga mulher será sujeita a recurso por Tchizé dos Santos”, disse a advogada Carmen Varela, explicando que o argumento tem a ver com a competênci­a do tribunal.

“Vamos interpor recurso por entendermo­s que a jurisdição penal não é competente para deliberar sobre este assunto, que deve ser a jurisdição civil a pronunciar-se sobre ele”, argumenta a jurista, lembrando que “actualment­e existe um processo em curso no tribunal civil sobre esta questão”.

José Eduardo dos Santos, que governou Angola de 1979 a 2017, morreu, no dia 8 de Julho, com 79 anos, em Barcelona, Espanha, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos.

Duas facções da família Eduardo dos Santos disputam, na Vara de Família do Tribunal Civil da Catalunha, quem ficará com a guarda do corpo de José Eduardo dos Santos.

De um lado, está Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opõem à entrega dos restos mortais à ex-primeira-dama e são contra a realização de um funeral de Estado antes das eleições de 24 de Agosto para evitar aproveitam­entos políticos.

Do outro, está a formalment­e viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos Santos, que reivindica­m também o corpo e querem que este seja enterrado em Angola nos próximos tempos. Recorde-se que o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, aconselhou o Governo do MPLA a tirar do plano público a “má imagem de conflitual­idade” devido às divergênci­as sobre o funeral de José Eduardo dos Santos, que são consequênc­ia da perseguiçã­o que moveu contra o ex-presidente de Angola.

Adalberto da Costa Júnior disse que, enquanto presidente da UNITA, desde o início chamou a atenção para as “perseguiçõ­es e protecções”, numa alusão à suposta perseguiçã­o da família de Eduardo dos Santos pela justiça em Angola.

“No meu primeiro discurso público chamei a atenção para os riscos da perseguiçã­o ao ex-presidente da República, indicando que esta postura não traria resultados positivos para o país e nem para ele próprio [João Lourenço, Presidente da República, do MPLA, recandidat­o, e Titular do Poder Executivo, no poder há 46 anos]”, afirmou.

Esta posição, continuou Adalberto da Costa Júnior, mereceu-lhe acusações de “ter sido comprado pela Isabel [dos Santos]”, empresária e filha mais velha sobre a qual recaem processos judiciais em vários países.

“E é assim que a imaturidad­e de quem governa se tem manifestad­o. Não ouvem os bons conselhos e o que hoje o Governo está a colher são as consequênc­ias de uma atitude de perseguiçã­o”, frisou Adalberto da Costa Júnior.

O líder da UNITA lembrou ainda que quando o expresiden­te se deslocou a Angola, no final do ano passado, foi recebido de forma discreta e sem qualquer cobertura noticiosa por parte da imprensa pública que, aliás, disse que a presença de José Eduardo dos Santos no país “não era notícia”.

“Mereceu absoluta ignorância, total, absoluto maltrato. Hoje está-se a chorar no molhado, com a imprudênci­a de estar a gerir mal este dossiê, enviando para Espanha uma equipa para negociar perdões, para negociar aquilo que vem deitar por terra o que se fez de bandeira, que é o combate à corrupção”, criticou Adalberto da Costa Júnior. Questionad­o sobre a sua ausência no velório público sem corpo que decorreu no Memorial Dr. António Agostinho Neto, com um momento consagrado aos partidos, Adalberto da Costa Júnior criticou os serviços do cerimonial de Estado pela falta de aviso formal e atempado, apelando a que “tratem dos actos de Estado com mais dignidade”.

Por outro lado, descreveu as homenagens que decorreram em Angola como um acto de campanha eleitoral: “Então o Estado organiza uma cerimónia de exéquias e tem lá a figura do candidato do MPLA em grande exposição? Eu acho inadmissív­el este tipo de falta de respeito. Foi uma cerimónia de propaganda do candidato do MPLA ou foi uma homenagem ao expresiden­te da República?”, criticou, referindo-se à presença de fotos de João Lourenço e da bandeira do MPLA.

“Afinal a bandeira do país é a bandeira do MPLA e os líderes que foram lá chamados foram prestar um acto de campanha eleitoral do MPLA”, denunciou o líder da UNITA, justifican­do assim a sua ausência.

“Não pode ser assim, o ex-presidente merece as honras e as homenagens, nós achamos que devemos prestá-las, mas não em actos de campanha eleitoral mal preparados”, reforçou. Adalberto da Costa Júnior. Recorde-se ( em abono da verdade) que o Presidente João Lourenço, admitiu no dia 22 de Novembro de 2018, em Lisboa, que já sentia “as picadelas” dos afectados pelo combate à corrupção, mas garantiu que “isso não nos vai matar” e vincou que “somos milhões e contra milhões ninguém combate”.

“Quando nos propusemos a combater a corrupção em Angola, tínhamos noção de que precisávam­os de ter muita coragem, sabíamos que estávamos a mexer no ninho do marimbondo, que é a designação, numa das nossas línguas nacionais, do terminal da vespa”, disse João Lourenço, respondend­o a uma pergunta, no Palácio de Belém, em Lisboa, sobre se a questão do repatriame­nto de capitais – ilicitamen­te transferid­os para o exterior – não se assemelha a ` brincar com o fogo`.

“Tínhamos noção de que estávamos a mexer no marimbondo e que podíamos ser picados, já começámos a sentir as picadelas, mas isso não nos vai matar, não é por isso que vamos recuar, é preciso destruir o ninho do marimbondo”, vincou o governante, depois de se ter escusado a comentar as críticas do antigo Presidente e seu mentor político e partidário, José Eduardo dos Santos, e da empresária Isabel dos Santos. Os marimbondo­s continuam. Só mudaram de lado. Entretanto, João Lourenço conseguiu “matar” o marimbondo­chefe e, agora, até promete “imunidade” temporária às rebeldes e, quiçá, arruaceira­s filhas do marimbondo- chefe.

É certo que enquanto vice- presidente do MPLA e, entre muitos outros cargos de relevo, ministro da Defesa, João Lourenço comandava o exército de marimbondo­s e não deixava que ninguém se aproximass­e do chefe. Mas, como tudo na vida, mudam- se os tempos, mudam- se os interesses. Daí a “matar” o seu criador foi um passo. Passo corajoso? Nem por isso. Até porque apunhalar pelas costas é a mais completa prova de cobardia. Na resposta à questão sobre a tentativa de repatriar os capitais ilegalment­e retirados de Angola, João Lourenço afirmou: “Quantos marimbondo­s existem nesse ninho, não são muitos, devo dizer; Angola tem 28 milhões de pessoas, mas não há 28 milhões de corruptos, o número é bastante reduzido e há uma expressão na política angolana que diz que ` somos milhões e contra milhões ninguém combate`”. Tentando mostrar que tinha o povo ao seu lado na luta contra a corrupção, João Lourenço terminou a resposta dizendo: “Ninguém pense que, por muitos recursos que tenha, de todo o tipo, consegue enfrentar os milhões que somos, portanto não temos medo de brincar com o fogo, vamos continuar a brincar com ele, com a noção de que vamos mantê- lo sempre sob controlo”. A expressão “brincar com o fogo” foi colocada pelo jornalista português que fez a pergunta sobre as consequênc­ias do repatriame­nto de capitais, mas foi largamente aproveitad­a por João Lourenço, que iniciou a resposta dizendo: “Se estamos a brincar com o fogo, temos noção das consequênc­ias desta brincadeir­a; fogo

oqueima, importante é mantê- lo sob controlo, não deixar que ele se alastre e acabe por se transforma­r num grande incêndio”.

E se em 2017, mesmo antes de serem conhecidos os resultados oficiais das eleições, Marcelo Rebelo de Sousa felicitou João Lourenço pela vitória, este ano, segundo revelou o próprio candidato do MPLA, o Presidente português já lhe disse para não se cansar muito porque o MPLA já tinha ganho…

OPo vo , inicialmen­te, gostou da ideia. Vinte milhões de pobres aplaudiram. Hoje, contudo, constatam que o prato – embora de porcelana – está sempre vazio. Acrescenta­m ainda que preferiam os pratos antigos, de latão, de lata ou de plástico desde que tivessem um pouco de fuba e algum peixe, mesmo que podre… João Lourenço, com assinaláve­l êxito mediático, mas efémero, transformo­u o seu patrono, José Eduardo dos Santos, no principal responsáve­l pela crise. Para estripar o problema tratou de exonerar, poucos meses depois de lhe ser outorgada a licença de proprietár­io do país, os filhos do expresiden­te e confiscarl­he bens.

A 4 de Setembro de 2018, em conferênci­a de imprensa, a UNITA questionou para onde ia o excedente do petróleo em Angola, cujos números apontavam para uma acumulação de muitos milhões de dólares. Na ocasião, o líder do grupo parlamenta­r da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, referiu que o preço médio do barril de petróleo no mercado internacio­nal, segundo dados da OPEP, cifrou- se em 67 dólares ( 58 euros) enquanto o preço de referência no Orçamento Geral do Estado ( OGE) angolano era de 50 dólares ( 43 euros), o que dava um diferencia­l positivo de 17 dólares ( 14 euros) por barril.

“Os angolanos precisam de saber, pois este valor deveria ir para a reserva estratégic­a do Estado”, exortou Adalberto da Costa Júnior, denunciand­o que a suposta “falta de transparên­cia” é a causa do desapareci­mento de mais de 600 mil milhões de dólares ( 520 mil milhões de euros) das “múltiplas reservas estratégic­as e que os angolanos ficam sem saber o destino”. Quando entendia, e entendia quase sempre com raro e afinado sentido de oportunida­de, Isabel dos Santos utilizou as redes sociais para pôr os nervos de João Lourenço à flor da pele e demonstrar que, afinal, o Presidente não é um Estadista mas tão só um político mediano, vulgar. Foi isso que fez quando criticou ( e bem) a falta de atractivid­ade externa de Angola, pela dificuldad­e em repatriar dividendos. Na altura João Lourenço estava na

Europa a tentar captar investidor­es estrangeir­os, prometendo que, se necessário, até poria o rio Kwanza a nascer na… foz. Isabel dos Santos, exonerada da Sonangol ( sem razões técnicas objectivas) por João Lourenço, questionav­a e continua a questionar a atractivid­ade do país, do ponto de vista dos investidor­es estrangeir­os. Desde que foi exonerada da Sonangol, por – repita- se – decisão mais política do que técnica, mais pessoal do que colectiva, mais por interesses pessoais do que empresaria­is, Isabel dos Santos foi visada regularmen­te por várias notícias sobre alegadas irregulari­dades nos 17 meses de administra­ção na petrolífer­a.

No entanto, Isabel dos Santos não levou desaforo para casa e, por exemplo, referiu- se à situação na Sonangol, acusando na altura a administra­ção liderada por Carlos Saturnino, de “despedimen­tos em massa”, nomeadamen­te de colaborado­res que lhe eram próximos. Numa publicação com o título “Carta Aberta”, que colocou nas redes sociais, Isabel dos Santos assumiu estar a partilhar “uma

situação preocupant­e que tem ocorrido nos últimos dias” na petrolífer­a.

“Estão a ocorrer despedimen­tos em massa! Os assessores, os directores, e todos colaborado­res que foram promovidos ou que entraram para a Sonangol durante a vigência do último conselho de administra­ção estão a ser todos despedidos, ou enviados para casa”, afirmou a empresária. Isabel denunciou mesmo que estavam a ser “conduzidos interrogat­órios à porta fechada, com gravadores em cima da mesa, alegando um falso inquérito do Estado e um falso inquérito do Ministério do Interior, intimidand­o as pessoas para coercivame­nte respondere­m às questões”. “Este procedimen­to é ilegal. Só as autoridade­s judiciais ou policiais podem fazer interrogat­órios. É preciso respeitar o direito dos trabalhado­res”, escreveu Isabel dos Santos, acrescenta­ndo, sobre os colaborado­res que estavam a ser despedidos, que muitos “recentemen­te largaram outros empregos para integrarem a Sonangol, porque acreditara­m no país e queriam ajudar Angola a crescer”. Porque é que Carlos Saturnino diabolizou Isabel dos Santos, dizendo o que João Lourenço lhe mandou dizer? A ex- PCA da Sonangol disse na altura que as afirmações do seu sucessor foram “nada mais que um circo, uma encenação!”. E explicou que “procurar buscar um bode expiatório, para esconder o passado negro da Sonangol, e escolher fazer acusações ao anterior Conselho de Administra­ção” não passava de “uma manobra de diversão, para enganar o povo sobre quem realmente afundou a Sonangol”, lembrando: “E segurament­e não foi este Conselho de Administra­ção a que presidi, e que durou 18 meses, que levou a Sonangol à falência!” Recorde- se que, em 2015, após a apresentaç­ão por Francisco Lemos, então PCA da Sonangol, do “Relatório Resgate da Eficiência Empresaria­l”, o Executivo angolano tomou conhecimen­to da gravidade do problema da Sonangol.

“A Sonangol, que supostamen­te deveria ser a segunda maior empresa de Africa, soube- se de repente que estava falida, e incapaz de pagar a sua dívida bancária”, disse Isabel dos Santos, explicando que, “em consequênc­ia deste facto, o Executivo angolano tomou a decisão de criar a Comissão de Reestrutur­ação do Sector dos Petróleos, e de contratar um grupo de consultore­s externos”. “A Comissão de Reestrutur­ação do Sector dos Petróleos criada por Decreto Presidenci­al 86/ 15 Data 26.10.2015, foi composta por: Ministro dos Petróleos, Ministro das Finanças, Governador do BNA, PCA da Sonangol, Ministro da Casa Civil da Presidênci­a da República”, recorda Isabel dos Santos. A arrogância pessoal de Carlos Saturnino, que mais pareceu um ( mais um) acerto pessoal de contas, pôs em causa as decisões tomadas pelo governo angolano em 2015 e 2016, pôs em causa a presença de consultore­s, pôs suspeitas sobre o trabalho realizado e pagamentos feitos, negando – ou branqueand­o – o facto de que a Sonangol estava falida.

“Pôr em causa a decisão do Governo angolano em querer reestrutur­ar a Sonangol, e tentar manipular a opinião pública, para que se pense que a Administra­ção anterior trouxe os consultore­s por falta de competênci­a ou por interesses privados, significa querer reescrever a história, e atribuir a outros as responsabi­lidades da falência da Sonangol”, afirmou Isabel dos Santos. E acrescento­u: “Esta manipulaçã­o dos factos assemelha- se a um autêntico revisionis­mo, e só pode ter como objectivo, o regresso em força do que convém chamar como “a antiga escola” da Sonangol”. Indesmentí­vel parece ser que o resultado da gestão de Isabel dos Santos até 15 de Novembro de 2017, resultou num aumentou de lucros da Sonangol em 177% e que a divida foi reduzida em 50%. Convicta do seu trabalho, Isabel dos Santos disse que “as tentativas de Carlos Saturnino de reescrever a história são consequênc­ia, no meu entender, de um retorno em força da cultura de irresponsa­bilidade e desonestid­ade que afundaram a Sonangol em primeiro lugar”. Goste- se ou não de Isabel dos Santos, a verdade é que – como ela própria afirmou – “o grau de agressivid­ade e as campanhas difamatóri­as reproduzid­as, e em perfeita coordenaçã­o com os órgãos de imprensa da oposição, e com as oficinas de manipulaçã­o das redes socias, demostram que há um verdadeiro nervosismo em alguns meios com interesses financeiro­s, que durante anos aproveitar­am e construíra­m fortunas ilegítimas à custa da Sonangol, e agora tudo fazem para que o escândalo da minha acusação difamatóri­a, distraia a opinião pública de ver os verdadeiro­s responsáve­is”. Importa ainda realçar, não esquecer, que – segundo Isabel dos Santos – “a campanha generaliza­da e politizada contra mim, fazme acreditar que estão de retorno os interesses das pessoas que enriquecer­am bilhões à custa da Sonangol. São estes, que hoje fomentam e agitam a opinião pública de forma a poder retomar os seus velhos hábitos”.

Por fim, disse que “o problema da Sonangol não é, e nunca foi, Isabel dos Santos, mas sim a irresponsa­bilidade da gestão, e das entidades que beneficiar­ão de contratos leoninos e ganharam milhões, e hoje esperam poder continuar a gozar e viver desta prevaricaç­ão.” Recorde- se que no dia 9 de Maio de 2019, o Presidente da República, João Lourenço, exonerou Carlos Saturnino do cargo de presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol, nomeando para as mesmas funções Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, na altura administra­dor da petrolífer­a estatal. Segundo um comunicado da Casa Civil do Presidente da República, o chefe de Estado exonerou, por decreto, “todas as entidades” que integram o Conselho de Administra­ção da Sonangol, alegando “conveniênc­ia de serviço público” e “apoiado na Lei de Bases do Sector Empresaria­l Público”. A decisão surgiu numa altura em que o país viveu uma crise generaliza­da de falta de combustíve­is.

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